Capítulo 32

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De um dia para outro, passei para o estado febril, e Dr. Johnson se mostrou preocupado, o suficiente para passar as noites em claro ao meu lado. Com três dias de febre persistente, sofri de uma hemorragia severa, que piorou ainda mais o meu estado de saúde.

 Sofri de um aborto espontâneo.

 Fiquei tão arrasada que chorei por dias seguidos e mal conseguia dormir. O Dr. Johnson tentou, em suas inúmeras maneiras, me confortar.

A perda do meu primeiro filho mudou tudo o que eu fui um dia. E o futuro que eu enxergava dias antes, desapareceu, levando um pedaço de mim. Uma parte do meu ser morreu com ele.

— Qual seria a explicação religiosa para algo assim, doutor. — Questionei, enquanto contemplava o entardecer se perdendo atrás das montanhas.

— Não tenho uma que te ajude no momento. Sabe, minha esposa também perdeu um bebê. Era o nosso segundo filho. Sei a dor que a senhora está sentindo. Minha esposa ficou desolada, e eu também, claro. Mas não é sua culpa, nem do seu corpo. Às vezes, não era para ser... é difícil compreender agora, porque é recente e dói mais do que tudo se imagina.

— Não entendo... estava tudo bem e de repente...

— Não pense nisso, Sra. Halfenaked, só irá te machucar. A senhora ainda é jovem, pode tentar de novo.

— Não sei se terei coragem de tentar novamente, doutor.

— Por enquanto, viva o seu luto, é um direito seu. Chore o que tiver que chorar, viva este momento, porque é uma perda... Mas nunca, jamais, deixe de recomeçar.

— Obrigada por tudo. Sou muito grata por estar comigo e ter cuidado de mim esse tempo todo.

Ainda precisei de alguns cuidados para me recuperar. A febre persistiu por dois dias após a minha perda, e cessou lentamente. Dr. Johnson teve todo o cuidado coma minha recuperação, principalmente em suas palavras de confortos.

— Enviei cartas ao Sr. Thomas, mas ele não... retornou. — Dr. Johnson revelou.

— O senhor contou-lhe do... bebê?

— Sim, em minha última carta. Mas há dias em que escrevi outras cartas endereçadas a ele anteriormente, e não tenho tido respostas.

— O senhor suspeita que algo tenha acontecido?

— Não quero pensar no pior, mas confesso que estou preocupado com a falta de notícias. Ele nunca deixou de responder minhas comunicações.

Fiquei preocupada com o Sr. Thomas e enviei cartas para ele, pedindo por notícias suas. Depois de algumas semanas, o Dr. Jonhson deixou o vale, prometendo buscar notícias para mim.

Além da perda do bebê, agora tinha a ausência de Dr. Johnson. A solidão só aumentava. Em alguns momentos, pensei que fosse enlouquecer com o silêncio estarrecedor da casa.

Esperei por notícias de Sr. Thomas por semanas seguidas. Nada. O Dr. Johnson me escrevera algumas, mas nada sobre Sr. Thomas, deixando-me mais aflita. Eu não podia escrever às outras pessoas, então a minha esperança era de que alguma notícia chegasse antes mesmo que eu percebesse, mas isto não aconteceu.

Decidi ir para Bournemouth. Fiquei dois dias no casarão, e soube que Sr. Thomas não havia passado por lá desde fomos para Bear Cross. Achei melhor visitar minha família, na tentativa de conseguir notícias dele.

Minha mãe ficou espantada ao me ver. Era como se eu tivesse ficado fora por anos.

— Soubemos que foi para Londres. — Diz.

— Sim. — Menti, com o coração apertado, mas não podia contar-lhe a verdade. 

— E como você está, minha querida?

— Estou ótima.

Ela contou as novidades e sobre o casamento de Arthur. Revelou que Olívia estava grávida. Isto despertou em mim uma crise de choro que a assustou.

— O que foi?

— Nada, mamãe. Me desculpe, eu só... fiquei emocionada por Olívia. É uma ótima notícia. Serei titia. 

— E finalmente terei netos.

Reprimi o meu sofrimento de perda e engoli minha dor, entrando num mundo de mentiras passionais.

Visitei Charlotte em sua nova residência. Um belíssimo casarão digno de dar inveja em qualquer pessoa. Ela estava feliz e pulou de alegria quando me viu chegando. Era como se ainda fôssemos as mesmas garotas que ansiava pelo futuro. Seu marido, o Sr. Garret não estava presente, o que nos deixou mais confortável para trocar confidências.

Contei a Charlotte sobre a gravidez e o aborto, também revelei sobre sir Benjamin, e este, parecia ter espantado-a.

— Infelizmente eu soube de sir Benjamin pelo meu irmão, dias antes de me casar  — Revela.

— E por que não me contou?

— Eu não sabia como contar a você. Achei melhor que soubesse por ele mesmo. Perdoe-me por não ter lhe contato, Beline.

— Tudo bem. O que me trouxe à Beaconsfield é uma busca por notícias de Sr. Thomas. Ele não está correspendo minhas cartas, nem mesmo as de Dr. Johnson.

— Eu não o vi desde o meu casamento. Pode ser que meu irmão saiba de algo, posso perguntar-lhe.

— Eu pediria isso mesmo.

— Não se preocupe, penso que Sr. Thomas esteja bem.

— Ele disse, alguns dias antes de partir, que estaria em águas desconhecidas. Estava claro que isso o preocupava.

— Até onde sei, eles viajam por milhares de quilômetros pelo mar, e podem até se perder por alguns dias. Uma vez meu irmão contou que perderam a bússola e levaram dias para acharem o caminho de volta.

— Faz todo o sentido. E como está em sua nova vida?

— Feliz. Fiz a escolha certa e meu marido é maravilhoso. Sou muito grata por tê-lo escolhido.

— E a diferença de idade entre você? Não atrapalha?

— Tive esse medo também, mas ele é muito atencioso comigo.

— Fico feliz por você, Charlotte.

— E o que cogita fazer agora?

— Acredito que voltarei para Bournemouth, esperar por Sr. Thomas e continuar escrevendo-lhe. 

— Eu soube que sir Benjamin a procurou.

— Procurou a mim?

— Sim. Ele foi até a casa de sua mãe e à Bournemouth. Depois ouviu que você foi para Londres e... sumiu. Foi a última vez que tive notícias. 

— Por que ele me procurou?

— Ele não disse, mas parecia desesperado, e muito arrependido.

Eu não sabia o que pensar sobre isso, apenas aceitei a ideia de que era tarde demais para perdoá-lo e aceitá-lo de volta. Eu não conseguiria recomeçar ao lado dele. Isso certamente não estava em meus planos.

BelineWhere stories live. Discover now