Capítulo 33

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Jungkook

Os bips das máquinas eram os únicos sons presentes ali.

O quarto era grande e inteiramente branco, com máquinas demais e móveis de menos. Eu cheguei mais perto de forma lenta e cautelosa, vendo uma figura totalmente desconhecida deitada em cima daquela cama. A tão bela Jeon Jiyu se encontrava com a cabeça livre dos fios negros e sedosos que ela tanto amava. As olheiras escuras combinavam com o rosto abatido e envelhecido, os lábios estavam ressecados e o seu corpo estava magro, mas sua barriga estava grande e inchada, assim como suas pernas e seus pés.

Minha mãe respirava lentamente, com muita dificuldade, demonstrando o quanto estava cansada. Em alguns momentos ela gemia de dor e em outros seu corpo tremia com espasmos leves, me deixando com o coração quebrado.

Aquela pessoa não lembrava em nada minha mãe, a mulher que eu sempre admirei e amei, mas ainda na sua fragilidade, eu poderia dizer que ela era linda. Toquei sua mão, sentindo-a gelada e não pude aguentar o choro que rompeu em mim. Era doloroso demais ver ela naquele estado e não poder fazer nada para salvá-la, não poder tirar suas dores e lhe devolver a vida.

A realidade de ficar para sempre sem ela me assolou em um sofrimento doloso, deixando meu choro mais intenso enquanto eu perdia a força em minhas pernas. De joelho eu chorei sem controle, apenas sendo amparado por meu marido.

Depois de muito tempo, as lágrimas foram sumindo, mas a dor do meu coração permanecia cada vez mais forte e intensa, me deixando nervoso e angustiado. Jimin me sentou em uma poltrona que tinha ali e me ofereceu um copo de água, que conseguiu estabilizar ainda mais meus nervos. Ficamos ali por muito tempo, em silêncio profundo enquanto eu vigiava o sono da mulher que me colocou no mundo. Quando a tarde estava acabando, eu notei os primeiros movimentos dela. Os dedos se mexiam lentamente e seus olhos se apertavam fracamente, até que enfim ela os abriu. Por um momento eu fiquei estático, mas uma força desconhecida me fez andar até que ela pudesse me ver.

Nossos olhares se encontraram sem qualquer cerimônia. Éramos apenas nós ali, encarando um ao outro, sem saber por onde começar ou o que dizer. Ela me avaliou de cima a baixo, mas sua voz continuava inexistente. Depois de um tempo, Jimin se colocou ao meu lado e novamente ela tirou os olhos do meu e buscou o olhar do meu marido.

Ela era como um papel em branco, sem cor, sem emoções. Naquele dia ela não disse nada e eu entendia que podia ser muito pra ela. Quando as enfermeiras chegaram com seu jantar, eu perguntei quem ficava acompanhando ela e foi então que eu descobri.

Meu pai não aparecia há muito tempo e Seojun também sumiu sem dar notícias. Senti meus olhos marejados e busquei o apoio de Jimin quando decidi que ficaria com ela naquele momento. Meu marido foi compreensivo e foi em casa buscar roupas limpas para mim.

Minha mão continuava mudando, apenas analisando toda a situação que acontecia ao redor. Seu rosto sério, não me intimidava nenhum pouco e depois de um tempo ela pareceu perceber isso. Dormimos naquela noite sem trocar qualquer palavra ou toque.

No dia seguinte, acordei mais cedo que de costume e fui tomar banho e vestir uma roupa nova. Quando sai do banheiro, minha mãe já estava acordada e parecia buscar alguma coisa, mas sua busca cessou assim que ela pôs os olhos em mim. Eu lhe dei um sorriso tímido, mas me mantive distante até que as enfermeiras pudessem dar seu banho.

Pouco tempo depois, ela já estava de banho tomado, com uma camisola limpa e um lenço na cabeça. Em seu rosto passei um pouco de maquiagem havia pedido para Jimin trazer na noite passada, junto de lenços, camisolas, e pantufas. Quando finalizei, ela estava bonita e cheirosa. Então lhe entreguei um pequeno espelho, porém minha mão continuou suspensa enquanto segurava o objeto. Novamente, ela recusou se negando a olhar sua imagem e eu apenas lhe dei um sorriso.

