Exchange • l.h. •

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Fechei o livro de biologia aberto à minha frente e deixei-me cair para trás, em cima das muitas alfofadas da minha cama.

A minha mente começou a navegar pelos acontecimentos da semana.

Nem foi uma semana muito má. Tinha sido bastante cansativa, com fichas, trabalhos de pesquisa, revisões para os testes da próxima semana. E, hoje, mesmo sendo sexta-feira, ainda tive que rever a matéria de biologia.

Emma ainda continuava um pouco chateada com o que acontecera na semana passada e isso notavasse claramente na forma como me falava, ainda mais rispidamente que o normal. Mas, de resto, nem tinha sido muito exigente. Apenas tive que ser a sua empregada pessoal. O normal.

Já Eve, tinha tido um pequeno ataque de nervos quando o rapaz de cabelo colorido a convidara para almoçar. Pelo que soube, o almoço correu bastante bem.

O Luke...bem, nós não voltámos a discutir. Isso é bom porque me deixou mais calma e até os meus pais andam mais relaxados. Também não voltámos a beijar-nos e, sinceramente, ainda bem. Não queria voltar a beijá-lo. Os meus pais sempre me ensinaram que só devemos beijar a pessoa que realmente amamos e com quem queremos partilhar a nossa vida e essa pessoa definitivamente não era o Luke. Não sei o que ia na cabeça dele para me ter beijado, ainda mais a mim, que não tinha nada de especial. Devia andar só à procura de alguém com quem se divertir. Mas eu não ia ser essa diversão. Também não sei o que me aconteceu para o ter abraçado na semana passado e, muito pior, para ter recomeçado o beijo. Isto não podia voltar a acontecer. Nunca mais. Não queria ter nada a ver com ele.

A minha reflexão foi interrompida por alguém a bater à porta do meu quarto. Dei autorização para entrar e a cabeça do Luke apareceu à porta.

Oh, a sério?? Eu a acabar de dizer que não queria ter nada a ver com ele e ele decide aparecer 2 segundos depois no meu quarto. Só podia estar a gozar comigo.

- Carol? - perguntou ele.

- Diz, Luke - respondi.

- Está tudo bem?

- Sim, sim. Tudo fantástico - é que nem eu acreditei nesta desculpa, tendo em conta a vida que tenho. - O que queres?

- Podes...podes ajudar-me com a matemática?

Uau, isto era algo que eu não estava nada à estar.

- Agora?

- Sim. Estou com umas dúvidas e sei que tu e a matemática são tipo melhores amigas. Além disso ainda faltam duas horas para o jantar.

- Está bem - assenti, suspirando.

Ele aproximou-se da minha cama e deitou-se de barriga para baixo, abrindo o livro e o caderno à sua frente. Eu deitei-me da mesma forma e perguntei:

- Em que é que tens dúvida?

- Estes exercícios estão a dar resultados completamente diferentes dos corretos.

- Deixa ver.

Peguei no caderno e comecei a ver os exercícios um a um. Enquanto via o que estava errado, senti o olhar dele queimar cada centímetro da minha pele de cima a baixo. Lembrei-me então que quando cheguei a casa, tinha trocado a minha roupa larga e demasiado formal por uns calções extremamente curtos e uma T-shirt que só usava no meu quarto, quabdo estava sozinha. E ele estava a aproveitar-se disso. Comecei a explicar-lhe os seus erros mas a sua mente (e os seus olhos) estavam noutro lado.

- Luke - chamei.

Ele continuou sem descer à Terra e eu voltei a chamar. Nada. Sinceramente, o que é que ele está a ver em mim? Não há nada de interessante em mim.

- Luke - berrei. Desta vez, ele acordou.

- O quê? O que foi?

- Eu já corrigi isto e já te expliquei tudo, mas ao que parece tu não ouviste nada. Onde é que estavas com a cabeça?

- Porque é que nunca usas esses calções? - perguntou ele, ignorando a minha pergunta. Eu sabia que a distração dele era por causa dos calções. Perverso.

- Porque não.

- Estou a falar a sério. Porque é que nunca os usas?

- Porque não posso. O corpo não é para mostrar desta forma. É para ser respeitado.

- Como se tu acreditasses mesmo nisso - disse ele em tom de gozo.

- Claro que acredito.

- Vá lá, Carol. Olha-me nos olhos e diz-me que não gostaste de ter os meus olhos presos a ti.

Eu olhei-o nos olhos. Naqueles olhos azuis hipnotizantes. Tão hipnotizantes que me impediram de contrariá-lo e me fizeram mover o olhar de novo para o caderno. Mas será que eu não o contrariei só por causa dos seus olhos?

- Estás a ver? - perguntou ele, agarrando no meu queixo e obrigando-me a olhar para ele. - Eu tinha razão.

- Tudo bem, Luke. Pensa o que quiseres.

- Acredita que eu penso. E tu pensas da mesma forma que eu. Só que todos esses ideais que te meteram na cabeça impedem-te de o revelares.

- Isso não é...

- Caroline, nem tentes discordar comigo desta vez - interrompeu-me ele e aproximou-se de mim. - Sabes bem que eu estou certo.

A sua face aproximou-se ainda mais de mim e os seus lábios começaram a beijar o meu pescoço.

Isto não podia estar a acontecer outra vez. Os seus lábios quentes e suaves subiam pelo meu pescoço e cada toque do seu piercing frio na minha pele deixava-me mais e mais desejosa de o ter entre os meus lábios. O que é que estava a acontecer comigo? Os beijos acariciavam agora a minha bochecha rosada e eu sabia que se não parasse agora, não ia conseguir parar antes de os nossos lábios se tocarem. Tinha mesmo que ser, por muito que isto me fosse custar.

Coloquei as mãos no seu peito e afastei-me um pouco.

- Já chega, Luke - disse eu, reparando na sua expressão desentendida. - Eu não vou ser um briquedo. Eu não vou ser mais uma diversão nas tuas mãos. Eu não quero que me voltes a beijar. Nem sequer que me voltes a tocar. Eu quero dar-me bem contigo, não quero voltar às discussões, mas isto acabou-se. Arranja outra pessoa para brincares. Eu não vou trair todos os ensinamentos que os meus pais me passaram por estúpidas atitudes de adolescente carente e sentimentos que não existem. Agora vai ser assim e não quero que desrespeites esta minha decisão. Portanto, se ainda precisares de ajuda com a matemática podes ficar e eu ajudo-te, se não podes sair.

Os seus olhos revoltaram-se e escureceram e ele saiu do meu quarto sem dizer uma única palavra.

Esta atitude fez-me sentir um grande vazio dentro de mim e um ligeiro arrependimento, que eu TENTEI ignorar.

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