XVI

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Ed Sheeran, por alguma razão, gostava de fazer suas festas no jardim mesmo em pleno inverno, e agora Harry estava congelando até o ossos no meio de uma conversa entediante com a dona de uma galeria em Westminster. Ele se despediu polidamente da mulher e deixou a taça de champanhe que segurava em uma das mesas espalhadas entre as sebes nevadas e canteiros secos. Entrou de volta na mansão, passando direto pelos convidados sentados nas poltronas geométricas e pelos garçons atarefados, subindo as escadas de vidro sem olhar para trás sequer uma vez.

A verdade é que ele poderia ter trazido Peter — ou qualquer um dos outros garotos que o orbitavam — aquela noite, mas a solidão e o tédio que sentia não podiam ser remediados por um rosto bonito e uma foda. Depois que Zayn tinha descoberto a traição e se recusado a voltar para casa, Liam tinha feito as malas e ido chorar as mágoas num chalé no interior do país. Gemma tinha permanecido relativamente impassível, mas Harry imaginava que ela achava vergonhoso o que ele tinha feito, então evitara ir atrás dela.

Sem Zayn, Liam ou Gemma, ele se viu num limbo de companhias até certo ponto boas, afinal Sheeran, Nicholas e até a melhor amiga americana de Ed — que se chamava alguma coisa começada com T — eram divertidos e inteligentes, mas não eram a mesma coisa, de uma forma que ele não sabia explicar.

Andou pelos corredores, originalmente em direção ao quarto onde estava hospedado pela noite, mas tomou outro rumo para admirar as obras de arte nas paredes, todas valiosíssimas, apesar de os maiores tesouros da coleção de Ed serem mantidos trancados num cofre no quarto dele. Parou, encarando uma tela pintada a óleo de cores tão claras que podiam ser diferentes tons de branco, mas que ao invés de paz transmitia uma inquietação estranha. Ainda perturbado, ele virou uma esquina e continuou caminhando, até precisar parar e voltar ao reconhecer o estilo de uma pintura menor, colocada entre duas esculturas.

Era uma aquarela, pouco maior que o tamanho de um livro aberto, retratando chamas em azul e amarelo que consumiam a forma enegrecida de um navio em meio à bruma do oceano. A obra parecia não ter nome, nenhuma etiqueta de metal visível na moldura ou na parede, até que Harry se aproximou e viu as palavras "Wreck of a man's dream" pintadas na base numa caligrafia dolorosamente familiar.

Ignorando o sentimento ele voltou a andar, alcançando a porta para a varanda no fim do corredor. Afastou as cortinas brancas e vaporosas — tudo naquela casa parecia branco e etéreo, uma completa oposição à antiquada e tumular mansão Styles — e se deteve, certo de estar tendo uma alucinação, apesar de estar completamente sóbrio.

Surpreso demais para emitir qualquer som, observou o perfil delicado da pessoa parada ali. O nariz arrebitado, as maçãs do rosto marcadas pela luz que vinha dos jardins, o queixo apoiado numa mão elegante. Os cabelos cuidadosamente arrumados e as roupas sob medida combinando com os sapatos lustrosos. Louis Tomlinson.

Harry considerou deixar a cortina cair de volta no lugar e ir embora, mas parte de si queria ter certeza de que aquilo era real, de que Louis estava ali ao alcance de um toque, parecendo relaxado e contemplativo enquanto olhava para os jardins brancos de luz e neve.

Nunca vou ser capaz de decidir se a obra de arte são os quadros ou ele mesmo, pensou.

Encarou o chão e deu um passo a frente, sem levantar os olhos para ver se o pintor havia reconhecido sua presença, ao invés disso apoiando as mãos nas grades de aço do parapeito, sibilando de dor ao perceber que estavam praticamente congeladas. Mesmo assim Louis não reagiu, parecendo ter os olhos fechados enquanto levava um copo de uísque aos lábios, batucando os dedos contra o cristal no ritmo da música que flutuava pelo ambiente.

Era arriscado demais falar com ele, Harry sabia disso, mas um impulso o mantinha ali parado e o instigava a querer mais, a estar mais próximo de Louis, a ouvir sua voz, sentir sua presença. Respirando fundo, ele fez algum barulho com os pés, fazendo o outro despertar e se endireitar de onde estava inclinado contra o parapeito, se virando elegantemente, mas parando no meio do caminho ao perceber quem era o intruso, permanecendo em silêncio, para a frustração de Harry.

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now