XI

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Quando tinha dezessete anos, Zayn foi obrigado a ir representando o pai a um evento corporativo, mesmo que nessa época ele já tivesse se afastado do mercado editorial onde o pai tinha construído o sucesso e a fortuna da família para se dedicar às artes plásticas. Lá, ele conheceu uma jovem agente literária, e através dela um dos escritores que ela agenciava. Era um garoto tão jovem quanto ele, que conversava falando baixo e tinha um sorriso bonito, e quando ria poderia iluminar o salão inteiro com seus olhos castanhos.

Ele tinha crescido vendo o pai trabalhar e se esforçar na editora que herdara do avô, o primeiro Malik a migrar para Londres com o sonho de espalhar livros e conhecimento meio século antes, e conhecia tanto o luxo de frequentar a alta sociedade bebendo vinhos caros acompanhando comidas gourmet, quanto o valor em números de cada uma daquelas taças, pratos e garrafas, e de onde tinha vindo o dinheiro para pagar por elas.

Liam vinha de uma realidade inversa, uma família antiga, aparentada com a realeza, que tinha perdido riqueza ao longo dos anos, e se mantinha através da influência entre os conservadores. Num primeiro momento, eles não se deram conta da influência que isso teria no relacionamento dos dois, pelo menos até Zayn precisar batalhar com unhas e dentes em dois fronts: a religião de sua família, para que aceitassem que ele teria um marido, não uma esposa, e a mente estreita dos Payne, que o viam como um filho de imigrante novo rico que estava transformando um menino de ouro como Liam em um bicha.

Não era o tipo de coisa em que Zayn pensasse com frequência, principalmente depois de uma década onde seu pai tinha vindo a aceitar e aprovar seu casamento, aceitando Liam tanto na Casa Editorial Malik, quanto na Casa Malik, e os Payne tinham aprendido — a duras penas — a manter distância e reclamar menos, já que era o dinheiro novo dos Malik que mantinha a mansão tricentenária deles em Londres, onde Liam e Zayn viviam.

Apesar de a casa ser gigantesca, eles não suportavam a ideia pretensiosa de ter um mordomo e uma equipe de criados fardados e sem nome, optando por manter a governanta, o motorista, já que Zayn praticamente não sabia dirigir, um jardineiro e duas empregadas, deixando boa parte do serviço cotidiano, como cuidar da correspondência, para eles mesmo, como um casal normal de vinte e tantos anos.

Naquela manhã em particular, Zayn tinha sentado com a pilha de envelopes, e depois de algumas cartas oficiais do Secretário de Cultura, lixo de propaganda e várias newsletters de galerias e centros de exposição, um envelope do banco de que eles eram clientes chamou sua atenção. Ele franziu a testa ao perceber que o destinatário era Liam, quando geralmente todas as finanças da casa ficavam a cargo do próprio Zayn, já que o marido era notavelmente ruim com números.

Apesar de valorizar a privacidade, Zayn era adepto do conhecimento mútuo, então abriu o envelope sem pensar duas vezes, quase o derrubando ao ver que ele continha uma notificação de transferência bancária no valor de quinhentas mil libras para um banco na Bélgica.

Aquilo fazia tão pouco sentido que ele se sentou na cadeira mais próxima e releu o papel, inspecionando cada palavra que dizia ao Senhor Liam James Payne-Malik que a soma de quinhentas mil libras esterlinas tinha sido transferida para um banco localizado em Bruxelas, Bélgica, e convertido em euros pela cotação do dia primeiro de novembro, dois dias antes.

Ou o banco tinha cometido um erro crasso, o que era improvável, ou Liam tinha enlouquecido, o que era tão improvável quanto. Levantando e indo atrás do marido, Zayn tentou se acalmar, o encontrando sentado na biblioteca escrevendo.

— Li, o banco enlouqueceu ou você resolveu fraudar o imposto de renda? Chegou essa notificação de transferência pra uma conta na Bélgica, o que é isso? — perguntou, controlando a voz para soar divertido. Aquilo tinha que ser uma piada, realmente.

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now