Capítulo 2

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Todos falavam sobre o baile no dia seguinte. Era o único assunto da casa e nas ruas. Tal qual, minha mãe afirmou dezenas de vezes que havia sido um sucesso, e se orgulhou dos números de rapazes que me tiraram para dançar. Já meu pai, ficou quieto na maior parte do dia.

À Tarde, tomei chá com Charlotte, que estava ansiosa para falar sobre o baile e dos rapazes com quem dançou. Estava tão tagarela que eu não consegui falar mais que dez palavras com ela, só concordava com a cabeça ou com sorrisos. Essa era a Charlotte, sempre falante. O "ponto alto" de seus comentários era do quanto ela foi bem avaliada pelos rapazes, sendo vaidosa, como sempre.

Uma coisa sobre a minha melhor amiga é que ela sempre se preocupa com a sua aparência. Comia pouco, comprava vestidos caros que geralmente vinham do exterior, e ainda tinha cuidados extremos com a pele, unhas e cabelos. Nunca conheci ninguém com tanta vaidade como ela, que eu já a considerava muito bonita, e sua beleza sempre se fez ser notada por onde quer que passasse. Eu queria ser como ela, mas acredito que tive sempre preguiça de fazer mais do que já fazia por pressão da minha mãe.

— Esqueci-me de te contar. Lembra-se do meu irmão Arthur? Ele voltou para Beaconsfield e esteve no baile. No entanto, eu estava tão tensa com tudo, que me esqueci de te dizer. — Comenta. — Perdoe-me pelo meu esquecimento.

— Tudo bem, Charlotte — Toquei sua mão para tranquilizá-la — E isso é ótimo. Já faz algum tempo que não o víamos. Ele mudou muito?

— Eu não o reconheci. Ele está mais... masculino. Não sei como explicar, mas está totalmente diferente. Meu pai diz que uma vez que é um oficial da Marinha, nunca mais é a mesma pessoa.

— Espero que ele fique muito tempo com a família. A tia Caroline sempre se lamentava com a sua ausência.

— Mamãe disse ontem que vai prendê-lo em casa.

— Não duvido.

Rimos juntas, quase derrubamos nossas xícaras.

— Meu pai dará um baile pela volta de Arthur, que deve acontecer muito em breve. Isso irá oficializar minha apresentação para a sociedade. — Ela conta, colocando sua xícara na pequena mesinha de centro.

— Outro baile em Beaconsfield? Isso atrairá bastante atenção para a sua família, Charlotte.

— O que não é nada ruim.

— Claro. — Concordei.

— Lembra-se de Benjamin?

— O melhor amigo do Arthur? Sim, lembro-me muito vagamente. Eu o vi uma ou duas vezes, e já faz muito tempo.

— Ele também voltou da Marinha, mas ainda não o vimos. Arthur disse que ele foi para Bournemouth, com outro amigo. Eles estiveram no baile, parece.

— É uma pena que não os vimos. Espero que apareçam no próximo baile.

— É, eu também espero.

Mudamos de assuntos, atrelados às novas fofocas. O passatempo preferido de Charlotte. Por mais que eu tente alertá-la de que é um mau comportamento falar da vida alheia, não adianta, e passei a me acostumar a ouvi-la dar as "novidades", sempre com um "nem te conto".

As tardes de Beaconsfield são graciosas. O ar fresco lançados pelas árvores e o cheiro de terra fértil eram tão reconfortantes que fiz sempre questão de tomar chá com Charlotte quase que diariamente, só para poder andar pela cidade antes de voltar para casa. O meu local preferido é a ponte do centro que leva para o vilarejo próximo. É tão tranquilo e silencioso, mas ficar tanto tempo nela poderia dar uma ideia errada a quem passava. Mas sempre que está deserto, eu fico algum tempo ali, refletindo sobre tantas coisas e sobre mim.

BelineWhere stories live. Discover now