Capítulo 8 - Antes Mal Acompanhada Do Que Só

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Jina


Estamos olhando para o que sobrou do corpo. Eu não sei como não desmaiei, ou como não chorei, ou como ainda estou aqui, mas ele me mandou não correr e eu não corri.

Logo depois de eu impedir um suicídio e prometer ficar ao lado dele.

Sério... As vezes eu tenho ranço de mim mesma, porque não tenho a capacidade de aprender com as fodências da vida. É impressionante!

Eu não sei o que deu em mim...

Eu sabia exatamente o que falar quando ele disse que ninguém o queria e que ele estava sozinho...

Poxa... Que pena, né? Mas assim... a vida é isso mesmo. Boa sorte para se recuperar. Força, fé, confiança e pó mágico! Bjs. Tchau.

E o que saiu da minha boca foi a maior idiotice que poderia dizer na minha vida.

No final ele ficou ainda mais ameaçador que antes, mas mesmo assim aqui estou eu, o obedecendo piamente.

Obedecer é sempre melhor que sacrificar, já dizia minha vozinha falecida.

Bom em coreano é um pouco diferente disso, mas enfim. Eu ainda preciso agir como uma boa garota para ele ter pena de mim e não me machucar, preciso me fazer de burra para ele me achar inútil. Em breve ele se cansa de mim, sou muito boa em ser desinteressante.

- O que vamos fazer agora? - Pergunto.

Que situação de merda... Mesmo que ela merecesse morrer, é bem perturbador olhar o estado que ela se encontra no momento e saber que um ser humano pode se tornar isso é bem desconfortável.

O mais desconfortável é saber que o garoto magro e franzino ao meu lado foi capaz de deixar um ser humano nesse estado.

- Você está encarando o cadáver dela. - Ele diz me olhando com um certo fascínio.

Eu volto meus olhos pra ele e fica clara a minha confusão com seu comentário porque ele continua.

- Pessoas normais tentariam não olhar, mas você não apenas olhou como não me julgou, não pareceu afetada e ainda me ajudou a chegar nesse ponto, sem falar em ter quase me dado "parabéns" por ter eliminado ela.

Oh merda!

Eu realmente tenho uma tendência agressiva e acho que o fim da sua mãe foi merecido, eu não sou uma pessoa sensível, eu não me importo que o corpo dela esteja desfigurado, o que ela fez com ele foi bem mais difícil de se ver.

Mas ele não pode saber disso, precisa achar que sou uma boa garota. Já cometi um deslize deixando transparecer meu lado sombrio, não posso cometer outro!

- A-acho que é só o choque... - Minto e desvio o olhar.

- Eu vou dar um fim nela, não podem ter rastros nem vestígios de nada. - Diz calculista após alguns segundos.

Nem parece o garoto frágil que estava prestes a surtar e cometer suicídio há poucos minutos.

- Hm... - É só o que consigo dizer.

Ele parece tão frio, não há remorso ou culpa em seus olhos agora, apenas uma frieza assustadora.

Me arrepio de pensar que eu contribui de alguma forma pra isso.

Estou suja de sangue, com uma ferida na cabeça, nem sei o que vou contar pra minha mãe. Espero que ela pense que já voltei e tenha ido dormir.

Mas não chego nem perto de estar suja como ele está.

Em minhas roupas há poucos respingos de sangue e boa parte vem do corte na minha cabeça pela quantidade de vezes que ela bateu.

O garoto me analisa minuciosamente, com o olhar vazio.

Desejo Sombrio Where stories live. Discover now