Capítulo 15

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  — Eu soube que a senhorita tem vindo para Londres. O que acha daqui?

— Tenho poucas opiniões sobre Londres, Sr. Lancaster, mas afirmo que é um dos lugares de que mais gosto de visitar, por razões particulares. — respondi, evitando seus olhares desconfiados. — Londres tem seus encantos. É um lugar onde tudo é possível acontecer. Gosto da capital na estação do outono. As ruas ficam repletas de folhas secas e amareladas, e se transforma em algo completamente novo com a chegada do inverno. São como nós, que estamos em constantes mudanças internas.

— Vejo que a senhorita é boa com as palavras. Agora percebo o que atraiu meu filho.

O que ele quis dizer?

— Perdão, senhor...

— Thomas é sensível e sempre foi influenciável. Puxou inteiramente à mãe.

— Pai... — Harry, um dos irmãos de Sr. Thomas, interveio.

— Não, eu já tolerei demais algumas escolhas do meu filho. Ele parece não ter ideia das responsabilidades que eu carrego. — Completou.

— Sr. Lancaster, seja o que for o que queira me dizer, devo ressaltar seu filho o respeita e se esforça para lhe agradar e merecer seu afeto. Tomo a liberdade de lhe falar que não é Sr. Thomas quem deveria se esforçar tanto tal. O senhor também fazer um pouco de esforço para compreendê-lo. Ser sensível como ele requer mais coragem do que qualquer guarda real. O Sr. Thomas carrega um peso tão grande quanto o desejo de tornar a relação de vocês mais harmoniosa. E o senhor parece não perceber o quanto ele sofre.

— Lamento desapontá-la, senhorita, mas isso só diz respeito a mim e meu filho.

— E me afronta com críticas a ele, esperando que eu lhe vire as costas? Sr. Lancaster, eu nunca quis ser atrevida com alguém na vida, mas constato a necessidade de lhes abrir os olhos, sem ser desrespeitosa. No entanto, eu não permito que o critique na minha frente.

— A senhorita tem sentimentos pelo me filho? Por isso o defende?

— Amo o seu filho. Eu o amo tanto que jamais conseguirei mensurar tal sentimento.

— Ela a corresponde com o mesmo sentimento?

— Sim.

— E o que farão? Meu filho voltará para o mar. A senhorita pretende esperá-lo?

— Se ele quiser que eu o espere, é o que farei.

— Acho que a senhorita desconhece o passado de Thomas. Outra donzela também ficou esperando por ele...

— Eu já conheço toda a história, sr Lancaster, e não é a algo que me afugente. Não mais.

— Não posso concordar com um relacionamento entre você e meu filho, srta. Wrigert, pelo simples fato de saber como tudo isso termina. — Ele se levanta da mesa — Agora se me permite, eu preciso me retirar. Foi um prazer conhecê-la.

Harry e Oliver, irmãos de Sr. Thomas, o acompanham após se desculparem.

— Jamais imaginei que nossa visita fosse se transformar nisso... — Olívia desabafou, completamente atônica.

— Estou tentando entender o que aconteceu...

— Você e Sr. Thomas, realmente se gostam como eu suspeitei?

— Sim! — Meu sorriso foi recuperado depois daquele susto. — Eu não sei o que acontecerá, Olívia, mas estou entusiasmada.

— Eu não lhe disse! Estive certa o tempo todo.

Louis e Sr. Thomas retornam, surpresos com a ausência do Sr. Lancaster, Harry e Oliver.

— Onde está meu pai?

— Ele precisou se retirar... — respondi.

— Peço desculpas por ele deixá-las...

— Não tem do que se desculpar, Sr. Thomas.

Eles se sentam à mesa e me observam.

— Vocês... conversaram? — eu estava muito curiosa com o resultado da conversa.

— Vocês dois, pelo visto, se gostam muito. Sr. Thomas precisará se ausentar por um tempo, e acho que... precisam decidir querem levar tudo adiante mesmo assim.

O Sr. Thomas pega na minha mão, deixando meu irmão e a mim surpresos.

— Eu queria muito ficar e... proporcionar-lhe tudo o que merece. Por fim, eu sou um homem sortudo por cativar os sentimentos de uma jovem tão espetacular, e posso ratificar ser verdadeiramente recíproco. — Ele suspira. — E devo dizer, é doloroso, só de pensar que a senhorita me esperaria voltar, enquanto poderia construir uma vida, ter tudo o que sonha... Tenho medo de que se arrependa ou mude de ideia no meio desse processo.

— Não mudarei de ideia, e não sonharei com mais nada além com o seu retorno.

— Não posso fazer isso com a senhorita! Eu não... consigo lidar com isso de novo. Por mais que eu a ame e a desejo como somente minha, quero que tenha uma vida plena e feliz. Esperar por mim se tornará angustiante para a senhorita e não quero assistir isso de novo.

— Sr. Thomas...

— Com o coração partido e terrivelmente triste, preciso rejeitar seus sentimentos, srta.Wrigert. Não posso aceitá-los, me desculpe.

Eu não conseguia acreditar no que ouvia, e tudo ao meu redor ficava confuso e doloroso demais.

— O-o quê?

É isso mesmo que você ouviu. E não duvide dos meus sentimentos, eles são realmente genuínos. Mas não posso submetê-la a um sofrimento por minha causa. Espero com toda a sinceridade que tenha uma vida plena e feliz. É tudo o que posso desejar agora.

— Por que está fazendo comigo? Diz que me ama, mas não quer ficar comigo. É a sua última palavra?

Ele fecha os olhos, como se rezasse para aquele momento desaparecer.

É a minha última palavra, senhorita. Não posso propor nada, sabendo que não será feliz. Está é a minha decisão.

Eu não queria ouvir mais nada. Levantei-me e fui embora, sem olhar para trás. Sentia-me tão pequena, tão magoada e quebrada por dentro. Jamais esperei que Sr. Thomas fosse me rejeitar daquela maneira.

Louis e Olívia me acompanharam de volta para o casarão, sem dizer uma palavra. Pareciam desconcertados perto de mim, então me isolei em meu quarto no restante do dia, saindo apenas para jantar e ler um livro no fim da noite, evitando pensar Sr. Thomas. Tentei a todo custo removê-lo dos meus pensamentos, e foi em vão. Eu tinha esperança de que conseguisse esquecê-lo em breve. Pensei que a sua partida fosse facilitar as coisas para mim. 

BelineWhere stories live. Discover now