I

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Louis se debatia contra o aperto em seu peito, a ardência em seus olhos e o gosto de sangue em sua garganta, mas as mãos de Harry o mantinham firmemente preso na cama.

Nas últimas duas horas ele não tinha parado de chorar e gritar sequer um segundo, e o outro não tinha deixado de segurá-lo em momento algum, arrastando-o para longe da borda do telhado e até o enorme quarto no segundo andar que pertencia a Louis..

Agora que a exaustão finalmente vencia seu desespero, o pintor se deixou cair molemente contra o colchão, mal respirando, encarando o teto adornado com os olhos cegos, ainda sentindo a pressão quente contra sua pele, permanecendo em silêncio a despeito das muitas perguntas.

— O que você estava tentando fazer, Louis?

"O que você estava tentando fazer, Louis?", sua mente repetiu, mergulhada em choque.

"Eu não quero mais isso", pensou, repetidamente, até ouvir seus lábios pronunciarem as palavras lenta e roucamente, preenchendo o espaço entre ele e Harry e ecoando no quarto luxuoso.

— Eu não quero mais isso. — seu tom era vazio e distante, rouco pelos gritos, engasgado pelo choro.

— O que você quer dizer, querido?

— Não me chame de querido. — disse, no mesmo tom.

O rosto de Harry se contorceu numa careta.

— Você está cansado. — a voz dele soou seca, rude, fora dos padrões hipinóticos de maciez usuais. — Vou te deixar dormir e amanhã falamos sobre isso. Descanse.

Louis sequer se moveu ou deu qualquer sinal de ter ouvido. Ignorar seu patrono tinha se tornado um hábito, mantendo-o a salvo da artificialidade que revestia cada uma das suas palavras. Tinha aprendido a compreender que nunca via a verdadeira face das pessoas, e a única parte verdadeira de si a que os outros tinham acesso eram seus quadros, sua arte.

Muito tempo depois, após passar horas flutuando num estado de semiconsciência e vazio, fez seu caminho até o ateliê que se conectava convenientemente com seu quarto, passando os olhos pela bagunça elegante e forjada do lugar.

Deitou uma tela no chão e se sentou ao lado dela com todos os seus tubos de tinta, colocando uma cor diferente em cada dedo de ambas as mãos, percorrendo o tecido esticado e preparado com as digitais coloridas com a pasta oleosa, assim como costumava fazer há muitos anos, quando não passava de um aprendiz.

Seus pensamentos e aflições aos poucos se tornando tinta, cor e forma, se dissolvendo no subconsciente até se tornarem seguros e conhecidos, mesclados com cada sentimento e sensação que já transformara em pintura na vida, finalmente deixando espaço para respirar.

Se deitou no chão frio, o corpo e as roupas cobertos de tinta, e respirou fundo, esfregando a palma da mão contra a tela como faria com o peito de um amante. Nunca amara ninguém, porque tinha encontrado um substituto para o calor humano da confusão colorida que cheirava a óleo, corante e terebentina.

Encontrou com Harry para o café da manhã na sala de música, como sempre. Mas diferente dos outros dias, hoje suas roupas não estavam impecáveis, e seu cabelo tinha sido displicentemente empurrado para o lado, divergindo da franja elegantemente arrepiada que o caracterizava.

Styles mal levantou os olhos de sua xícara, suspirando.

— Espero que agora esteja bem para me dizer o que aconteceu.

Louis deixou cair dois cubos de açúcar no seu chá, mexendo a colher preguiçosamente antes de se sentar e falar.

— Eu preciso de férias.

Harry estalou a língua com desdém.

— Pelo amor de Deus, você está sempre de férias.

— Eu preciso de férias de você.

Agora o outro ergueu a cabeça rapidamente, o rosto mais uma vez contorcido.

— Você quer, por favor, me dizer que porra está acontecendo com você? Até ontem a noite parecia tudo bem, mas o sol mal nasceu e você estava tentando se jogar do meu telhado, gritando que me odiava e me dizendo que não queria mais alguma coisa. — ele cruzou as pernas. — Até considerei a possibilidade de ser um surto psicótico, ou cocaína. Heroína, quem sabe. Mas você não parece drogado agora, e ainda está falando absurdos sem sentido.

— Não é absurdo, eu estou me afogando, você me sufoca porque tudo é sobre você, você quer que eu viva em função da sua existência.

— Eu quero que você viva em função da sua arte, e como eu patrocino ela, tenho todo o direito de querer participar ativamente disso.

— Como? Me fodendo e me fazendo comer bolinhos de mirtilo e me apresentando a milionários gordos e babões?

Harry o encarava com os olhos verdes inexpressivos, nem sequer ouvindo, porque para ele Louis estava louco, e lhe cabia esperar pacientemente até ele recobrar a sanidade.

— Pare de me olhar assim, seu filho da puta do caralho!

Styles baixou os olhos, tomando um gole de seu chá.

— O que você quer que eu faça? — disse ele, com voz monótona.

— Me deixe ir.

— Não.

— Harry!

Louis observou o outro se levantar lentamente, pousando a xícara e o pires sobre a mesinha de cerejeira entalhada antes de alongar as pernas, percorrendo a passos largos e elegantes o espaço até a cadeira estilo Luís XIV onde ele estava.

Se inclinou lentamente, colocando o rosto na altura dos olhos azuis do pintor.

— Louis, você é meu.

— Você não é meu dono!

— Tem certeza? Quem te deu as roupas que você está vestindo, Louis? Quem te deu a comida que você acabou de comer? Quem te deu o teto que está sobre a sua cabeça? Quem te deu as tintas e as telas que você usou para pintar? Quem? — as mãos dele percorreram suavemente a mandíbula de Louis, deslizando para seu pescoço, onde pressionou o polegar contra a traqueia, dolorosamente bloqueando a passagem de ar.. — Suas correntes são as minhas, você me pertence.

— Não! — soluçou, arfante pelo aperto que o sufocava.

— Sim. — sibilou em resposta e abaixou a mão, libertando Louis, que se ergueu, fazendo com que a xícara que ainda estava em sua mão fosse ao chão, se partindo em mil pedaços de porcelana fina contra o tapete, fazendo escorrer chá e grãos de açúcar, enquanto ele se atirava cômodo afora e corria para seu ateliê, batendo a porta atrás de si e se atirando no chão, se esforçando para se manter à tona em meios aos soluços apavorados que escapavam de sua garganta ferida e sacudiam seu corpo.

Harry entrou um minuto depois, percorrendo o espaço com passos preguiçosos, sua voz arrastada atingindo o corpo de Louis como golpes de um machado cego.

— Você se lembra de onde eu te salvei? Aquele sótão imundo coberto de fuligem e sujeira, infestado de viciados?

— Você quer dizer de onde Zayn me salvou. — murmurou em resposta, sentindo uma pontada de carinho por Malik,a quem podia considerar um amigo, um companheiro.

Harry lhe lançou um olhar entediado, antes de virar de costas e puxar o pano que cobria algumas telas no canto.

— Me mostre seus trabalhos novos, eu estive ocupado e não tive tempo de apreciar. Rápido, querido.

♦♦♦♦

Notas: Oi gente, então, eu não acho que tenha muito o que colocar nas notas nessa história, o ritmo dela não encaixa muito com eu ficar aqui batendo papo como é o normal.

Enfim, eu realmente amo essa fanfic, espero que vocês estajem gostando até aqui, e continuem gostando até o final. Essa é uma long-fic, so enjoy ;)

Não esqueçam de comentar e votar.

xxx

Lua

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now