II

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Três anos antes.

— Eu gosto dele.

— É mesmo?

— Sim... Não consigo decidir se a arte aqui são os quadros ou ele mesmo.

As vozes chegavam até Louis através do biombo improvisado de madeira podre que escondia as caixas onde ele guardava suas coisas, e onde tinha se enfiado agora para pegar algumas tintas e pincéis, já que a tela tinha sido gentilmente cedida pelos visitantes.

Eram três, todos homens jovens. O de pele morena e cabelos escuros fumava lentamente e tinha a voz rouca e doce, feito grãos de açúcar caindo numa tigela de metal, e fora o primeiro a entrar. O alto de olhos quentes e castanhos se apresentara como marido do moreno, sorrindo educadamente enquanto olhava em volta. O mais jovem, com cabelos encaracolados e olhos verdes brilhando na pele pálida se mantivera em completo silêncio, só falando pela primeira vez quando Louis desapareceu atrás do biombo.

— Hazz, eu estou tentando te arranjar um protegido, não uma foda. — continuou a conversa do outro lado.

— Por que não os dois? Seria a junção de duas paixões.

Os três riram, parando quando o jovem pintor de vinte anos surgiu novamente à sua frente.

Louis era muito consciente de si mesmo, de suas feições finas e ligeiramente femininas, assim como seu corpo curvilíneo que já lhe causara muitos problemas nos últimos meses, naquela vizinhança onde todo mundo era um monstro em potencial, esperando para ser liberto à menor provocação.

Então sequer pestanejou quando o jovem chamado de Hazz passou os olhos por ele de cima a baixo. Pelo menos aquele cheirava bem e parecia sóbrio, ao contrário do drogado que encontrara na calçada na noite anterior e de quem precisou correr para não ser abusado.

O moreno com quem falara primeiro se aproximou.

— Veja bem, eu sou um escultor e ouvi falar que você é um pintor de muito talento, e eu tenho muito interesse por jovens prodígios, talvez por eu ser um. — riu suavemente, sem arrogância, e puxou a cigarreira do bolso, oferecendo um a Louis, que aceitou ligeiramente maravilhado. — Já vi tudo o que tem pronto e em andamento por aqui, mas queria muito uma mostra ao vivo, quero ver como você trabalha.

O pintor assentiu rapidamente, passando a ponta dos dedos pela tela virgem à sua frente.

— Tem alguma preferência? — perguntou.

— Gostei muito daquele, — apontou uma representação de uma rua em azul cobalto e laranja — talvez algo naquele estilo.

Louis sorriu e se virou definitivamente para o cavalete, misturando as cores e invocando em sua mente a imagem fresca de uma rua decorada para o natal, retratando-a em um contraste de cinza com verde, vermelho e dourado, porque naquele dia ele estava comemorando seu aniversário de vinte anos, mas estava sozinho e bêbado, mergulhado na miséria e no medo, e tudo o que via era um borrão de luzes coloridas, temperado pelo cheiro da comida que não podia tocar e o som das vozes felizes que ele não partilhava o sentimento.

Quando terminou os três jovens olhavam para ele encantados, alternando suas orbes brilhantes entre seu rosto e sua pintura.

Um sorriso felino e perfeito rasgou o rosto do que falava com ele.

— Você é genuinamente um prodígio, que maravilha.

Louis sorriu de volta para ele, ainda balançando na linha tênue entre a timidez e a gratidão.

— A propósito meu nome é Zayn Malik, esqueci de me apresentar. — era óbvio que não fora um esquecimento. — Eu e meu marido Liam Payne — Louis respirou fundo ao reconhecer o nome de um dos maiores escritores cult da atualidade — somos grandes entusiastas de arte em geral, dadas as nossas profissões, mas o caso é que o jovem Harry aqui tem um grande amor pela pintura, apesar de ele mesmo não ter talento para isso, e gosta de, eu não diria patrocinar, mas proteger jovens pérolas como você, desse oceano cheio de tubarões insensíveis. — seus olhos dourados fizeram uma volta pelo ambiente insalubre, sem esconder o desgosto. — Eu me pergunto se você gostaria de se juntar a nós e ter mais liberdade para explorar suas capacidades.

— Eu... adoraria essa liberdade, é claro. Mas como-

Foi interrompido pelo levantar do mais jovem, que Zayn dissera se chamar Harry, que se adiantou e foi até ele, sorrindo abertamente e mostrando um par de covinhas perfeitamente esculpidas, e estendeu a mão.

Louis estendeu a sua, que teve a palma virada para baixo e foi delicadamente envolvida pelos dedos longos do outro.

— Eu sou Harry Styles. — disse com uma voz grave, mas apesar disso não poderia ter mais de dezoito anos. — É um prazer conhecê-lo...

— Louis William. — completou, sentindo os lábios do outro tocarem a pele delicada do verso de sua mão, macios e quentes.

— E será um prazer ainda maior tê-lo comigo, para que eu possa proteger todo o seu talento — seus olhos relancearam para o quadro, e então de volta ao seu rosto — e também você, Louis William.

♦♦♦
Notas: Eu sei que estou demorando pra caralho pra postar, mas quem já lê ou leu coisa minha sabe que eu escrevo meio devagar, então não me abandonem.
A música que eu usei pra escrever esse capítulo foi New Dawn Fades do Joy Division, e esqueci de mencionar que a do capítulo passado foi Hate This & I'll Love You do Muse.
Não esqueçam de votar e comentar, e obrigada pelos votos e comentários que LIYS recebeu até aqui!

Love y'all
xxx
Lua

Living In Your Shadow ♦ Artist!Louis L.S. AUWhere stories live. Discover now