Capítulo 12

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  Desde o baile de Louis e Olívia, onde Sr. Thomas e eu dançamos outras vezes, nós não nos vimos mais. Eu soube que ele havido partido para Londres e que, possivelmente, voltaria para a base de lá, sem passagem em Beaconsfield. Fiquei tão entretecida que me faltou o apetite e a vontade de viver. Pensei que o baile havia nos aproximados, e que ele até me cortejaria.

Estava ainda mais decidida a não aceitar sir Benjamin, que havia marcado sua visita para oficializar o pedido, que fez a Louis, meu irmão, para se casar comigo.

— Chegou algo para a senhorita. Disse Amélia, que me entrega um envelope em uma bandeja prateada.

— Obrigada, Amélia.

Ela se retira, e eu olho para o envelope endereçado a mim, com letras corridas e fortes, numa cursiva decidida e, simultaneamente, melancólica. Abro-o com o coração agitado.

" Querida e doce Beline.

É com pesar e tristeza que precisei partir para Londres. Responsabilidades me chamam e minha família precisa de mim. Perdoe-me por não me despedir da senhorita.

Como já trocamos confidências, quero lhes contar que foi um prazer tê-la como companhia no último baile em Colleshill, e há muito tempo eu não me divertia. Tudo isso foi graças a senhorita, que com sua generosidade e compaixão, conseguiu me tirar do escuro, me trazendo luz e alegria. Foi uma honra para mim, conhecê-la mais e ter a certeza de que merece o melhor do mundo.

Com a volta para a base, aceitei o pedido da minha família para passar os últimos dias ao lado deles. Minha mãe se encontra acamada e a trouxemos para cá, em nome de sua saúde. E é um pesar que provavelmente verei a senhorita antes de retomar para o regimento.

Gostaria de lhe desejar os sinceros votos de sua felicidade e alegria, e que tenha um bom casamento com um homem que a mereça e esteja em seu coração.

Até o nosso próximo encontro!

Thomas Lancaster"

Reli a carta inúmeras vezes e agora dentro de mim, queria gritar, implorar com tamanho desespero para Sr. Thomas não partir assim, para o mar. Eu sabia que não voltaria a vê-lo com facilidade se estivesse casada quando ele voltasse novamente.

Eu não poderia me casar com sir Benjamin com outro homem em meu coração. Corri para Colleshill, com a intenção de me explicar ao meu irmão os meus sentimentos. Olívia estava só. Louis havia partido naquela manhã para outra região, resolver problemas pendentes do casarão que reformaram.

— Você parece nervosa. O que aconteceu?

— Preciso falar com meu irmão...

— Ele deve retornar até amanhã de manhã. Você pode pernoitar aqui.

— Eu não posso... perder tempo, minha cunhada. Preciso estar com meu irmão.

— Não há nada que eu possa fazer, querida, e parece que você também não. Sente-se e se acalma. — Ela pediu, apontando para o assento ao meu lado.

Sentei-me e tentei respirar normalmente. Recuperei meu fôlego e a olhei atentamente.

— Preciso me explicar com meu irmão sobre sir Benjamin. Não tenho intenções de aceitar o pedido. Certamente, Louis me questionará.

— Minha doce cunhada, eu acredito que seu irmão a entenderá. Embora ele tenha um enorme respeito por sir Benjamin, compreenderá a sua decisão, seja ela qual for. Meu marido quer apenas a felicidade das pessoas que ele ama, Beline.

— Ainda assim, eu gostaria de me explicar para ele. 

— Então o faça. Passe a noite aqui e o espere. Pedirei que alguém avise sua mãe.

Aceitei a proposta de Olívia e passei a noite no casarão deles. Com a noite fria e tão silenciosa em frente a lareira, Sr. Thomas me veio à mente muitas vezes. A carta que ele me enviara, estava sempre junto a mim, como um lembrete contínuo de que esperava por ele.

— Sem Louis, essa casa fica tão... grande. — Olívia comentou, enquanto bordava à luz da vela para matar o tempo.

— Por que não chamou a mamãe para lhe fazer companhia? Certamente ela adoraria.

— Eu a chamarei outras vezes. É a primeira vez que passo a noite aqui sem meu marido.

— Logo vocês terão uma penca de filhos, e esta casa estará movimentada e barulhenta.

Nós rimos.

Ainda não falamos sobre filhos, mas eu gostaria de ter ao menos dois, um casal. O que vier, eu ficarei feliz. — Ela para o bordado, respirando fundo. — A sua vinda aqui, tem relação com Sr. Thomas?

— Por que acha isso?

— Eu os observei durante o baile e... Vocês formam um casal muito bonito. Pareciam tão apaixonados! Soubemos que ele foi para Londres, por motivos pessoais. Não sei se o veremos de novo, ele voltará para o mar em breve.

— Vocês deram um belíssimo baile, Olívia. Foi maravilhoso. E, entre Sr. Thomas e eu, não há nada além de uma bonita amizade. Não nego que o tenho com um sentimento especial, mas ele não me olha assim... O que quero dizer é que Sr. Thomas tem coisas demais em sua mente, e não há lugar para mim.

— Você o ama, não é?

— O que é o amor, querida cunhada? Não sei se o que sinto é amor, ou apenas uma fuga do meu coração para não me casar com sir Benjamin. Só que quando estou próxima ao Sr. Thomas, parece que meu coração parará de bater a qualquer momento, e ele arranca todo o meu fôlego apenas com o olhar. Isso é normal?

— Acontece quando se está apaixonada.

— Então eu me encontro em desgraça do amor não correspondido.

— Não sei o que fazer.

— Eu diria para confessar-se ao cavalheiro. Dizer-lhe tudo o que sente, antes que vá para longe. E eu lamento com sinceridade que sir Benjamin esteja sendo rejeitado.

— Ele é ótimo para mim, mas eu não o mereço. Não posso me casar com ele enquanto tenho sentimentos por outro.

— Mas não é impossível vir a se apaixonar por ele, com a ausência de Sr. Thomas. Já pensou sobre isso?

— Um pouco.

— Pois pense e não tome nenhuma decisão agora.

No dia seguinte, acordei com o canto dos rouxinóis perto da minha janela. Encontrei Olívia na mesa do desjejum, em completo silêncio, lendo uma página do jornal.

— Bom dia.

— Bom dia, minha querida. Como se sente esta manhã?

— Mais calma. — mas ainda com o coração machucado pela desventura causada pelo meu platônico.

— Assim está melhor. Seu irmão deve chegar nas próximas horas, até lá, podemos fazer algo juntas. O que acha?

— Claro, é uma ótima ideia.

Andamos pela cidade e compramos chapéus novos e tomamos chá. Encontramos algumas pessoas conhecidas de nossos pais e voltamos para o casarão. Louis havia chegado, mas estava no campo resolvendo seus assuntos. Somente após horas veio ao meu encontro. Olívia nos deixou a sós.

— O que a trouxe aqui, minha irmã?

— É sobre sir Benjamin. Eu não posso aceitar...

— Eu já esperava por isso. Você nunca mostrou algum entusiasmo em relação a ele.

Preciso lhe fazer uma confissão, irmão.

BelineWhere stories live. Discover now