Corte de Flores e Vingança ● ACOTAR

Capítulo 22

Olhei para meu reflexo no espelho grande que tinha dois metros de altura. Meu vestido vermelho escuro era totalmente aberto atrás e tinha duas fendas generosas nas coxas. Eu poderia optar por calças e espalhar algumas adagas mas acho que daria a impressão de que eu esperava uma briga na reunião. E eu não poderia dar tão de cara assim.

Coloquei meu colar com o crânio de um beija-flor, e ele parou bem no meio do decote entre os seios. Passei um batom vermelho escuro, e também havia pintado as unhas de preto, ficou bem bonito, combinava com as linhas pretas em minhas mãos. Acho que dava para perceber que a cor oficial das bruxas era o vermelho sangue, e eu queria que eles soubessem disso.

Para finalizar peguei algumas pulseiras que eram feitas com ossos de animais bem pequenos, e havia alguns rubis de um vermelho tão intenso quanto meu batom, o que os deixava bem delicados e bonitos. Diferente das minhas unhas os ossos eram de um branco profundo. Me olhei no espelho e percebi que a única coisa que faltava era a minha coroa de ossos, mas ir com a coroa iria estragar toda a surpresa, e ela nem estava aqui comigo. Infelizmente.

Em meia hora iríamos para Velaris, e eu não sabia se ficava curiosa ou com raiva. Apesar de Lucien ter me contado quem era quem no tal Círculo Íntimo, pelo menos não me sentia perdida.

Uma batida na porta e logo vi quando Tamlin entrou. Calça marrom, camisa branca, botas e apenas uma adaga estava em sua cintura. Era simples mas ao mesmo tempo o deixava gostoso pra caramba.

Não seria necessário ele levar alguma arma além daquela, na verdade nem cogitou levar alguns soldados com ele como era o costume. Alguns poderiam achar que era uma decisão tola, mas a Noturna não iria nos ameaçar sem sujar a imagem perfeita deles no processo. Eram perfeitos demais pra isso, bons demais.

- Vermelho? - perguntou parando logo atrás de mim.

- É a minha cor. - respondi e dei alguns passos até minha cama e peguei o outro colar que estava dentro do meu baú de jóias.

- Combina com você. - ouvi ele dizer assim que fechei o baú. Fui até ele e lhe estendi o colar.

- Um presente. - falei e o coloquei em sua mão. O colar era masculino com um cordão fino de couro, e na ponta havia uma garra de um leão, tão branca quanto os ossos em meus pulsos. Tamlin não estava acostumado a receber presentes, dava para perceber pelo olhar surpreso que recebi. Mas eu também não era, e talvez seja esse o motivo da gente se dar tão bem, tínhamos muitas coisas em comum.

Todos do meu povo tinham um colar, ou você ganhava de alguém importante em sua vida,  ou fazia o seu próprio. Um costume que já durava milênios.

- Obrigado - agradeceu e colocou o colar ao redor do pescoço, a garra ficou abaixo das clavículas bem no meio de seu tórax, a camisa meio que escondia a garra, mas ficou bonito do mesmo jeito.

Mais um ponto em comum entre nós dois: pra dizer obrigado era um sacrifício.

- Você está bem? - minha pergunta não era sobre a reunião em si e o que ele estava sentindo em relação a isso. Mas sim ao fato de ter que encarar Feyre hoje, depois de muito tempo.

- Não. - respondeu.

- Eu também não estaria.

Ele deu um sorriso de lado e logo me dei conta de um detalhe importante, olhei para ele antes de perguntar:

- Você contou a Lucien o que fiz?

- Não, achei que você devia contar. - respondeu.

Assenti e saímos do meu quarto, e fomos andando até os jardins do fundo da mansão, onde Lucien já estava nos esperando escorado na árvore, seu cabelo ruivo brilhando ao sol. Como já conhecia Velaris, seria ele que nos atravessaria para lá. Eu não sabia como ele iria reagir quando contasse o que fiz com a Noturna, mas pelo meu palpite sua parceira não foi afetada. Afinal a maldição era para os que nasceram na Corte, e eu tinha certeza de que Tamlin iria ficar bravo quando descobrisse a parte que eu não lhe contei, e ainda menti na cara dele dizendo que havia lhe contado tudo. Mas ele precisava parecer inocente para não ser acusado de algo.