Tommy com certeza sabe de algo

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A casa estava num completo silêncio aquela manhã. Talvez porque as donas do barulho estavam fora, mas principalmente porque Joel estava em casa fazendo o almoço dele. Depois das garotas terem pego a estrada para escola de Sarah, ele limpou as últimas louças e cortou alguns legumes para o assado pré cozido que ele tentava gratinar no forno. Não era um chefe, mas como pai solteiro tinha aprendido a se virar pra não passar fome.

"Caralho, cadê essa porra?" Ele xingava arrastando alguns potes de tempero no armário. "Onde ela colocou". Ela, Ana. Era ela quem cozinhava ali, aquela cozinha era mais dela do que dele e Ana se quer morava lá. A mulher tomou conta do lugar desde que aprendeu a cozinhar e, desse momento em diante, nunca mais parou de preparar seus gostosos pratos italianos. Do sal ao sabão de lavar as roupas, Ana guardava e tinha o minucioso cuidado de arrumar. Era babá e não empregada, e Joel brigava por ela fazer tudo isso. Mas Ana só sentia aquela casa como a dela, mesmo morando há uns nove quarteirões dali.

Com o dono da casa brigando ou não, Ana embalava a marmita de Joel e deixava pequenos bilhetes que o lembrava todos os dias que havia escolhido a pessoa certa para estar do lado da filha quando ele não podia. Joel se sentia grato e aliviado por ela existir na vida deles.

"Almoço? Hm" Tommy surgiu seminu com apenas uma toalha na cintura. O mais novo chegou perto do fogão sentindo cheiro da carne assando. O outro abriu o forno colocando as batatas cortadas em cima do porco. "Eu esqueci de você." Joel suspirou lembrando do irmão. "Não tá podendo comer porco ainda?" Perguntou. Tommy colocou as mãos na cintura frustrado "Você acha o quê? Que de repente a minha cicatriz curou depois do café da manhã?".

Joel não disse nada, deu alguns passos e pegou na geladeira a torta de frango do almoço de ontem. "Esquenta no microondas e come. Ainda tá bom." "Sério? Se fosse a Ana ia inventar uma coisa bem gostosa pra mim." Ele o observou de canto vendo Tommy com um sorrisinho estranho nos lábios. Joel estava confortável na sua posição de cozinheiro, com uma colher de madeira na mão e um pano de prato no ombro. "Ela te acostumou mal demais, irmão. Ana é a babá da Sarah e não a sua."

"Hm... Claro." Tommy não pode evitar de sorrir pensando em coisas não muito inocentes. "Mas bem que você gostaria que ela não fosse só a babá de Sarah." Ele se encostou na mesa, segurando o pote de torta contra a virilha. "O que tá querendo dizer com isso?." Joel franziu a testa sem entender. "E por que tá rindo igual um idiota?".

"Ah por favor. Vai me dizer que não sente nada pela garota?" Tommy certamente estava querendo estressar o irmão. Perguntar aquilo de repente não traria boas reações vindas de Joel, isso pelo simples fato que Joel ainda via Ana como uma menina que apenas tinha tomado corpo de mulher. "Não. Eu não sinto." O homem balançou a cabeça sem nem imaginar algo do tipo.

Joel tinha acabado de fazer trinta e três anos e tinha vinte e sete quando chamou a garota para ser babá. Não eram tão distantes os aniversários ao ponto dele se achar como pai dela, mas o fato de a ter visto quase criança enquanto já era adulto assustava o homem.

"Mesmo? Porque olha...". Tommy abriu o pote e colocou em seguida no microondas. "Tem um cara da empreiteira interessado nela e ele me perguntou se eu podia arrumar um encontro com ela." "Hm. E quem é o cara?". Ele indagou curioso, parando de mexer os quiabos na frigideira.

Não que saber com quem Ana saía fosse mudar alguma coisa. Joel realmente parecia não se importar, ou pelo menos tentava não se importar, seja lá qual era o seu motivo para perguntar ele ficou brilhantemente interessado.

"Daniel Meyers." Tommy respondeu. "Daniel Meyers? Meyers? Aquele que tem a minha idade?", "Ele mesmo."
Joel fez uma cara de surpreso o que não agradou Tommy. "Se você não a vê, outro cara vê." E sem dizer mais, saiu da cozinha com a torta aquecida numa mão e um garfo na outra.

Tommy com certeza sabia de algo. Ele só tinha o costume de esbarrar demais na garota dos olhos esmeraldas, esses parecendo sempre ganhar brilho quando Ana via o irmão mais velho de Tommy. Sendo verdade ou não, ele sabia que Ana tinha sentimentos quanto a Joel, mas ela não parecia querer compartilhar ou ao menos entender o que sentia.

"Ei!" Soou a voz feminina e aguda pela casa. "Alguém pode me ajudar por favor!?" E a bendita dona da conversa dos dois homens entrou pela porta da sala, cheia de sacolas nas mãos, com uma expressão cansada, uma testa suada e o cabelo preso num coque. "Nunca mais faço compras de natal, juro." Ela começou pondo as compras no balcão. "Aquele lugar tava um inferno. Tinha tanta gente, meu Deus!" Ela foi até a pia ao lado de Joel e encheu um copo de água, bebendo em poucos goles.

Ana notou a cara de desconforto do cara ao seu lado e estranhou a situação. Viu o outro sentado no sofá da sala comendo algo e imaginou o motivo da tensão no ar. "Estavam falando de mim?" Perguntou ela brincando, sem saber que realmente falavam dela. "Que caras são essas? O gato comeu a língua dos dois?" Eles permaneceram calados e ela se sentiu deslocada. "Bom, se não vão falar nada pelo menos peguem o restante das coisas no meu carro. Eu tô cansada."

Ela largou o copo na mesa e se virou para Joel, soltando o cabelo enquanto abanava o rosto. "Vou tomar um banho." Disse, passando por ele de vagar e se inclinado sobre o fogão vendo o que preparava. "Hm." Ana pegou a colher de pau na mão dele e experimentou o tempero dos legumes. "Parece bom..."

"Foi você quem me ensinou a fazer." Ele respondeu com um sorriso no rosto, provavelmente orgulhoso pelo elogio. "Vou tomar um banho e buscar a Sarah pra irmos no shopping. Voltamos as 18:30 como você disse. Okay?". Ele concordou vendo ela sair de perto e deixar um rastro do seu característico perfume adocicado que ele, particularmente, apreciava.

Tommy, na sala, esticou o pescoço sobre o sofá e viu a cena com um adorável sorriso no rosto. "Sério?" Ele gritou para o irmão. "Não sente nada?".

We Are Family - Joel MillerWhere stories live. Discover now