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A casa que tínhamos à nossa frente não era muito grande. Não tinha primeiro andar e tinha apenas um pequeno jardim mal tratado na parte da frente da casa. A tinta das paredes estava lascada e algumas telhas do telhado estavam partidas. Notava-se perfeitamente que o dono da casa não tinha muito cuidado com o sítio onde vivia.

Ao meu lado, Luke apertou firmemente a minha mão.

- Será que está em casa? - perguntou ele em voz baixa.

- Não sei. Vais ter que tocar à campainha para saber - respondi.

Aproximámo-nos da porta de entrada e Luke suspirou. O seu corpo tremia ligeiramente, não só do frio de Novembro que se fazia na rua, mas também de nervosismo.

- Luke - chamei e ele olhou para mim, - tu consegues. Vai com calma e vais ver que tudo corre bem.

Ele acentiu com a cabeça e eu dei-lhe um longo beijo nos lábios. Luke sorriu quando nos afastá-mos e pressionou o botão da campainha.

Ouvimos passos no interior da casa e a mão do Luke apertou ainda mais a minha.

Quando a porta se abriu, deparámo-nos com um homem nos seus 50 anos a olhar para nós como se tivesse visto um fantasma. Era alto e musculado, com uns olhos azuis iguais aos do Luke, pele clara e cabelo louro, ligeiramente mais claro que o do Luke, manchado com alguns cabelos brancos.

- Luke - murmurou ele, sem conseguir acreditar na presença dele ali.

- Olá, pai - disse Luke, com firmeza.

- Luke, filho, o que é que fazes aqui? - o pai do Luke tentou tocar-lhe na cara mas Luke afastou-se e não o permitiu.

- Não me toques.

- Desculpa. Como é que me encontraste?

- Tenho as minhas fontes. E agora que te encontrei, eu quero que me contes tudo. Porque é que nos abandonaste, porque é que fugiste, o que é que fizeste ao dinheiro da mãe. Tudo. E não saio daqui enquanto não o fizeres - disse Luke, um pouco exaltado e enervado.

O pai parecia espantado com a intervenção do filho, mas acentiu afirmativamente e abriu mais a porta para nos dar passagem para o interior da casa.

Nesse momento, eu exitei e fiz Luke olhar para mim.

- Luke, tens a certeza que queres que eu vá contigo? Eu percebo que seja um momento familiar e que precisem de privacidade - disse eu.

- Eu quero que venhas comigo e que fiques a meu lado - respondeu ele.

Dito isto, entrámos os dois na casa e o pai do Luke indicou-nos uma pequena sala de estar. A divisão continha apenas uma televisão, uma mesa de centro de madeira, um sofá de dois lugares, uma estante quase vazia e duas ou três fotografias emolduradas. Foi-nos indicado que nos sentássemos no sofá e assim fizemos.

- Posso oferecer-vos alguma coisa para comer ou beber? - perguntou o homem educadamente.

- Dispensamos formalidades. Podes passar às explicações - respondeu Luke de imediato.

- Muito bem.

O Sr.Hemmings saiu da divisão para voltar segundos depois com uma cadeira de madeira.

- Primeiro que tudo - começou ele, - quero que saibas que em tudo o que fiz, nunca foi minha intenção prejudicar-te ou magoar-te, a ti ou à tua mãe. Eu amo-vos muito.

- Nota-se - exclamou Luke.

- Não me interrompas, Luke. Continuando. Quando eras mais novo, antes de eu vir embora, eu meti-me num grande problema. Eu comecei a jogar póker com uns conhecidos. No princípio, era apenas por brincadeira mas eu comecei a levar aquilo mais a sério, a apostar grandes quantidades de dinheiro e a jogar em casinos.

Eu olhei para o Luke e ele parecia muito impressionado com o que o pai lhe contava.

- Como sabes, eu trabalhava como segurança noturno e o meu ordenado era razoavelmente bom - o Sr.Hemmings continuou. Tinha o seu olhar fixo nas suas mãos e evitava olhar para nós. - Eu pagava as contas da casa e dava mais algum dinheiro à tua mãe, mas o restante era todo usado no jogo. Eu ficava cada vez mais viciado e comecei a jogar na internet nas horas de trabalho. O patrão descobriu e despediu-me. Eu nunca tive coragem para contar à tua mãe que era viciado no jogo e que tinha sido despedido por causa disso. Para ela não descobrir, eu continuava a sair à noite e jogava com as minhas poupanças. Até que o dinheiro acabou.

- E então usaste o dinheiro que a mãe herdou da morte dos avós - concluiu Luke.

- Exatamente.

- Como é que foste capaz?

- A adrenalina do jogo tinha demasiado poder sobre mim e não me consegui controlar. Eu precisava de continuar a ganhar dinheiro para as despesas da casa e quando esgotei as minhas poupanças, precisei de mais dinheiro para as apostas. Nesse preciso momento, a herança da tua mãe apareceu e eu estava tão cego pelo jogo que nem hesitei em usá-lo todo numa única aposta. Acabei por perder todo o dinheiro.

A expressão no rosto de Luke era indecifrável enquanto observava o seu pai a limpar algumas lágrimas que não tinham resistido a cair.

- Desculpa, meu filho, se vos magoei e desiludi. Desculpa se fui fraco e fugi com medo da vossa reação. Desculpa não ter estado presente para te ver crescer - continuou ele, deixando escorrer rios de lágrimas pela sua face abaixo.

Eu não sabia o que ia na cabeça do Luke mas ver aquele homem naquele estado mesmo à minha frente estava a deixar-me cheia de pena. Tive que me conter para não o reconfortar.

- Ainda jogas? - perguntou Luke, repentinamente.

- Não. Quando fugi para aqui, não tinha dinheiro nenhum. Tive que viver e pedir dinheiro na rua durante três anos. Quando juntei algum dinheiro, aluguei esta casa. Entretanto também arranjei um emprego como pedreiro e o meu salário tem dado para me sustentar. As más condições em que tenho vivido ajudaram-me a ultrapassar o vício. E também ando a juntar dinheiro para pagar à tua mãe tudo o que lhe tirei.

- Não foi só dinheiro que lhe tiraste - disse Luke, levantando-se. - E acredita que, do que lhe tiraste, o dinheiro foi o que menos falta lhe fez.

Luke saiu apressadamente da divisão e eu segui atrás dele, deixando o pai dele a pensar nas suas palavras.

Rapidamente saímos da casa e pusemo-nos a caminho da minha.

- Queres falar, Luke? - perguntei-lhe, quando o silêncio entre nós se tornou insuportável.

- Agora não, Caroline. Agora não - respondeu ele simplesmente e entrelaçou a sua mão na minha.

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Olá!

Aqui está o capítulo novo. Desculpem não ter publicado ontem.

Como não vou publicar antes do Natal, quero desde já desejar-vos um Feliz Natal com muita paz e amor.

Não se esqueçam de votar e comentar.

Kisses,

heart_in_love

Exchange • l.h. •Where stories live. Discover now