Curiosa e observadora

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Estavam de acordo de que aquele final de ano não passariam juntas. Era raro de acontecer, mas Ana e Sarah não veriam os fogos a meia noite. Ao saber daquilo dava pra perceber no rostinho da caçula o quanto ela queria o contrário.

A questão era: Ana tinha uma vida fora da casa dos Miller. E possuía amigos muito chatos que constantemente reclamavam do fato dela preferir a companhia da menina ao invés da deles. Outro dia a mulher fazia compras no mercado e encontrou uma ex colega do ensino médio que a encheu de perguntas inconvenientes e a fez lembrar de outros nomes conhecidos que acabou não mantendo contato. "Você ainda é babá daquela garotinha?", "Ainda não entrou na faculdade?", "Não conversa mais com a Joana e o Sam?". E por aí foi.

Como não queria ser desagradável com Carol Davis, nome da antiga colega, acabou se colocando numa terrível situação. Aceitou ir a uma festa no campus da St. Edward's University onde alguns dos seus amigos também estariam. Não era longe, ficava há uma hora de carro, porém, o problema não era a distância e sim, aquela gente toda se achando superior a ela.

Fora isso, também não gostava daquele tipo de festa, com álcool, maconha e todas essas porras que os calouros na faculdade curtiam. Contudo, Ana viu uma oportunidade de conhecer a universidade. Não estava nos planos dela começar um curso agora, o pai quebrado financeiramente e ela não tinha guardado grana o suficiente para pegar um empréstimo estudantil. Ela só queria sonhar um pouco e era isso que a animava para aquela noite.

P.O.V.
Sarah Miller

Todas as manhãs eram calmas. Acordava sozinha e descia as escadas para tomar café da manhã, encontrando Ana, tio Tommy e papai sentados juntos na mesa da cozinha. "Bom dia princesa." Papai me dava um beijo como sempre fazia. "Quer um pedaço de bolo de chocolate, meu amor?" Eu sorria para Ana e ia até ela, abraçando as suas costas. "Quero sim."

Eu adorava estar perto deles. Eu podia rir e comer e me sentir protegida, amada. Todos os meus dias eram bons ao lado deles e quando não eram, bem, eu podia contar com o meu pai pra me abraçar e escutar os meus terríveis lamentos, tio Tommy pra me fazer sorrir com as piadas idiotas e Ana, que dava os melhores conselhos e de quebra também preparava os melhores cookies.

Parecia que tudo tava indo tão bem... Até não ir mais. Eu não sei se eles pensavam que eu era burra ou ingênua, mas por algum motivo tentavam a todo custo esconder o fato de que a relação daqueles três estava mudando. Primeiro que papai começou a trabalhar demais, não que não fizesse isso antes, mas agora ele nunca tava cem por cento presente, nem mesmo tomava mais café da manhã com a gente. Segundo, era Ana evitando falar. Ela que falava como uma matraca, de repente começou a regrar tudo o que saia pela boca, principalmente quando nós duas estávamos perto do meu pai. Me dava agonia aquela situação. Ana era a minha melhor amiga e era tão óbvio que estava me escondendo alguma coisa. Terceiro, tio Tommy foi o único que não mudou muito, apesar de que esse também parecia ter começado a se policiar quando o assunto era papai e Ana.

Então, chegava a conclusão que eu estava sendo excluída de algo extremamente importante. E eu, Sarah Miller, odiava ser excluída.

"O que vamos fazer de noite?" Perguntei, ajudando o meu pai com algumas tábuas de madeira na garagem. Meia hora passou desde da chegada dele da empresa sem o tio Tommy, o que era incomum. Papai martelava alguns pregos contra a peça maciça enquanto eu apoiava os braços em cima, segurando pra não sair do lugar.

We Are Family - Joel MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora