Due

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Minha primeira semana na cidade do amor passou mais rápido do que eu esperava. Aos poucos eu me acostumava com tudo naquela cidade e começava ver beleza na França.

Oliver se esforçava para me ver bem e me sentindo em casa e confesso que ele estava se saindo bem, já sua esposa não gostava tanto assim da ideia de ter uma enteada quase que da mesma idade que a sua, mas eu não me importava. Aquela temporada era exclusivamente para a minha mãe. Satisfazer o último desejo dela de forma triunfante.

Era sexta-feira e um antigo amigo do meu pai havia nos convidado para jantar em sua residência. Lembro-me de tê-lo escutado dizer que era para me introduzir mais na cultura francesa, que talvez era disso que eu precisava para finalmente amar aquele país. Não sei se era verdade. Só sabia que não conseguia parar de comparar Itália e França, e em todas as minhas comparações meu país natal vencia.

🍦

Já era noite quando meu pai bateu na porta avisando que sairíamos em pouco tempo e que era para eu me apressar. Disse que sim e me voltei para a penteadeira.

O quarto que Oliver havia preparado para mim era minha cara. Tinha um vaso de flor, uma cômoda pintada a mão e uma cama cheia de travesseiros. Tinha cara de lar. Por alguns segundos me sentia de volta a Florença, quando ainda era criança e morávamos na casa da minha avó. Mas logo lembrava da realidade e tudo voltava a ser sombrio e dolorido.

Não demorei muito para descer. Peguei minha bolsa, calcei meu salto, dei uma última conferida no espelho, tirei uma foto e desci. De cara me senti arrumada demais, mas não me importei.

- Você está linda, Lina! - Disse Oliver assim que me viu no topo da escada.

Sua esposa não sabia disfarçar a sua insatisfação pela minha presença mas eu não ligava para isso, ela era nada comparado a tudo que eu estava vivendo.

Durante boa parte do caminho um silêncio desconfortável tomou conta do carro, até Oliver quebrar com uma pergunta:

- Lina, creio que você vai adorar esta noite. Que tipo de vinho você gosta? Podemos passar numa loja e comprar.

- Eu costumo beber vinhos italianos e franceses, mas pode ser qualquer um.

Ele confirmou com a cabeça com orgulho enquanto entrava em uma espécie de mercado. Em pouco tempo o meu pai voltou com uma garrafa de vinho italiano, ele parecia saltitante por tê-lo encontrado. Desde que cheguei tudo que ele fazia era tentar me agradar.

- Achei esse! - Disse ele revelando o rótulo. - Saint-Émilion! O melhor que já provei.

- É realmente muito bom. Obrigada. - Peguei a garrafa e seguimos caminho.

Assim que chegamos a casa o amigo de Oliver nos recebeu na porta e fomos adentrando. Logo na entrada havia uma foto de um rapaz e alguns troféus.

- O dono da casa é jogador ou algo assim? - Perguntei curiosa.

- Essa é a família do Marquinhos, ele é jogador do PSG, que é daqui da França, mas ele é brasileiro. Aqui são alguns troféus da última temporada. - Oliver me respondeu, seus olhos brilhavam.

- Accueillir! Oliver e Sara, que saudade. - O rapaz abraçou-lhes antes de vir até mim e me observar por alguns segundos. - E essa é?

- Angelina. - Respondi firme, seus olhos ainda estavam vidrados nos meus.

- Lina é minha filha! - Meu pai disse com felicidade fazendo a feição de todos parecer surpresa.

- Accueillir, Angelina, sou Marquinhos. - Beijos minha mão. - Espero que goste do jantar. - Ele disse com sotaque carregado.

- Grazie!

- Italiana? - O pai de Marquinhos perguntou.

- Sou. Cheguei a pouco tempo aqui.

- De qual parte? Sou fascinado na Itália.

- Sou de Florença. Sou suspeita para falar, mas é realmente um país encantador.

O rapaz confirmou e todos nos sentamos a mesa.

O jantar foi ótimo, era realmente o que eu precisava. A comida estava gostosa e a energia também. Vez ou outra pegava Marcos me encarando, mas não julgava ele eu também sentia essa necessidade. Não sabia ao certo o que me fazia querer vê-lo a cada segundo, só não conseguia controlar. Talvez ali estivesse nascendo uma amizade?

Durante todo o jantar, a família que nos recebeu me fez perguntas sobre meu país, me perguntaram o motivo de eu não ter aparecido antes, até que me perguntaram sobre a minha mãe e meus olho encheram de lágrimas.

- É um assunto complicado, ela ainda não está pronta para falar sobre, certo? - Oliver disse vendo a minha reação, olhei para ele com gratidão.

- Ah sim, claro. Então nos conte mais sobre seu país, Angelina.

Me recompus e continuei a falar. Falei sobre nossa culinária, cultura, costumes. Falei sobre as aventuras, nosso idioma. Tudo que envolvia a Itália. Durante a conversa me lembrei quando eu era criança e brincava no jardim da casa dos meus avós com a minha mãe e achava que aquele tempo nunca acabaria, eu dizia que nunca deixaria a Itália, que ali, em Florença, seria meu lugar para toda a vida, mas hoje vejo que o destino não quis assim.

Aqui estava eu, em outro país, com um desconhecido que descobri ser meu pai, falando sobre a minha cultura em uma mesa onde sequer me conheciam e o principal, minha mãe não estava mais entre nós, essa era a parte mais dolorida. As coisas realmente tinham mudado e agora minha ficha começava a cair. Eu era oficialmente adulta em um país novo e com pessoas novas.

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Maktub • Marquinhos ✅️Where stories live. Discover now