Quattordici

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Rússia, 2018, Copa do Mundo.

Os sentimentos que uma Copa do Mundo nos trazia eram os mais vastos.  A alegria de acompanhar a convocação, a saudade de estar longe da família em concentração, o medo de falhar e a vontade de fazer uma nação inteira feliz, esses eram algumas das sensações que os jogadores selecionados tinham, mas quando se tratava dos familiares essas sensações eram completamente diferentes.

Eu e Mahina estávamos na Rússia para a Copa do Mundo de 2018. Era dia de jogo do Brasil e nós íamos ver Marquinhos jogar. Apesar de aparentar tranquilidade, podia sentir meu coração tamborilar dentro do meu peito.

Desde o nascimento de Mahina para cá já faziam pouco mais de 7 meses e desde lá nossa relação só tinha se fortalecido. Eu achei que, com a chegada de um bebê tão no início da relação, as coisas acabariam desandando e em pouco tempo seríamos exclusivamente pais da Mahi, mas a realidade havia sido outra e eu era grata por isso.

A minha família e a de Marquinhos havíam chegado na Rússia uma semana antes do jogo para nos acostumarmos com as diferenças, principalmente com o jet lag e felizmente nossa ideia havia dado certo. Nós também tínhamos alugado uma casa, pois sabíamos que um hotel seria pequeno para todo o grupo que viera.

- Lina, você e a Mahi já estão prontas? A van que contratamos sai daqui a pouco. - Minha sogra apareceu na porta do meu quarto.

- Sim estamos. - Eu disse carregando minha filha. - Só preciso de uma ajudinha com o carrinho.

- Deixa que eu levo. Vem, vamos. - Acompanhei ela.

Desde que meu relacionamento com Marquinhos iniciara, a mãe do zagueiro havia me adotado como uma filha e aquilo era reconfortante para mim. Eu não sabia que ter uma figura materna era tão importante até perder a minha mãe e ela tentar fazer esse papel me lembrava do amor que minha mãe tinha por mim. Claro que a minha sogra sabia que nunca substituiria a minha mãe e eu sentia isso vindo dela, ela apenas cuidava de mim como se fosse uma filha mesmo.

Descemos e em algum tempo já estávamos no estádio esperando que o jogo começasse.

Eu tentei acompanhar o hino nacional do Brasil, mas meu português ainda não era cem porcento bom e acabava errando muitas partes. Assim que a bola começou a rolar uma animação e apreensão percorreu meu corpo. O futebol era realmente um esporte contagiante.

🍦

Era mais um dia de jogo do Brasil, dessa vez quartas de final. A disputa seria contra a Bélgica e o Brasil deveria ganhar, caso contrário voltaria para casa no dia seguinte.

Eu estava confiante. Sabia da capacidade da seleção brasileira, mas também sabia da capacidade da seleção belga. Se eu pudesse dizer algo, seria: é uma disputa de gigantes.

O jogo começou mal para o Brasil, aos 13 minutos do primeiro tempo um jogador nosso fez gol contra fazendo a Bélgica sair na frente de nossa seleção. Ali eu percebi que algo não estava tão ao favor do Brasil, comecei a ficar apreensiva e com medo do placar, pois sabia o quanto aquela classificação era importante para os jogadores e principalmente para Marquinhos.

A partida continuou e tivemos outros gols, mais um da Bélgica e o primeiro do Brasil. Os jogadores brasileiros tentaram até o último segundo igualar o placar, mas por alguma linha do destino nenhum chute ao gol tinha sucesso.

O juiz apitou o fim da partida e todos os torcedores brasileiros que estavam ali presentes perderam o brilho. O país do futebol, da alegria e do carnaval estava em silêncio. O sonho do hexa ficava cada vez mais longe. Nos olhos dos jogadores era possível ver a frustração e em seus rostos a decepção era estampada. Alguns choravam ainda em campo, outros apenas tentavam assimilar o que havia acontecido. Eu definitivamente não sabia como reagir. Era minha primeira vez acompanhando um evento futebolístico de tamanha proporção e ver o sonho do hexa escorrer por nossos dedos trazia uma sensação terrivelmente ruim.

Fiorella estava ao meu lado também incrédula. Helena dormia em seu colo e em seu rosto lágrimas escorriam.

- Não pode ser... - Eu disse e quase não foi possível escutar a minha voz.

Dali de cima vi o rosto decepcionado de Marquinhos e eu quis pular ali da arquibancada diretamente em seus braços para poder consolar seu coração que naquele momento estava em mil cacos e eu sabia bem disso.

Os torcedores brasileiros começavam a esvaziar o estádio, mas eu permanecia ali, estática e sem acreditar no que havia acabado de acontecer. Minha sogra segurava Mahina, naquela hora eu definitivamente não sabia lidar com tal situação. Permaneci ali por mais algum tempo até meus sogros me tirarem e me levarem para o local onde estávamos hospedados. Chegando lá eu já tratei de arrumar minhas malas para voltar a Paris. Não aguentaria ficar na Rússia sem a magia de torcer pelo Brasil, país que me adotou e que já considerava meu, pelas ruas de Moscou.

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O próximo capítulo sai assim que a meta de 10 comentários bater.
Insta da Lina: @linafmoretti.
Beijos e até a próxima.

Maktub • Marquinhos ✅️Where stories live. Discover now