X

1.7K 198 75
                                    

O dia seguinte encontrou Louis colocando a chaleira no fogo, seus apetrechos de pintura já arrumados e pronto para o uso próximos à enorme janela da sala de estar do apartamento. Ele não tinha dormido, como já era de se esperar, então assim que voltou para casa depois da festa, tomou um banho e dirigiu até Primrose Hill para uma longa e calmante caminhada no parque, e agora se ocupava de seu chá, logo se sentando no chão acarpetado encarando a tela em branco, caneca em mãos.

Ele estava sendo assombrado por uma imagem.

Ao longo de toda a sua vida, Louis nunca tinha pintado um retrato, primeiro por inabilidade, depois por falta de vontade, e então isso tinha se tornado uma de suas marcas registradas como artista, o famoso Louis Tomlinson, que pintava de tudo, menos pessoas.

Agora tudo o que enchia sua mente era uma visão de lábios cheios, olhos fixos, e lágrimas escorrendo como aquarela mal preparada por pele de marfim e maçãs do rosto de mármore.

Ele não podia pintar aquele rosto. Não por causa de categorias artísticas estúpidas, mas porque ele não podia. Mas as lágrimas, elas sim não sairiam da mente dele por tão cedo, ou talvez nunca mais.

Colocou a caneca de chá no piso, e fechou os olhos, tentando pensar em outra coisa.

A festa tinha sido boa, principalmente com Ed ao lado dele, o arrastando para conversas variadas, o apresentando a qualquer pessoa que se aproximasse, o cabelo ruivo mais despenteado a cada minuto, e tendo dispensado o terno logo no início, preferindo passear pelo salão só com camisa e o colete, arregaçando as mangas feito um estudante de colégio interno estiloso. Louis tinha permanecido composto, concedendo apenas a abertura de um par de botões do colarinho, e sóbrio, enquanto o amigo assaltava todos os garçons. Ficar bêbado na mesma festa que Harry Styles não era o tipo de coisa que ele quisesse fazer.

No fim não tinha adiantado de muita coisa, porque agora ele não tinha sequer a possibilidade da amnésia para dissipar a cena que tinham feito da própria mente.

Distraído, não percebeu o que fazia até ser tarde demais, e o barulho o fazer abrir e os olhos e se deparar com a caneca caída e o chá derramado sobre as folhas que usaria para rascunhar.

Louis se levantou apressadamente, endireitando a caneca e pegando os papéis, desistindo de salvá-los no momento que a cor profunda do chá escorreu pela superfície como lágrimas.

Como lágrimas...

Lágrimas escorrendo como aquarela mal preparada...

Num átimo, ele atirou as folhas de papel e a caneca vazia na pia da cozinha, e pegou dois copos de vidro, colocando em um tinta verde, e em outro tinta cor de cinza, depois se dedicando a diluir as cores até que elas estivessem quase transparentes, detritos do pigmento se depositando e flutuando sem se misturar com a água.

Então ele pegou um pincel, e se pôs a fazer lágrimas de aquarela mal preparada na tela, escorrendo pelo branco, o verde mal se destacando, e o cinza praticamente desaparecendo.

Ainda não fazia justiça à beleza da cena original, mas era tudo o que ele podia fazer.

♦♦♦

A casa de que Fizzy gostou tinha quatro quartos, e Louis não conseguia entender como ela tinha deixado aquilo passar durante a pesquisa.

— Fizz, nós precisamos de no mínimo seis quartos...

Ela o olhou como se ele tivesse perdido a cabeça, levantando as sobrancelhas numa expressão compartilhada por todos os irmãos.

— Você quer comprar uma mansão? Charlotte, Daisy, Phoebe, e um quarto de hóspedes, pronto.

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now