Capítulo 18

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Jungkook
Depois de ler o que eu havia escrito para minha mãe, eu senti que podia flutuar de tão leve. Agora eu tinha noção do quanto minha dor era profunda e podia ver quantas vezes ela atrapalhou minha vida até hoje. Namjoon  encarou minha resposta como algo positivo e sorriu.
― Eu sei que é difícil, mas identificar o que te faz mal é o primeiro passo para que você melhore Jungkook. A ausência da sua mãe por toda a vida, interferiu na sua forma de dar amor e  de relacionar, confiar e até mesmo de acreditar que você pode sim, conquistar as coisas.
― Eu sempre fui muito sozinho e sempre tive tudo ao meu alcance, essa era a forma deles “suprirem” a ausência que eles deixavam.  Quando eu comecei  a trabalhar e tentar conseguir as coisas, eu só conseguia pensar que nada daria certo, eu nunca soube trabalhar em equipe e por isso eu relutei muito nas propostas que minha irmã sempre me fazia. Quando eu surtei, Jimin fez a única coisa que me faria bem naquele momento, mas com o tempo eu me senti insuficiente, um estorvo e acabei focando mais e mais no trabalho.
―Entendo, qual o sentimento que o trabalho te trazia?
― Sinceramente? Eu sentia inveja do meu marido. ― meu olhar ficou perdido por uns segundos quando lembrei das vezes que chorei me achando sujo por ter esse sentimento. ― O Jimin tinha reconhecimento, não era alvo de pessoas homofóbicas e tinha o amor que eu nunca tive, ele tinha sua mãe. Quando eu percebi isso, me fechei no trabalho porque eu não queria sentir.
― E em algum momento você se sentiu melhor? ― Namjoon  perguntou enquanto se servia um pouco mais de chá.
― Era uma melhora falsa. A cada vez que eu ganhava espaço com o atelie eu me sentia bem, mas quando Jimin chegava falando do seu trabalho, das causas que ele ganhou o sentimento voltava e eu me afastava. Foi assim que eu parei de ir aos eventos da empresa dele, não viajava com ele quando me convidava  e não dava mais ouvido à ele quando ele ganhava uma causa importante. Eu simplesmente deixei ele de canto, ficando com ele só quando a saudade se tornava maior que tudo.
― E o que aconteceu para que você começasse a perceber que as coisas não iam bem?
― Quando eu pensei que ele havia me traído com um colega de trabalho. Foi ali que eu comecei a perceber muita coisa. No início eu só consegui culpá-lo, me senti ferido, magoado, traído, mas depois conversei com minha irmã e ela jogou umas verdades na minha cara que me ajudou a ver e perceber melhor as coisas.
― O que você percebeu, Jungkook? ― Namjoon  estava sério, mas seu olhar era paciente.
― Que eu tinha culpa no fracasso do meu relacionamento. Eu ainda não havia pensado muito na questão da minha família ou da própria inveja que eu sentia, mas agora, parando para analisar minhas ações sempre foram mesquinhas.
― Você pode citar um exemplo?
― No dia que decidi vir pra cá, eu deixei a carta de demissão dele. Eu praticamente o obrigou a pedir demissão do emprego que ele tanto gostava, do cargo que ele levou anos para construir. E o que piorou tudo é que ele acatou. Ele veio atrás de mim e largou tudo.
― Como você se sente agora Jungkook?
Namjoon  me olhou e eu não consegui manter o olhar. Eu estava envergonhado. Eu entendia que na nossa relação nós dois éramos culpados pelo fracasso, mas eu me sentia culpado por ter me deixado levar por sentimentos de insegurança e ter feito ele deixar seu sonho por mim.
― Culpado, eu sei que não agi bem, mas naquele momento eu fiquei com tanto medo, tão inseguro que só… só fiz o que eu queria.
― Nosso tempo está acabando. Você foi muito bem hoje, conseguiu associar a raíz dos seus problemas ao que aconteceu ao seu casamento, conseguiu se expressar com clareza chegando às conclusões corretas sobre sua vida, mas saiba que se culpar não é algo que te fará bem. Os sentimentos são muitos, mas você escolhe o que deve habitar seu coração. Lembre-se que errar é humano e que muitas vezes a gente age de forma impulsiva, principalmente quando a insegurança é uma ameaça. Mas sobre isso, quero que você faça uma tarefa para o próximo encontro. Chame o Jimin em um local onde ninguém vai atrapalhar vocês e conte tudo para ele. Você pode fazer em meio a um joguinho ou na hora da refeição, mas quero que você se abra com ele e fale seus verdadeiros sentimentos sobre você e de um tempo a ele. Depois anote em seu diário quais foram os sentimentos que você sentiu ao falar e como você ficou depois de tudo. Ok?
Eu concordei, disposto a fazer qualquer coisa para ter meu Jimin comigo.
🌙

Jin
Era o fim.
Eu não via como poderia continuar com o Kihyun.
Sete dias tentando, falando sobre mim, sobre ele e eu não consigo ver como podemos dar certo. As conversas com Namjoon  só me fazem chegar a conclusão de que buscamos coisas diferentes e isso me deixa triste, afinal eu o amo. Desde que chegamos aqui, não paramos para ter uma conversa séria, ele não me procura e eu também sou orgulhoso demais para fazer.
Hoje todos os casais que estão aqui vão precisar decidir se vão continuar no acampamento ou se vão embora e isso me deixou tão ansioso que ainda são cinco da manhã e eu já estou desperto, do lado de fora à beira do lago.
O frio não é algo que me preocupe, mas ainda sim sinto meus lábios tremerem. O ar esfumaçado saia com minha respiração e meu corpo começava a sentir o efeito anestesiante que o frio trazia. Contudo, como passe de mágica senti meu corpo ser coberto por uma manta quente e meu tronco ser abraçado por um corpo familiar demais. Meus olhos fecharam assim que seu cheiro tocou meu olfato e pude relaxar em seu peito enquanto o barulho da floresta chegava de forma límpida em meus ouvidos.
― Por que você está aqui fora, no frio? ― sua voz rouca fez meu coração acelerar e seus braços me apertaram ainda mais. Eu não o respondi e mesmo assim ele aceitou meu silêncio e beijou o topo da minha cabeça. Ficamos assim por um tempo, até que aquela falta de conversa ficasse desconfortável demais para aguentar.
― Onde foi que a gente se perdeu, hein? ― Minha voz saiu baixa, quebradiça. Era como se eu não conseguisse colocar em palavras toda a minha frustração perante aquela situação chata. Kihyun nada disse, mas suspirou de forma pesada.
― Eu me pergunto isso todo dia. ― ele disse e meu coração afundou no peito. ― Eu queria voltar no tempo e fazer tudo diferente Jin. Queria ter levado nós dois mais a sério, ter sido mais maduro em muitos momentos… eu queria ser o ideal para você. Mas eu me escondi atrás da idade por uma besteira e  olha onde isso nos levou… estamos destruindo um sentimento que é forte, que é bonito.
Ouvir aquilo de Kihyun me fez perceber que nem todo amor do mundo é suficiente para manter um relacionamento a dois. Meus olhos foram marejando à medida que seu abraço ficava mais forte e quando ele deu o primeiro fungado, eu não aguentei mais segurar. As lágrimas rolaram porque talvez uma decisão estivesse se formando ali e ela não era feliz, mas faria bem para os corações cansados que estavam à beira do lago.

AINDA EXISTE AMOR EM NÓS (Versão Jikook)Where stories live. Discover now