Capítulo 32

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Jungkook

Eu estava muito nervoso naquela manhã. O hospital se erguia em minha frente enquanto as pessoas saiam e entravam, algumas chorando, outras sorrindo. Olhei para Jimin, que me encarava preocupado, mas logo lhe confortei com um pequeno sorriso.
Caminhamos até a recepção daquele lugar e tivemos que esperar um pouco até que uma moça que aparentava ter um pouco mais de vinte anos, sorriu gentil.
― Bom dia, em que posso ajudar? ― Eu continuei calado, sem realmente conseguir falar qualquer coisa e percebendo isso, Jimin tomou a frente.
― Estamos aqui para ver Jeon Jiyu― a moça nos olhou séria e depois sorriu, antes de perguntar:
― Apenas familiares podem visitar a senhora Jeon. ― E foi então que minha voz veio alta e forte chamando atenção da mulher e de algumas pessoas que estavam ao redor.
― Eu sou filho dela e eu não saio daqui sem antes ver minha mãe.
Eu estendi meus documentos para a atendente que olhava tudo atentamente e verificou cada informação. Jimin também deu seus documentos e logo ela começou a digitar as informações no pequeno notebook que ficava ali.
― Muito bem, senhor. Ela está no quarto 513, que fica no quinto andar. ― Ela devolveu nossos documentos e também nos entregou dois crachás com as identificações necessárias para termos o acesso até lá. 
Fomos até o elevador e dentro de alguns minutos estávamos no quinto andar. Logo que saímos da caixa metálica, nos deparamos com uma recepção bem organizada e bonita, com muitas plantas, sofás, pufes coloridos e uma enorme tv. Perto dali há uma sala de aula bem recheada de cores, brinquedos, mesinhas e cadeiras, como uma sala de aula. Pelo vidro, eu conseguia ver algumas crianças ali acompanhadas de pais, enfermeiras e professoras. Meu coração se apertou ao ver como aquela doença deixava aqueles pequenos seres humanos fragilizados.
Por algum tempo eu apenas observei em silêncio, mas ofeguei um pouco alto quando percebi uma garotinha de pele preta e corpo magro, seu rosto oval, com bochechas fofas, nariz redondinho e lábios grossinhos. Ela estava sozinha em um canto, brincando com alguns blocos de montagem, em sua cabeça nenhum fio era visível, assim como em suas sobrancelhas e cílios. Jimin tocou em minha mão, mas ele também não conseguia tirar os olhos dela, compartilhando talvez os mesmos sentimentos que eu, porém antes que pudéssemos sair dali, a garotinha finalmente nos olhou e eu senti meu coração se encher de um sentimento avassalador ao conectar meus olhos com os dela. Os seus olhos eram grandes e castanhos claros, quase amarelados.
― Linda! ― eu e Jimin dissemos ao mesmo tempo, notando ela sorrir em nossa direção.
Seu sorriso miúdo aqueceu meu coração e novamente senti Jimin apertar minha mão em uma mensagem muda, de que também sentia o mesmo. Nossa atenção foi chamada e então saímos daquele transe para encarar um homem de cabelos grisalhos e jaleco.
― Bom dia, eu sou o Dr. Lee Woo-jin e sou o médico responsável pelo caso da Senhora Emília.
― Oh, muito prazer ― eu me adiantei estendo a mão para apertar a do médico em um cumprimento ― Sou Jeon Jungkook e esse é meu esposo, Jimin.
― É um prazer. Antes de ir ver sua mãe, podemos conversar em meu consultório? ― o médico perguntou e eu assenti, seguindo-o por entre os corredores brancos daquele lugar. Quando estávamos dentro do consultório, o doutor Woo-jin nos olhou sério, pensando um pouco antes de falar.
― Eu não sabia que sua mãe tinha outros filhos além do que sempre vinha aqui com o seu pai.
― Ser gay em uma família tradicional e religiosa não é algo para deixar escancarado. ― minha fala saiu um pouco ácida, mas o médico apenas sorriu e assentiu.
― Entendo, seu pai parece ser um homem difícil mesmo, mas vamos falar de sua mãe. Antes de tudo, preciso que seja forte, pois o que vou te falar não é nada fácil.
Eu assenti sentindo a mão de Jimin apertar a minha em sinal de conforto. No fundo, eu sempre soube que a vida de minha mãe estava no fim e por dias eu vinha me preparando para encarar isso, mas agora, de frente para o médico, eu sentia que meu coração poderia parar com a agitação de  sentimentos dentro de mim.
― O câncer de sua mãe está em estado final. Nossa equipe tentou de tudo, mas quando ela nos procurou seu pâncreas já estava todo tomado e mesmo fazendo quimioterapia, a doença avançou para outros órgãos. ― as palavras me atingiram de cheio e mesmo tendo consciência de que era o fim, a confirmação era dolorida. As lágrimas já faziam seu caminho em meu rosto e mesmo  sentindo meu peito rasgar em dor, eu apenas assenti para que ele continuasse. ― Pelo que você falou, faz tempo que não a vê, então se prepare para encontrar uma pessoa totalmente diferente.
― Quanto tempo? ― Jimin perguntou recebendo o olhar pesaroso do médico. ― Quanto tempo ainda resta para ela?
― Não podemos afirmar, mas acredito que ela ainda tenha umas duas semanas pela frente. Eu sinto muito.
O soluço preso em minha garganta rompeu fazendo um barulho estranho, enquanto meu corpo tremia por saber que eu nunca teria a chance de conquistar o amor de minha mãe. Eu nunca teria a chance de conviver com ela, pois ela morreria.
― Você precisa se acalmar, meu amor. ― Jimin disse enquanto seus braços me apertavam em um abraço. Sua mão descia e subia por minha costa e meus soluços frequentes, foram se tornando calmos. ― Vamos ver ela e dar as melhores duas semanas para ela, ok?
Seus olhos estavam vermelhos e marejados e mesmo não gostando de minha família, eu sabia que ele nunca desejou mal a nenhum deles. Eu assenti e logo seguimos o médico até o quarto em que ela estava.
Quando chegamos na porta, uma enfermeira saia empurrando um carrinho pequeno com alguns objetos ao qual eu não prestei atenção.
― Ela está acordada? ― Doutor perguntou.
― Ela estava muito agitada e com dor, então dei um sedativo para que ela dormisse um pouco.
― Ok! Queridos, foi uma honra conhecer vocês, mas preciso continuar meus atendimentos. Qualquer coisa vocês podem me ligar. ― Ele entregou um cartão para Jimin ― Tenha calma e muita paciência com ela, tá bom?
Eu concordei e ele se foi junto à enfermeira, deixando Jimin e eu para trás. Meu coração estava descompassado e meu corpo tremia. Jimin segurou minha mão e eu respirei fundo antes de tocar a maçaneta e abrir a porta.

AINDA EXISTE AMOR EM NÓS (Versão Jikook)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora