Capítulo 89 - Parte II

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HENRIQUE:

Ver o meu pai entrando na sala da casa do Gabriel me deixou com um misto de medo, raiva confusão. Como se não bastasse todo o medo que eu tenho da mãe do Gabriel, pois quando ela entrou na sala e eu estava cochichando para ele, ela ouviu — e se por acaso, eu houvesse falado algo que ela não devesse ouvir?

Acho que hoje não é o meu dia de sorte. Realmente hoje não é o meu dia de sorte. Será que isso ainda pode piorar? Eu tenho até medo de imaginar esse tipo de coisa e tudo ficar ainda pior do que já está.

Mesmo que tudo estivesse se saindo de forma até então diferente do normal, ainda estava sendo tranquilo. Porém, tudo saiu do controle ao ver o meu pai entrando, com um leve sorriso no rosto. Eu não entendo o que ele quer aqui. Eu também achei que ele estaria viajando e que chegaria apenas na segunda-feira.

Tudo realmente desmoronou ao ouvir ele perguntar quando eu iria levar o Gabriel ao restaurante. Mesmo que a mãe dele já soubesse que iriamos ao restaurante, nós ainda não fomos. Mas afinal de contas, não sei por que sentir medo de algo que ela já sabia, mas acho que o que me fez ter esse certo receio, foi o fato de que o meu pai chegou perguntando isso na frente dos dois, ao invés de perguntar somente para mim.

— Eu achei que vocês já haviam ido sem que eu ficasse sabendo — Ouvi a mãe do Gabriel dizer — Mas espero que quando forem, me avisem.

Sinto tanto medo dela.

— Pai! — O repreendi, olhando-o firme — Nós ainda não fomos — Disse.

— Achei que vocês já tivessem ido — Ele disse.

Meu Deus..., como alguém pode ser assim? Acho que também é por motivos assim, que eu tenho sido tão rebelde com o meu pai e lhe respeitando bem pouco. Contudo, eu percebi que esse ar de mudança também lhe afetou e ele não está tão horrível quando costumava ser.

— Quando forem, espero que me avisem — Ela tronou a dizer. Olhei rapidamente em direção a ela e ela parece bem concentrada na televisão.

— Pai, vamos para casa — Passei pelo Gabriel e segurei o braço do meu pai, mas ele sequer se moveu.

Que raiva de toda essa situação.

— Se vocês ainda não foram, por que não vamos todos nós? — Meu pai sugeriu.

O que ele quer dizer com isso? Ele quer ir conosco? Mas o que ele iria ficar fazendo lá? Me olhar babar pelo Gabriel enquanto ele se faz de sonso e finge não saber o que está acontecendo?

— Como assim? — Gabriel perguntou.

— Eu me refiro a nós quatro — Ele respondeu.

— Mas talvez a mãe do Gabriel nem gostaria de ir conosco..., não sei — Falei, com medo de ter falado algo que não deveria e que ela me repreenda.

— Bom, para a sua informação, eu gostaria sim. Não há nada melhor para fazer e isso seria bom — Olhei para ela, que agora está me encarando — Mas não hoje. Hoje eu quero apenas ficar em casa, assistindo televisão e sem fazer absolutamente nada — Disse — Ma se o convite se estender até amanhã, eu gostaria.

— Faz tanto tempo que não vamos em um restaurante — Gabriel disse suspirando.

— Então está combinado, amanhã à noite nós iremos jantar fora — Meu pai disse parecendo empolgado.

É tão estranho vê-lo assim. Acho que desde que a minha mãe morreu, que eu não o via tão empolgado com alguma coisa — tirando o fato do Gabriel, que para o meu pai, é a única pessoa decente com quem eu deveria andar.

— Então depois vou enviar para a você a cópia do nosso trabalho — Gabriel disse, por sorte, mudando completamente de assunto.

Isso está tão estranho, é tão aleatório que me custa acreditar que seja realmente o meu pai que está fazendo isso. Acho que esse dia realmente ficou estranho.

— Vocês terminaram? — Meu pai questionou — Por que não me enviam? Eu tenho um amigo que trabalha com revisão de textos e tudo relacionado a esse tipo de trabalho, além da impressão, caso seja preciso.

— Não precisa, pai. Eu também conheço alguém que faz isso.

— Mas e se essa pessoa não for de confiança? Vocês vão arriscar dias de trabalho e esforço para serem jogados no lixo?

— Em casa nós conversamos sobre isso! — Ele disse — Mas já que estamos todos aqui, você já deu o presente ao Gabriel? Aquele presente que você estava pensando em dar a ele.

Do que ele está falando? Meu deus. Será que isso ainda vai ficar pior? Meu Deus! Por que o meu pai não cala a boca ou então, se ele quer falar disso, por que não falamos em casa? Ele precisava vir justamente aqui para falar sobre isso?

Sinto todo o meu corpo gelar e as minhas pernas fraquejarem um pouco, mas tentei ao máximo me manter firme. O ruim não é Gabriel estar ouvindo isso, mas sim a sua mãe. O que ela vai dizer disso?

O meu pai realmente veio aqui para estragar absolutamente tudo. Se a mãe do Gabriel já não me aceita por completo como uma companhia para ele, acho que depois disso, tudo desmoronou.

Sei que ainda estou devendo um presente ao Gabriel, mas eu não consegui pensar em alguma coisa que possa ser do seu agrado e mesmo assim, é algo que ele ainda não precisaria saber. Eu queria ao menos fazer uma surpresa a ele ou ao menos, lhe dar o presente sem que ele soubesse.

— Presente? — A mãe do Gabriel continuou me olhando — Que presente é esse? Gabriel? — Ela olhou para ele — Eu não estava sabendo de nenhum presente.

— Nem eu... — Ele respondeu baixinho, parecendo bem receoso.

— Eu achei que você já houvesse dado a ele — Meu pai disse — Mas haverá tempo — Riu — Bom, Amélia, nos vemos amanhã à noite. E vou tratar de fazer o Henrique não esquecer do presente que ele ia dar ao Gabriel.

Eu realmente gostaria de esganar o meu pai por causa disso. O que ele quer que aconteça? Ele quer que a mãe do Gabriel não o deixe ser o meu amigo?

Eu consegui respirar fundo e aliviado, quando nós saímos da casa do Gabriel e chegamos em nossa casa. Assim que chegamos, corri para o quarto e me joguei na cama, tentando esquecer esse momento de extrema vergonha. Mas como irei olhar para a sua mãe amanhã?

Agora o Gabriel sabe que eu iria lhe dar um presente, mas realmente ainda não sei o que irei lhe presentear. Será que ele aceitaria um beijo de presente?  

O Idiota do Meu Vizinho - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora