Capítulo 3

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Depois que eu me deitei na cama, não soube mais o que havia acontecido. Mas, logo eu acordei com as batidas na porta do meu quarto.

— Filho, você está dormindo? — Ouço a minha mãe, e logo ela bate mais duas vezes na porta — Eu já cheguei.

— Eu acabei de acordar — Respondo com uma voz sonolenta e me sento na cama. Bocejo e me dou conta do que aconteceu horas atrás.

Olho para baixo e percebo que o meu braço esquerdo, justamente o que aquele idiota segurou com força está com leves marcas avermelhadas. Sinto que ainda está um pouco dolorido, mas tenho medo que possa ficar com manchas roxas ou até mesmo muito inchado. Mas torço para que isso não aconteça. O que eu diria a minha mãe?

— Eu voltei agora pouco da rua — Ouço sua voz um pouco distante.

Rapidamente me levanto da cama e vou até o banheiro e me olho no espelho que tem na parede, atrás há uma espécie de armarinho. Certamente este é um outro ponto interessante que me faz achar essa casa legal, cada quarto possui o seu banheiro. Na nossa antiga casa era apenas um banheiro, mesmo que vivêssemos apenas minha mãe e eu.

Lavei meu rosto e me olhei no espelho, parecia estar tudo em ordem. Olho novamente para o meu braço e tentarei ao máximo para que a minha mãe não desconfie do que possa ter me acontecido. Aquele maldito idiota machucou o meu braço.

— Você já chegou? — Pergunto, fechando a porta do quarto e indo até a cozinha.

Na noite anterior nós conseguimos limpar a mesa e as cadeiras, então agora está um pouco menos bagunçado que ontem. O fogão, geladeira, armário e pia estão limpos também. Basicamente, aos poucos, vamos conseguindo deixar tudo em seu devido lugar.

Puxo a cadeira da ponta da mesa e me sento. Minha mãe está em pé, em frente a pia, lavando algumas coisas que trouxe do mercado. Espero que ela tenha comprado algo gostoso para comermos.

— Eu fiz a sua matrícula em uma escola muito boa — Olha para trás por cima do ombro — Eu havia esquecido de contar, na verdade, eu também tinha esquecido, por causa de toda essa correria que tivemos com a mudança — Volta a se concentrar na pia — A empresa que me contratou cobre a mensalidade na escola, então você poderá estudar lá ''de graça''.

— Mensalidade? — Eu não consigo entender — Eu vou para uma escola privada? — Isso me deixou um pouco sem reação.

— Sim, é uma escola privada — Responde.

Eu sempre estudei em escolas públicas e eu não sei como é estudar em um lugar assim. Na minha mente, todas as pessoas que estudam nessas escolas são ricas, mimadas e fúteis. Talvez agora eu tenha um novo medo, além de todos os outros: ir para a escola privada, sofrer bullying por inúmeros motivos ou só por ser gay. Mas, também existe a possibilidade de ser um lugar normal, como uma escola pública normal e com pessoas normais (ou, talvez não?).

Tudo o que eu sei sobre uma escola privada é o que eu vi nos filmes ou séries, mas eu acredito que tudo isso seja apenas ficção.

— Mas mãe... — Digo um tanto receoso — Eu nunca fui para uma escola privada.

— Mas vai ser por pouco tempo — Me diz, agora virando-se e puxando a cadeira da outra ponta e também se sentando, enquanto enxuga as mãos — Você está no terceiro ano, é seu último ano e também as aulas logo irão encerrar. Já estamos em agosto, então passará bem rápido.

— Eu sei..., mas é que, eu não sei como essas pessoas são, eu tenho muito medo do que possa me acontecer.

— Nada de mal vai te acontecer — Diz sorrindo — Seja legal com todo mundo e eles serão legais com você, assim como era na sua antiga escola, com seus amigos.

Me lembro do meu braço, com leves marcas e tento disfarçar. Ponho o cotovelo na mesa, me apoiando um pouco. O braço esquerdo eu deixo por baixo da mesa, assim evitando que a minha mãe possa ver. Mas eu temo que não consiga esconder isso por muito tempo.

— Há mais uma coisa que eu não contei. O diretor da escola me disse que você poderia ir conhecer a escola agora a tarde, que é o horário que você vai estudar — Diz — E também, você precisa levar o seu histórico de notas, da antiga escola. Eu havia esquecido de levar, então, você faria esse favor para a mamãe? — Vejo ela apoiar o cotovelo na mesa e repousar o queixo em sua mão e me olha sorrindo.

— O que você não me pede que eu não faça? — Rio.

— Lavar a louça, seu preguiçoso! — Devolve o sorriso — Mas eu te perdoo dessa vez — Se levanta e passa por mim, indo em direção a sala — Eu vou pegar o seu histórico, caso você vá até a escola.

— Mas eu nem sei como chegar lá....

— Eu tenho o endereço anotado, só um instante —Sua voz vai ficando um pouco mais distante — Você pode ir de Uber.

Eu não sei se estou tão disposto a ir até a escola, mas acho que pode ser interessante ir até lá, antes de eu iniciar as aulas. Sinto que não é uma boa coisa ir para uma escola privada, mas se a minha mãe acha que pode ser bom e já que a empresa cobre o valor, não acho que possa haver algum mal.

No entanto, ainda me sinto muito receoso em ir para uma escola como essas. Mas eu espero que tudo possa correr bem. Eu estudei na mesma escola por dois anos, meus amigos do ensino fundamental foram juntos e eu sempre estivemos juntos, então agora, me mudar para uma outra escola, no meio do semestre, provavelmente será uma tortura.

Mas agora, a minha única preocupação é com o meu braço. Eu tenho medo que isso fique mais evidente e a minha mãe me questione sobre o que ocorreu. Caso isso aconteça, eu espero muito que ela pense que foi uma queda ou que eu esbarrei na parede. 

O Idiota do Meu Vizinho - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora