VI

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Quatro anos antes.


Louis estava abismado com sua capacidade de permanecer vivo e decente em uma cidade desconhecida, em um país desconhecido, falando uma língua desconhecida. Ou talvez o mérito fosse mais de Amsterdan, que nem de longe era uma besta tão faminta quanto Londres. Viver em um albergue não estava sendo um problema, e de alguma forma ele logo tinha sido engolido pelo movimento de artistas que navegavam a cidade, facilmente vendendo seus rabiscos nas ruas e indo a festas tão errantes mas não pretenciosas quanto as de Harry.

Harry.

Louis não ouvia falar dele há meses, desde a noite que tinha pegado o que era seu e saído da mansão Styles, parando apenas para vender tudo o que podia e pegar o primeiro vôo internacional disponível em Heathrow, que acontecia de ser para Amsterdan. No momento ele não estava pensando, mas talvez o destino estivesse lhe ajudando uma vez na vida, porque na capital holandesa Louis finalmente se sentia em casa.

Casa.

Ele fechou os olhos por um momento, ignorando a música alta e o barulho do próprio sangue correndo em seus ouvidos, fruto da carreira que tinha acabado de cheirar, sob suas pálpebras a imagem de um email em sua caixa de entrada queimando sua visão. Ele não queria ir pra casa, não a primeira casa, não Doncaster. Ele já tinha mandado dinheiro para Charlotte e avisado que ia sumir por um tempo. Ele não precisava ir pra casa.

Mesmo abrindo os olhos a imagem permanecia, o nome "Mark Tomlinson" escrito em negrito na tela, trazendo à tona lembranças enterradas há mais de uma década, e com elas mais dor do que ele podia suportar.

Deslizando para a borda do sofá, Louis arrumou mais um pouco de cocaína e rapidamente a fez desaparecer para dentro de seu corpo, se levantando, decido a esquecer de tudo pelo menos por agora.

Não estava funcionando.

Nada, nem centenas de garotos bonitos e copos de vodka, o fariam esquecer dos absurdos que seu pai falava, dele sumindo da face da terra, das dívidas que deixou pra trás e foram a razão de Louis nunca ter podido pagar uma faculdade. Independente de seus olhos estarem abertos ou fechados, de sua boca estar cheia de álcool ou ocupada chupando alguém num canto, de sua mente estar correndo com a droga ou caindo num abismo agora que o efeito estava passando; lá no fundo da mente ele conseguia ouvir as palavras, as vozes de seus pais, de suas irmãs, de seus professores, de Harry.

Ele não sabia dizer o que tinha feito ao longo da noite, mas em algum momento no início da madrugada foi parar em um banheiro, a testa apoiada na borda da banheira de louça, de alguma forma observando as microscópicas rachaduras por baixo do esmalte, enquanto chorava.

A louça estava fria, mas o chão estava quente, e suas calças estavam molhadas de alguma coisa, mas não mais que seus lábios, onde as lágrimas tinham empoçado, lentamente escorrendo até seu queixo fino. Louis sabia que devia parecer miserável e fodido, mas não podia se importar menos, até porque era o que ele era mesmo.

"Isso é o que é", pensou.

Tentou se levantar, mas não tinha forças, então se limitou a deitar no chão, fixando as pupilas no teto de gesso liso, enquanto soluços fracos escapavam de sua boca. Ele nem ao menos sabia exatamente na casa de quem estava, ou em que parte da cidade.

- Cara. - um tufo de cabelos claros e uma cara pálida feito a morte apareceu na frente de Louis, fora de foco. - Ei, cara, você tá bem?

Louis queria mandar a pessoa se foder, e dizer é obvio que ele não estava bem, mas não tinha forças pra isso, então continuou catatonicamente encarando o teto e chorando, porque nesse ponto suas lágrimas já tinham saído de controle, e seu corpo sucumbido à força opressiva do que estava sentindo.

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now