Capítulo 28

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Assinei o documento declarando que meu marido estava morto pela sua longa ausência. O Sr. Thomas o levou para os meus sogros, para explicar-lhes os motivos. Temíamos que ocorre uma represália.

A resposta dos meus sogros chegou dias depois, e não foi nada agradável. Levantavam suspeitas em relação a mim e não queriam me ajudar com as despesas. Consideraram-me como divorciada e quiseram que eu assinasse um documento em que renunciava a todos os bens do meu marido.

Eu não tinha mais condições emocionais para enfrentá-los, e boatos circulavam pela cidade de que eu havia sido abandonada por sir Benjamin. Com tudo isso, Sr. Thomas queria me proteger, mas para não aumentar as falsas notícias, pedi que ficássemos um tempo sem nos ver. 

Senti-me mal durante o desjejum, e durante o dia. Um médico foi chamado e constatou o que eu mais temia. Estava grávida. A notícia me deixou ainda mais sensível e vulnerável. Tudo o que fiz, por dias, foi chorar por longas horas e pernoitar em claro. Com a pressão da família de sir Benjamin, nada contei sobre a gravidez. Achei que deveria esperar um pouco.

A Sra. Halfenaked surgiu em minha casa, expressando nervosismo. Convidei-a para um chá, para acalmar os ânimos dela.

— O que a traz aqui, senhora?

— Meu marido queria vir, mas ele está muito agitado com tudo, o sumiço do nosso filho... Ele insiste que você assine o documento e abra mão dos bens do meu filho.

— A senhora não acha que também sou vítima nisso tudo? Sou a esposa do seu filho!

— Veja bem, querida. Há boatos muito desagradáveis sobre você, envolvendo Sr. Thomas. Dizem que...

— Não permitirei que a senhora reproduza as falsas notícias a meu respeito tentando justificar seu pedido. É extremante estarrecedor que a senhora dê ouvido a esse tipo de coisa, enquanto meu marido, o seu filho, ainda está desaparecido.

— Sim, e que você o declarou morto.

— Foi para protegê-lo!

— Quem garante que não quer livrar-se dele?

— Como pode pensar algo assim? Não tem vergonha na cara de aparecer aqui cara e dizer tais besteiras?

— São realmente besteiras?

Levantei-me e busquei o documento, assinando-o na sua frente.

— Pronto, não temos nenhuma ligação de parentesco, Sra. Halfenaked. Agora peço que saia da minha casa, por favor.

— Esta casa precisa ser desocupada... — Provocou.

— Não, não precisa, senhora Halfenaked. A casa ainda me pertence. O seu filho não assinou a transferência completa. Portanto, ela, agora, é  de... Beline. Este é o meu desejo como proprietário. — O Sr. Thomas surgiu na sala, nos pegando de surpresa.

A Sra. Halfenaked levantou o olhar sobre ele, sem se abater pela revelação surpresa do Sr. Thomas, mas era nítido que ela estava perdida.

— Sendo assim, não tenho nada mais a dizer.

Ela apanhOU seu xale e chapéu, e caminhou até à saída, acompanhada por uma das criadas.

— O que faz aqui, Sr. Thomas?

— Fiquei sabendo que ela... viria. Tive um mau pressentimento.

Desabei no sofá, sentindo-me trêmula. Mal conseguia me manter em pé.

— Você está bem?

— Eu ficarei.

Ele pediu que trouxessem água e me ofereceu.

— Vou levá-la para o quarto. Quero que descanse.

— Não precisa de tudo isso, eu ficarei bem.

Bebi toda a água e fiquei um tempo refletindo. Ele me observava, o tempo todo.

— Tenho... notícias do seu marido... ex-marido...

— Notícias?

— Sim. — respirou fundo — Ele... foi encontrado.

— Ele está bem?

— Está muito bem.

— E o que aconteceu... com ele?

— Ele fugiu, Beline. Nós nos enganamos o tempo todo. Ele fugiu com outra mulher, com quem manteve um relacionamento em segredo por anos.

— O quê?

— Lamento...

— Não pode ser do sir Benjamin que está falando!

— Mas é! Eu estive com ele, pessoalmente. Fiquei tão irritado que queria matá-lo.

— Eu... não acredito... Não pode ser!

Fechei os olhos e tudo ficou escuro. A voz do Sr. Thomas parecia cada vez mais distante. Tudo o que restou foi o silêncio e tudo ficou escuro. 

— Ela ficará bem, não se preocupe. — Dizia uma voz que eu não reconhecia.

— Obrigado, doutor.

Avistei o Sr. Thomas ao lado de um homem cujo óculos se perduravam na ponta do nariz.

— Sr. Thomas... — Tentei chamá-lo, mas sentia-me fraca demais para elevar a voz.

— Ela acordou! — sr. Thomas se junta a mim. — Como se sente?

— Um pouco zonza...

— Espere um pouco.

Ele se despede do homem, que nos deixa a sós.

— Quer algo? Posso pedir para preparem. — Disse.

— Não quero nada.

— O médico me contou...

— Eu não queria que o senhor soubesse dessa forma.

— Não se preocupe comigo. O que pensa em fazer?

— Não sei... E pensar nisso me dá medo. Como terei um filho sozinha?

Sr. Thomas se senta ao meu lado na cama e segura minha mão firmemente.

— Eu te disse que a protegeria e ficaria ao seu lado.

— Não, eu não posso permitir que o senhor se envolva nisso.

— Então, façamos um trato. Você continua nesta casa, eu a entrego com todo o prazer do mundo, se me prometer que me deixará ajudá-la.

— Tem ideia do que está me pedindo?

— Tenho, sim.

— Eu não posso aceitar. Isso alimentará mais os boatos a meu respeito. Eu não conseguirei levantar meus olhos novamente para minha família. Todo o meu orgulho foi ferido, Sr. Thomas.

— Não pense nisso agora. Procure descansar.

— Como agradecer ao senhor tudo o que tem feito por mim?

— Eu não fiz nem a metade do que gostaria.

— Obrigada, Sr. Thomas.

Ele me cobriu com uma manta quente e aqueceu o quarto acendendo a lareira acesa, só depois finalmente deixou o quarto.

Tentei fechar os olhos e dormir, mas estava tão perdida nos meus problemas que passei um longo tempo olhando para a janela. Pensei em como iria criar uma criança sozinha, e de como iria me sustentar. Pensei no meu marido que fugiu com outra mulher, sem saber que será pai. Senti pena de mim mesma, e chorei a noite toda. Como eu olharia para a minha família, sem sentir o peso do nome manchado pelos boatos da cidade?

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