Problemas na rotina

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Tommy desceu a escada da casa com pressa, pulando os últimos três degraus. Sua atenção estava dispersa e nem escutou quando o irmão o chamou na cozinha. O moreno vasculhou a gaveta da cômoda na sala, procurando algo em particular. Onde estava? Onde tinha deixado a droga do livro? Ele pensava, ficando aborrecido consigo por esquecer onde o tinha deixado. Tommy, cansado da bagunça que já tinha feito, respirou fundo pondo as mãos na cabeça. "Que porra."

"O que foi aí?" Joel perguntou enquanto mastigava o cereal.

"Acho que perdi uma coisa."

"Algo importante?" O mais velho retrucou.

"Éh, talvez." Tommy respondeu indo até ele. Pegou uma vasilha servindo o leite frio disposto em cima da mesa. "Coisa da Emily." Ao vê-lo falar o nome da garota, Joel tossiu involuntariamente.

"Emily não é aquela amiga da Ana?" Joel indagou, mastigando o nada dentro da boca. Ele sabia quem era a mulher, mas estava curioso para tirar qualquer informação daquele relacionamento que ninguém sabia em que pé andava. Tommy assentiu, dando uma colherada no leite com os pequenos flocos de aveia. Mas que merda, ele não colaborava, não falava. Como Joel descobriria da vida do irmão se nem mesmo Ana estava sabendo da última fofoca?

Em contra partida, quem disse que Tommy estava escondendo algo? Nos últimos cinco meses ele falou de tudo sobre tudo com Emily. Encantado, abobado, um homem enlaçado, realmente apaixonado nos cachos ruivos de Emily. Quando Joel estava e não prestava atenção nele, Tommy, grudado no telefone da sala, perguntava do último livro lido por ela, a convidava para alguns jantares e voltava aquele mesmo assunto, livros. Novato na temática, tinha uma boa desculpa para encontrá-la no meio do seu expediente: "Preciso de uma indicação de leitura, o que você acha de tomarmos um café gostoso enquanto me fala das suas histórias favoritas?" E sempre funcionava. Emily e Tommy passavam horas na loja de discos na cidade, bebendo algo e rindo das criancices do homem, que tinha um apego por romances de época e adorava ler uma boa cena repleta de desejo - para não dizer outra coisa.

Eram fofos, delicados e apaixonados. E quase esquecendo do detalhe mais importante, recém namorados. Então, se Joel tomasse coragem e fizesse uma simples pergunta a Tommy como 'você está saindo com essa garota?', ele teria uma resposta rápida e pura, Joel ganharia um sorriso no rosto e um bonito 'sim'.

"Certo." Joel disse, vencido de que não teria nada de Tommy.

"Certo." Tommy replicou, entendendo que Joel jamais teria coragem de perguntar qualquer coisa para ele. "Você vai hoje ou quer que eu vá no seu lugar?" Ele mudava a direção da conversa, o lembrando do trabalho.

"Eu vou e fico até ás nove, faço os dois horários e você pega pela madrugada."

"É muito serviço, vai ser muito pesado para você." Tommy parava de comer, preocupado com as mais de doze horas que Joel teria de enfrentar.

"São muitas contas para pagar, Tommy. Sem o trabalho na empreiteira o que eu ganho em oito horas não paga as despesas de um dia aqui em casa." Ele não precisou usar de tom alto para fazer o irmão entender.

Após alguns meses num embate entre os chefes e a equipe de Joel, a empresa a qual trabalhavam os desligaram dos serviços. A questão a ser defendida pelo homem era de que o projeto que vistoriavam era um caos. Nada era feito para refazer os cômodos com problemas na casa dos Addams. Joel queria avisar sobre os erros de negligência cometidos pela empresa, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa que fosse ferrar a gestão da empresa, algo simples foi feito: Joel e Tommy junto com boa parte dos trabalhadores que faziam a vistoria dos projetos foram despedidos.

"Bom dia, família!" Ana colocava o primeiro pé na cozinha, andando com dificuldade até a mesa onde estavam. "Ah..." O sorriso alegre murchava em decepção. "Não acredito que já tomaram café. Eu acordei as cinco da manhã só pra assar pães e vocês comem a droga de um cereal seco que tá guardado nesse armário a sei lá quantos meses?"

We Are Family - Joel MillerWhere stories live. Discover now