Naquele início de manhã, eu levei ela até o jardim do hospital para pegar um pouco de sol. Sentamos em um banco que ficava embaixo de uma árvore cheia de flores roxas e com o cheiro doce. O tempo estava fresco, com uma brisa leve que me fazia sentir em paz comigo mesmo. Depois de um tempo analisando o lugar, eu percebi que ela me olhava e lhe dei um sorriso, decido a falar, mas tremendo ser rejeitado.

― Você também vai me deixar? ― Antes que eu pudesse organizar meus pensamentos e decidir o que falar, eu ouvi sua voz pela primeira vez desde que nos vimos novamente. era baixa, quebradiça, mas no fundo tinha a melodia que eu lembrava e que tanto amava. Meus olhos encontraram os dela e vi que em meio a frieza que ela demonstrava sentir, tinham uma mistura de sentimentos confusos e desconhecidos por mim.

― Te deixarei apenas se você quiser. ― eu lhe disse, buscando sua mão para entrelaçar a minha. ― Aconteceu muita coisa entre a gente que não deveria acontecer. Você é minha mãe e mesmo que isso não seja da sua vontade, eu ainda te amo.

Ela me olhava admirada, com os olhos molhados com lágrimas que eu nunca veria. Ela acenou com a cabeça e voltou a olhar pra frente onde outros pacientes passeavam com enfermeiras ou seus acompanhantes, o silêncio era agradável e a brisa continuava a balançar levemente as folhas das árvores, deixando o cheiro das flores mais fortes.

― Mesmo depois de tudo? ― ela perguntou com a voz fraca. ― Mesmo depois de todo o ódio que eu destilei em cima de você?

― Mesmo depois de tudo, eu ainda te amo. ― minha fala fez morada em seu coração, pois logo eu senti a cabeça dela tombar em meus ombros e um soluço muito baixo me fez apertar sua mão em um apoio mudo.

[...]

Quando a tarde chegou, Jimin finalmente veio me ver. Eu estava saindo do banho quando ele bateu na porta e dei a permissão para ele entrar. Minha mãe estava deitada, olhando uma novela enquanto beliscava o lanche que as enfermeiras haviam trazido.

― Posso entrar? ― ele disse incerto, olhando para mim, enquanto esperava uma aprovação.

― Pode entrar, menino. ― a voz de minha mãe saiu com certa dificuldade, mas todos conseguiram entender. Jimin deu de ombros e se sentou ao lado dela enquanto eu ia até o pequeno frigobar buscar água para a mais velha.

― Essa novela é tão perfeita... ― ouvi Jimin suspirar em deleite, enquanto seus olhos não desgrudaram da tela pequena que ficava pregada na parede.

― Eu queria que eles pudessem viver o amor deles sem que ninguém se metesse. ― as palavras saíram da boca dela de forma lenta, mas audível. Jimin relaxou mais a postura e finalmente a olhou nos olhos.

― Às vezes é necessário passar por alguns momentos difíceis antes de conhecer a verdadeira felicidade.

Eu ri baixinho de sua fala e do suspiro pequeno que minha mãe deu. Certamente ela está encantada e eu a entendo. Jimin é um príncipe.

― Acho que eu devo me desculpar com você. ― ela lhe falou, buscando a mão dele. ― Sinto muito por ser um momento difícil para vocês, quando eu poderia ser acolhido, amor, casa. Eu fiquei horrível com os dois e principalmente com você meu filho.

― Mamãe, não precisa...

― Precisa sim, Jungkook. ― sua voz saiu agitada e seu olhar estavam marejados ― me perdoe por ter sido uma mãe horrorosa, por ter dado valor ao dinheiro e ao status quando na verdade, os meus filhos eram minha verdadeira riqueza. Depois que você se foi, eu me tornei consciente da minha infelicidade, da minha derrota perante a tudo que eu almejava e agora, eu estou morrendo, então... por favor, me perdoem por causar tanto mal.

Minha mãe chorava, enquanto tentava falar mais, porém eu não permiti. A calei com um abraço apertado, sentindo minhas próprias lágrimas fazerem caminho pelo meu rosto. Jimin se juntou a nós e ficamos assim, completos de um amor novo, mas que duraria pouco, muito pouco.

AINDA EXISTE AMOR EM NÓS (Versão Jikook)Where stories live. Discover now