Uno

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Maktub é uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer". Esta palavra é considerada um sinônimo de "destino", porque expressa alguma coisa que estava predestinada ou um acontecimento que já estava "escrito nas estrelas". Neste caso, apesar de possuirmos o livre arbítrio, as coisas que acontecem já estavam destinadas a acontecer.

Quando minha mãe foi diagnosticada com câncer o meu mundo caiu. Ali começara a nossa luta contra algo muito além de nossas capacidades. Incurável. Inoperável. Essas foram as palavras do melhor médico de Florença em sua última consulta.

Tudo havia sido montado para que hoje estivéssemos aqui, dando seu último adeus. Minha mãe sempre foi muito alegre, aproveitou a vida como ninguém, engravidou de mim ainda jovem e desde que me entendo por gente ela era minha melhor amiga. Sua partida prematura estremeceu minha base e partiu meu coração, mas mesmo assim arranjei forças para prosseguir com o que ela pedira para seu enterro.

- Angelina! Finalmente te achei - Disse Vincenza ofegante. - Separei as flores que sua mãe pediu, realmente ela adorava laranja!

Em seu leito de morte minha mãe me fez dois pedidos: queria que todos fossem de laranja em seu enterro e que eu passasse uma temporada em Paris, onde ela vivera experiências únicas e que sempre me contava.

Fiquei mais algum tempo encarando a lápide da minha mãe, as coisas poderiam ter sido tão diferente. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Por que logo a minha mãe? Por que a França? Eu tinha tantas perguntas e com certeza nenhuma delas teriam respostas simples, eu teria que descobri-las sozinha.

- Sentirei sua falta, mamãe. Prometo realizar os seus últimos pedidos a mim com amor. Serei sempre a sua Lilica. - Uma lágrima escorreu em meu rosto antes que eu saísse dali.

Na entrada do cemitério, respirei fundo, olhei para trás e segui em frente. Por mais que meu coração doesse e que minha alma estivesse sem um pedaço eu tinha o que cumprir, deixaria minha mãe feliz de onde quer que ela estivesse.

- Vamos Lina? Seu vôo é daqui algumas horas, não vai querer perder, não é? - Minha melhor amiga disse e eu apenas assenti e caminhei até o carro.

🍦

Dentro do avião, que mais parecia uma lata de sardinha, eu observava Florença ficando para trás. A cidade que cresci, a minha Florença, já não tinha mais cara de lar. Tudo parecia frio sem a minha mãe por perto. Era difícil se acostumar com isso.

Tentei me convencer que a França me traria coisas novas, pessoas novas e experiências diferentes, quis acreditar nisso, mas ao decorrer que nos distanciávamos da Itália eu sentia um friozinho na barriga e um certo medo do que estava por vir. E principalmente como seria o meu pai.

Quando minha mãe me contou o motivo de implorar tanto para que eu fosse até lá, eu gelei. Alguém que eu nunca tinha ouvido muitas histórias durante os meus 23 anos. Alguém que senti falta nas datas especiais. Alguém que não me deu o afeto que eu merecia. E agora, Oliver havia sido introduzido — bruscamente — em minha vida e eu sequer sabia como lidar com isso.

Desisti de focar em meus pensamentos e adormeci na poltrona desconfortável do avião e assim a viagem passou rápido.

Acordei com uma aeromoça me pedindo para afivelar o cinto pois iríamos pousar em menos de meia hora. Arregalei os olhos quando ouvi a última parte. Era real. Eu estava em solo francês. Não tinha mais volta.

Afivelei o cinto e encostei minha cabeça na poltrona. Olhei pela janela e fazia um lindo dia em Paris, as 2 longas horas de vôo valeram a pena, mas esse não era o destino final.

- Angelina, querida! Bem vinda a França. Espero que você goste daqui tanto quanto da Itália. - Oliver disse vindo em minha direção com os braços abertos.

Retribui o abraço mesmo estando um pouco envergonhada. Ao seu lado havia uma moça, ela tinha os cabelos dourados, olhos castanhos e parecia um pouco mais jovem que o meu pai. Nada preocupante.

- Essa é Sara, minha esposa. Estava ansioso para que vocês se conhecessem. - Disse meu pai. Ele tinha um sotaque bastante carregado, era até engraçado de se ouvir.

- Bienvenue en France! - Disse a moça dando uma demonstração do seu idioma.

- Grazie! - Por alguns segundos esqueci que não estava mais na Itália.

- Que fofura! Ela fala italiano em meio às palavras. - Disse Sara mostrando nem um pouco de graça.

Como resposta, lhe dei um sorriso desanimado. Percebendo o clima que tomara conta, meu pai nos conduziu para o carro, durante todo o caminho até a casa dele eu não quis conversar. Apenas observei a paisagem e vez ou outra respondia suas perguntas. Até ali o primeiro encontro com Oliver havia sido nada agradável, eu tinha a esperança de que durante a temporada isso melhorasse.

Assim que cheguei na casa de Oliver me impressionei com o local, a residência dele era confortável. Tinha cara de chalé de inverno e um cheiro delicioso de algo que não decifrei mesmo estando em meio a cidade grande.

- Angelina, seu quarto fica lá em cima. Fiz questão de preparar tudo para você se sentir em casa. Depois desça para comer, fizemos uma receita especial.

- Tudo bem. Desço em alguns minutos. - Disse indo em direção a escada. - Ah, antes de ir pode me chamar só de Lina.

Oliver abriu um leve sorriso como se dissesse "era isso que eu queria! Finalmente tenho uma forma para me aproximar dela." e eu apenas aceitaria se isso acontecesse. Esse era o motivo de eu estar aqui.

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Oi gente! Trago mais uma história para vocês e espero que gostem. Não se esqueçam de favoritar! O próximo capítulo sai assim que batermos a meta de 10 comentários! Sigam a Lina no instagram @linafmoretti. Beijos e até a próxima.🍦

Maktub • Marquinhos ✅️Where stories live. Discover now