Capítulo 10

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Dias se passaram desde a visita de Rhysand, se antes tinha muita coisa para fazer agora tinha o dobro. Tamlin havia feito uma reunião com o general, do que sobrou do exército da Primaveril, agora tinha mais soldados patrulhando a fronteira com a Outonal, em pontos específicos.

No mapa enfeitiçado não mostrava nada fora do comum, e os soldados não tinham achado nenhum soldado da Outonal vagando pela fronteira. Agora que Keir estava envolvido, tínhamos que ter cuidado já que os soldados dele eram cruéis e completamente leais. Eu sabia que eles se matariam se ele ordenasse.

Tolos.

Quando estava presa na Corte dos Pesadelos, meu quarto quase não tinha luz, a cama era apenas um colchão fino e duro. Tinha apenas um cobertor, uma cômoda pequena, um banheiro minúsculo. Não tinha travesseiros, e eu possuía apenas algumas mudas de roupas. 

Eu trabalhava na cozinha, Keir tinha uma casa na Corte muito afastada dos outros, apenas os feéricos e os criados autorizados por ele tinham acesso. Ninguém me ajudava, todos eram cruéis e infelizes.

Lembro que planejei minha fuga durante meses e meses, observei os guardas, decorei todas as trocas de turno de novo e de novo. Keir sempre mudava os horários, todos os meses, mas eu descobri que ele só tinha três modos diferentes de horários. O que significava que apesar de todo mês ter um diferente, eram sempre os mesmos três. Então eu decorei, me esforcei para ficar sempre de olho nos horários, eu não sabia escrever nenhuma palavra, então só desenhava coisas aleatórias, mas usava isso para anotar discretamente os horários. 

Ainda me lembro das vezes que eu mesma tinha que cuidar de meus ferimentos, as costas doendo por causa das chicotadas, colocar os ossos quebrados da mão no lugar... os dias que ficava sem comer e sempre que eu era levada para o porão da casa, eu sabia que demoraria dias para sair de lá.

Deixo os pensamentos de lado, entro no escritório de Tamlin, e coloco a pilha de documentos que ele me deu para revisão em cima de sua escrivaninha. A luz que entrava pela janela clareava todo o cômodo, o dia estava deliciosamente quente.

- Mais alguma coisa? 

Perguntei e observei o quanto seu escritório estava organizado, um hábito que ele adquiriu a algum tempo. Ele nunca deixava nada fora do lugar, acordava no mesmo horário todos os dias, treinava, tomava um banho e logo depois o café da manhã, e por fim vinha para o escritório.

Eu o observei durante alguns dias, ele estava focado no trabalho e eu sabia que Tamlin não deixaria a Corte abandonada de novo. Ele sabia tudo que estava acontecendo, as reuniões nunca demoravam demais, pelo que Hadassa me disse que o povo estava começando a aceitá-lo novamente. Ou apenas reconhecendo o bom trabalho que estava fazendo pela corte.

Esse fato começou a me incomodar, sentia que devia contar a ele o que de fato eu fiz meses antes de vir para cá. 

Apesar de tudo, eu tinha um pequeno receio das outras cortes acusarem a Primaveril de compactuar com uma bruxa para amaldiçoar outra corte. Com certeza seria visto como uma tentativa de invasão sem motivo. Não foi atoa que decidi agir antes de ter qualquer contato com a Primaveril, mas ainda sim a sensação de ter feito algo que pode prejudicar a corte, não queria ir embora.

Pelo menos eu tenho uma carta na manga: se Feyre pôde se vingar de Tamlin e ninguém reclamou de nada, porque eu não poderia fazer a mesma coisa? 

Eu esperava que o ódio dele pela Noturna mascarasse qualquer sentimento negativo sobre o que eu fiz. Eu não deveria me importar tanto com o que ele pense de mim, mas é inevitável.

- Lilith?

Percebo que vaguei demais em meus pensamentos, Tamlin me encarava provavelmente estranhando a minha falta de atenção.

Corte de Flores e Vingança ● ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora