Capítulo 5 - O Bem Não Compensa Merda Nenhuma

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Choque.

Foi a primeira coisa que senti quando peguei uma franjinha e um par olhos grandes, redondos e escuros me observando pela janela.

Aqui os vizinhos eram muito introspectivos, não queriam saber de ninguém além deles próprios, as casas não tinham cercas, justamente porque ninguém tinha interesse em bisbilhotar ou invadir o terreno de ninguém.

Mas há hoje um inseto na janela, observando tudo de mais perverso, doentio e nojento que a minha mãe faz comigo.

Foi a primeira vez que alguém viu isso.

Foi a primeira vez que me viram nesse estado - além da minha própria mãe - e eu estou com tanta raiva e vergonha que quero explodir e desaparecer.

Pego o pedaço de caco de vidro no automático e saio pela janela da lateral da casa, tentando não fazer barulho.

Avisto a fofoqueira se levantando novamente para olhar pela janela e a vejo suspirar quando percebe que não estou mais lá.

Que burra... É uma completa idiota se pensa que eu poderia não tê-la visto.

Ela na verdade é a maldita de uma rata sortuda por não ter sido a minha mãe quem a viu..

Uma sorte que Sofia não teve...

Sem fazer barulho - e estar descalço me ajuda com isso - me aproximo dela, lentamente, até parar atrás dela.

Seu cabelo  bate na altura dos ombros e ela é baixa - tanto que está na ponta do pé para ver pela janela que deve ser 1,60 do chão - , porém está acima do peso.

Quando ela se vira para correr e seguir seu caminho, tromba em mim e depois se afasta assustada.

É ela... É a garota que os moleques da escola estava fazendo Bullying aquele dia e também reparei quando ela entrou na minha sala no primeiro dia de aula.

A asiática.

A observo da cabeça aos pés e ela me encara assustada de volta, analisando cada um dos meus ferimentos.

- O-Oi... - Diz trêmula.

Sua voz não é fina e doce como a de Sofia, muito menos enjoada e confiante como a de minha mãe.

Sua voz é... grave, porém agradável.

Lembra a voz da dubladora da protagonista do filme jogos Vorazes, a Katniss Everdeen. Que se não me engano também dubla a Ravena de Jovens titãs.

Estranhamente fico com vontade de que fale mais para que possa ouvir melhor sua voz.

Até porque eu gosto da Ravena. Era minha personagem favorita dos jovens titãs... Talvez porque era a mais Sombria.

Querer ouvir sua voz é bem surpreendente, eu odeio que falem perto de mim e odeio mais ainda quando falam comigo. Claro que isso tudo por que tenho medo das consequências.

A analiso novamente de cima a baixo, inclinando levemente a cabeça para o lado.

Ela tem uma beleza diferenciada.

Não é como a Sofia que parecia uma barbie, bem padrão. Não... Essa garota tem uma beleza diferente. Algo quase como sombrio.

E que sensação é essa de como se algo nela gritasse para mim que somos iguais, mesmo sem ela dizer isso?

Talvez seja a marca de uma mão em seu rosto translúcido e liso. Ela apanhou, bateram em seu rosto e a julgar pela marca, foi recente o que indica que foi alguém que mora com ela.

Sua mãe talvez...? Mães...

Mas tem também seus olhos... Vazios e solitários como os meus. Sua franjinha acaba dando um ar angelical para seu rosto pálido e redondo, e seus olhos serem grandes acaba aumentando essa ideia.

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