Capítulo 2

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Amanhã seria a tão esperada reunião com os Grãos Senhores na Corte Estival. Eu sentia saudades da corte, já que morei lá por um ano após voltar ao continente. 

Aos vinte anos, após ficar cinco anos na aldeia que descobri ser o refúgio das bruxas, o meu povo, decidi voltar a Phythian para estudar os costumes feéricos, as cortes e os moradores.  Amarantha ainda reinava como Grã -Rainha então aproveitei essa infeliz  oportunidade para passar desapercebida entre as cortes. Treinei bastante também, apesar de não usar espadas, eu usava um bastão cujo o cabo era de freixo. Um presente do meu povo antes de minha partida, os que me conheci sabiam boa parte do meu plano e me apoiaram sem questionar, afinal minha mãe era uma guerreira para elas e eu iria vinga-la, só esperava que tudo desse certo do modo como planejado.

Ontem Tamlin não conversou muto comigo, algo que era bem comum, quanto menos ele me dirigia a  palavra menos estressado ele parecia ficar. Eu sabia que o simples fato da minha presença o deixada de mau humor, eu o alfinetava às vezes mas achei que dada a proximidade da reunião não deveria deixá-lo mais irritado do que já estava. 

Acordei bem cedo hoje para treinar, geralmente gosto de treinar antes de dormir, mas como hoje será um dia corrido decidi adiantar as coisas.

Quando cheguei na aldeia onde minha mãe cresceu, não perderam tempo e me iniciaram meu treinaram com o bastão. Era uma arma que as bruxas gostavam de manusear, era leve e podia ser bem letal se usada com esperteza. A minha por  exemplo, tinha uma pequena lança nas pontas, eu as retraia acionando uma leve depressão no meio do bastão.

Treinei por uma hora, meus braços gritando de alegria a cada golpe que dei no belo saco de pancada no meio do cômodo. Era o mesmo que o Tamlin usava para treinar. Ultimamente ele passava duas horas do dia aqui dentro, e eu não sei como ele ainda não destroçou o cômodo inteiro.

Ainda se lembrava de quando ele iniciou esse ritual matutino. Eu havia acordado assim que o sol nasceu e após escovar os dentes havia decido sair para dar uma volta. Ao entrar no corredor eu só ouvia o som dos socos dele dentro da sala de luta, e pelo barulho ele parecia que ia quebrar não só o saco de pancada mais a mansão inteira. 

A atividade física o ajudou a se recuperar fisicamente, ele ficou tantos meses em forma de besta que sua massa corpórea estava definhando, ele perdeu peso e mais parecia um homem das cavernas do que um Grão Senhor. Mas agora estava como antes, voltou ao peso normal e o ganhou os músculos de volta, como se nada tivesse acontecido.

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Assim que me sentei para o desejum Tamlin entrou na cozinha e se sentou a minha frente no balcão. A grande sala de jantar na entrada da mansão não era usada a meses, embora todos os cômodos da casa estivesse em sua esplendorosa glória antes de Tamlin destruí-la com sua fúria, ele evitava certos cômodos. Minha magia fez um belo trabalho de reconstrução, era um dos feitiços mais complicados de se aprender, mas como uma bela mulher dedicada que sou, dominei rapidamente. 

- Onde está Hadassa? - perguntei, já que ela nos encontrava todos os dias no café da manhã para nos atualizar de tudo que precisava ser feito no dia. 

Apesar de corte em si estar voltando ao normal aos poucos, ainda faltava muita coisa a ser feita e resolvida. Muitas cortes deixaram de lado suas negociações, o que antes era negociado em algumas horas, hoje levava até semanas para ser resolvido.

A Corte Outonal costumava negociar com a maioria dos fazendeiros daqui, mas agora a única corte que mantém contato com a Primaveril é a Estival. 

Não era por acaso, sabia que aquele morcego de olhos violetas tinha algo haver com isso. A Estival e a Primaveril sempre tiveram um bom relacionamento, Tarquin não seria idiota de jogar isso no lixo, ainda mais com os soldados dele e do que restou da Primaveril patrulhando a fronteira onde antes se encontrava a Muralha. A Diurna e Invernal  também ofereceram seus soldados para a patrulha, mas Tamlin foi inteligente e recusou.

Uma coisa era receber auxílio de uma corte, outra era ter soldados de três cortes os espionando a cada passo. Ainda mais com o Grão Senhor da Diurna sendo um amigo muito próximo da Corte Noturna. Helion não era alguém em quem eu depositaria minha confiança, além de ser um dos senhores mais velhos de Phythian. 

- Ela virá mais tarde, está em um reunião com os líderes das aldeias.

Diferente das outras cortes que possuíam cidades, a Primaveril sempre teve aldeias, a maior e  principal estava a menos de um quilômetro da mansão. 

Dei um gole em meu café e peguei uma torrada com geleia de morango. 

- Hoje a noite eu irei refazer o feitiço de proteção da corte. Não chegue atrasado.

- Não irei.

Ele ainda não aceitava muito bem o fato de que eu seja uma mestiça, metade feérica e metade bruxa. Só ele sabia disso, Hadassa apenas imaginava que eu era uma feérica com o dom de controlar a terra. Minha outra metade deveria ser mantida escondida o máximo possível, e eu sabia lá no fundo, as bruxas são vistas como demônios pelos feéricos. 

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Coloquei minha roupa de dormir, uma camisola prateada longa, de alcinha. Abri minha mala e coloquei alguns vestidos e minha roupa de couro, ainda não tinha decidido se usaria um vestido ou minha adorada roupa de couro para a reunião. Ouvi ma batida na porta e logo os belos cabelos cacheados de Hadassa apareceram. Ela usava um vestido branco sem mangas, e suas unhas estava pintadas de dourado.

- Oi Lilith, vim ver se precisa de algo para a viagem.

- Não, eu já arrumei tudo. - fechei a mala e a coloquei na poltrona ao lado de minha cama. 

- Posso te pedir um favor? - perguntou ao sentar na cama. A encarei  a esperando continuar. - Só não deixe que ele estrague as coisas na reunião, e também não deixe as outras cortes acharem que podem fazer o que quiser com a Primaveril. Eles não fizeram nada para nos ajudar quando... as coisas saíram do controle, então não acho justo eles tentarem se meter aqui como se fossem os salvadores. Afinal tudo o que interessa para eles é a Muralha, eles fingem que não, mas se pudessem já teriam invadido e estariam se matando pra saber qual deles ficariam responsáveis pela fronteira. - ela soltou um riso de escárnio.

- Não se preocupe, um dos motivos que me fez escolher a Primaveril foi a fronteira. Não tenho intenção de deixar ninguém usar a fronteira como campo de batalha, e os humanos estarão seguros.

Ela não disse isso com palavras, mas eu sabia que boa parte da preocupação dela era que os feéricos se aproveitassem da ausência da Muralha para invadir as Terras Humanas. Mas eu não deixaria isso acontecer, o que restou da minha família morava lá, e eu não deixaria ninguém estragar ou tomar o que elas conquistaram.

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Espero que estejam gostado, não esqueçam de comentar. 

Até o próximo capítulo.

Corte de Flores e Vingança ● ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora