PRÓLOGO

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  Louis já tinha perdido as contas de quanto champanhe bebera naquela noite, e agora se dedicava simplesmente a girar a taça entre seus dedos delicados, seguindo o brilho que reverberava na borda com seus olhos azuis opacos.

Aquela festa estava insuportável, e ele não tinha ideia se era culpa do calor, da sua roupa justa demais, da música ruim ou só do tédio incrível que era ter todas aquelas pessoas ricas e vazias olhando-o, julgando-o, desprezando-o.

Quando fechou os olhos, tentando se concentrar no som do próprio coração, ouviu passos firmes perto de si. Subindo novamente as pálpebras, imediatamente reconheceu aquelas pernas longas e finas, e aqueles sapatos envernizados. Logo dedos longos e enfeitados com anéis erguiam gentilmente seu queixo, o toque frio fazendo-o olhar para cima.

— Está tudo bem, baby? — a voz de Harry estava arrastada e grave, como sempre ficava quando queria dobrar os outros à sua vontade.

Era difícil perceber que Louis era o mais velho entre os dois, porque seu corpo permanecera pequeno ao longo dos anos, e sua atitude e suas roupas faziam-no parecer ainda menor e mais jovem, enquanto Harry desfilava seu corpo alto e magro coberto de sobretudos dramáticos e enfeitado com colares e anéis tão brilhantes quanto seus cabelos cacheados e seu sorriso.

— Querido, eu fiz uma pergunta.

Louis costumava gostar de ser tratado de "baby" ou "querido", pelo menos até descobrir que era assim que ele tratava quase todo mundo, fabricando uma intimidade e um carinho completamente falsos. Então, os apelidos só causavam leves arrepios, ou indiferença.

— Sim, só cansado.

Harry ignorou brilhantemente sua resposta, puxando-o pela mão até que se levantasse, lhe entregando uma nova taça de champanhe, e sorrindo tanto que seus dentes pareciam presas, o arrastou atrás de si através da multidão perfumada e bêbada.

— Vamos, o senhor e a senhora Barnes estão ansiosos para te conhecer, eu estive falando com eles sobre o seu trabalho! E lembre-se de se escanhoar melhor da próxima vez, seu queixo está áspero.

O restante da noite passou sem que Louis William estivesse plenamente consciente de nenhuma parte dela, seus olhos perdidos no fundo das taças ou no brilho dos diamantes, seu sorriso surgindo mecanicamente e sua voz baixa e aguda raramente sendo ouvida.

Ao contrário da de Harry, que se erguia acima das demais para falar sobre como as pinturas de Louis eram boas, e, principalmente, como ele era bom para as pinturas de Louis.

Os ouvidos onde caíam suas palavras eram indiferentes e cínicos, e as mentes a que estavam ligados eram cheias de escárnio para com o herdeiro dos Styles, e as respectivas línguas muito trabalhavam criticando seu jovem, tímido e bonito protegido.

Harry podia não se importar, afinal ele tinha para si um muro de riqueza e tradição para protegê-lo de qualquer problema, mas esse não era o caso de Louis, que nunca tivera uma única libra em seu nome, e naquele momento se concentrava em se lembrar da mãe, que precisava dele, para evitar de chutar as bolas do velho MacGoarth, que praticamente o despia com os olhos.

Mais tarde, quando eles entraram na limousine, já tinha se perdido completamente na sensação de ser um poodle talentoso que tinha ganhado vários concursos caninos, e nem protestou quando seu jovem patrono exigiu ao motorista que ligasse o rádio. Tudo o que ele queria era sua enorme e macia cama na mansão Styles.

Mas Harry insistiu que a noite estava perfeita, e era a inspiração ideal para uma nova pintura, então Louis se limitou a passar por seu quarto, largando seu terno em cima de uma cadeira e pegando sua cigarreira dourada, cujo conteúdo era habilmente dividido entre nicotina e maconha, e subir para o telhado para se encontrar com o outro.

E enquanto as horas passavam, envoltas nas nuvens de fumaça que deixavam seus lábios finos, ele se deixou levar por uma sensação de ausência, mal sentindo o vento frio ou os toques dos dedos e dos lábios de Harry sobre seu corpo.

Eram seis da manhã quando finalmente foi liberado para dormir, mas encontrou seu celular tocando histericamente sobre a cama, o vibracall fazendo-o se retorcer entre os lençóis. Apanhou o aparelho com os dedos insensíveis e o encostou aos ouvidos embotados.

Dez minutos depois seu corpo dormente se equilibrava perigosamente na beirada do telhado, enquanto lágrimas manchavam seu rosto liso e fino.

Sua mãe estava morta.

Sua mãe estava morta e agora nada mais valia a pena. Nem sequer os gritos de Harry Styles chamando seu nome que o vento trazia em sua direção, ao mesmo tempo que empurrava seu corpo para a frente, em direção ao vazio.

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