Capítulo 17

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    Descobri que Sr. Thomas estava em Beaconsfield. George, que não sabia absolutamente nada sobre o que aconteceu entre nós, se adentrou na sala contando que o viu andando pelas ruas, aparentemente abatido. Julgou que a causa do estado dele fosse a morte prematura da Sra. Lancaster. Eu também quis acreditar que fosse isso, ou ele era mais alguém magoado com a minha decisão.

— Eu o chamei, mas ele não me ouviu. Estava distante e abatido. — Continuava George.

— A Sra. Lancaster foi uma mulher muito forte e corajosa. Eu soube que ela enfrentou a doença com tanta força que deixou muita gente espantada. — Comentou minha mãe, enquanto agitava seu chá com a colher. — Eu a vi apenas duas vezes em algumas ocasiões, mas não tive oportunidade de fazer parte do seu círculo, que foi sempre  restrito. Entendo perfeitamente como este cavalheiro deve estar se sentindo. — Ela suspirou.

— Ouvi dizer que ele estará presente no casamento da nossa Beline. — Completou George.

— Ele está sendo muito educado. Admiro muito este rapaz. — Minha mãe disse, olhando para mim e George.

Sabendo que Sr. Thomas estava na cidade, evitei passear pelo jardim central. Eu tinha certeza de que o encontraria. Evitei, então, sair de casa. A sua rejeição ainda me magoava e doía no meu peito. Eu não queria pensar em nada disso enquanto me preparava para me casar com outro homem.

A família de sir Benjamin nos convidou para um jantar, coisa que foi adiada algumas vezes. Escolhi o melhor vestido, o azul-claro, que a modista considerou o mais lindo que fizera até aquele momento.

Minha mãe estava tão nervosa que já era seu quinto chá de camomila, e ainda não se acalmava de jeito algum. Parecia até que era ela quem estava se casando. Acreditei que a ausência do meu pai era a causa maior do seu nervosismo. Louis estaria substituindo nosso pai, mas ainda assim, sentíamos a sua falta.

O castelo dos Halfenaked parecia ter saído dos contos de fadas que eu lia quando era criança. Os belos jardins me chamaram mais a atenção. Fomos recebidos na sala principal e o jantar foi servido em uma hora.

— Fico feliz com a escolha do meu filho pela jovem. Ela é encantadora. — Comentou a Sra. Halfenaked, enquanto cortava sua carne de cordeiro no prato delicademente trabalhado pela melhor cerâmica da cidade, com lindas linhas azuis na borda com curvas finas de uma outra em tom dourado. 

— Fico grata com seus elogios, senhora. — Eu disse, evitando contato visual com sir Benjamin, que me observava.

— Só ouvimos coisas boas sobre a senhorita. — Sr. Halfenaked contou. — Benjamin não fez questão de avaliar outras moças. Pelo visto, ele teve olhos somente para a senhorita. — completou.

Eu resumi minha resposta em apenas um sorriso forçado. Sentia vontade de sair dali correndo, mas não podia fazê-lo. Queria gritar, chorar, voltar para casa e me trancar no quarto, e nada disso eu poderia fazer.

No meio do jantar, para a nossa, surpresa, Sr. Thomas apareceu.

— Desculpem pelo atraso, senhores. Eu realmente lamento. — Ele disse.

— Tudo bem, querido. — Dissolveu a Sra. Halfenaked.

Colocaram mais um prato para ele, e uma cadeira, ao meu lado. Eu tremia tanto que temi que os outros desconfiassem. Louis, com um olhar, conseguiu me acalmar.

— Srta. Wrigert...

Olhei para ele, como se não acreditasse estar ali, ao meu lado.

— Sr. Lancaster, como tem passado?

— Bem, obrigado.

Limitamo-nos a sorrir um para o outro, o que acabou chamando a atenção de sir Benjamin. Com isso, tentamos disfarçar tudo o que sentíamos um pelo outro pelo restante da noite, e foi intensamente desconfortável para ambos.

Eu soube que sir Benjamin o escolheu para ser seu padrinho de casamento, me causando uma série de emoções.

Ofereceram um café após o jantar. Sir Benjamin se isolou com George, Leo e Louis no escritório, excluindo Sr. Thomas, que parecia não estar surpreso. Mas aquilo me deixou constrangida por ele.

Ao irmos embora, Sr. Thomas, secretamente, me entregou uma carta. Escondia-adentro do meu vestido. Olhei-o em despedida, com a certeza de que só o veria novamente no meu casamento.

Chegando em casa, fui direto para o quarto, mas Louis me seguiu até lá.

— Precisamos conversar, minha irmã.

— O que foi?

— Tive uma conversa com seu noivo. Ele... parece perceber o que há entre você e o Sr. Thomas. Neguei que houvesse algo entre vocês, mas me senti mal por ele.

— Ele desconfia de nós? Do Sr. Thomas e eu?

— Sim. Aquilo, durante o jantar, os olhares e sorrisos... Ele notou. Eu garanti que vocês são apenas bons amigos, mas não tenho como negar que haja algo mais entre vocês.

— Eu o entendo, e sinto muito...

— Minha irmã, precisa me dizer se ainda quer continuar com este casamento.

— Mesmo que eu não quisesse, não posso voltar atrás, Louis. Não posso decepcionar sir Benjamin e sua família. Depois deste jantar, eu tive a certeza de que jamais posso magoá-los.

— Ah, minha irmã...

— Não lamente, eu ficarei bem, Louis.

Ele beijou minha testa e se despediu.

Puxei a carta de Sr. Thomas do meu vestido. Olhei-a por alguns segundos, decidindo se a leria ou não. Pensei em Sir Benjamin, na sua generosidade e gentileza, e da confiança que deposita em mim. Decidi que não leria, por respeito ao meu noivo e à sua família. Guardei-a na gaveta da minha pequena cômoda de escrita.

No dia seguinte, minha mãe e eu fomos à modista para os últimos ajustes de nossos vestidos. Experimentei meu vestido de noite, olhando-me no espelho por um longo tempo.

— Você parece uma princesa, querida. — Elogiou minha mãe, querendo chorar. — Se seu pai estivesse aqui, estaria orgulhoso de você.

— Sinto falta dele.

— Sentimos, minha filha! Mas saiba que ele estará no seu casamento de outras formas. Tenho certeza que ele estará presente.

Olhei mais uma vez para mim mesma, desejando que fosse abençoada por meu pai, onde quer que ele estivesse. Tinha certeza de que ele aceitaria sir Benjamim sem questionamentos. E se ele soubesse que amo outro homem? Ele abençoaria a minha decisão da mesma forma? Eu tinha dúvidas quanto a isso e, parte de mim, acreditava que meu pai tentaria me persuadir a seguir a razão. Outra parte queria acreditar que ele me aconselharia a lutar por Sr. Thomas, mas sei que não faria isso, por diversas razões e por conhecê-lo tão bem como eu conhecia.

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