Onde todos são quem deveriam ser

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"Você é adorável."

"Gosto do seu sorriso."

"Adoro te ver quando vai a empresa."

"Nós podemos fazer isso mais vezes."

Essas além de outras foi o que limitou a conversa entre mim e Daniel a noite toda. Ele não conseguia parar de falar sobre mim e aquilo era um saco. Eu odiava estar lá, me apertando no assento da cadeira extremamente constrangida por passar duas horas sendo elogiada, me sustentando com um sorriso fraco e muitas palavras de agradecimento.

Foi insuportável. Quando nós nos vimos em casa - na minha e não na dos Miller, foi tudo rápido demais para eu conseguir desistir lá mesmo. Daniel estava bonito, todo arrumado com roupa social, o que eu entendia. Ele estava querendo me impressionar, mas eu nunca fui de me interessar por roupa, sempre foi a conversa, e Daniel, meu Deus, era entediante quando se esforçava tanto para ter a minha atenção.

Eu esperava que fosse divertido, e fiz de tudo para continuar alguma de nossas conversas animadas trocadas no escritório, onde ele era ele, carismático e engraçado, e eu, só uma boa ouvinte de suas histórias. Não, ele em nada me atraía, e também não era um alvo para fazer ciúmes em Joel - depois de tudo o que tivemos não seria apropriado tentar causar ciúmes nele. Mas já que eu estava lá, de cachos feitos e vestida lindamente com o meu vestido azul tubinho, iria, no mínimo, retribuir de alguma forma o homem que se esforçou para me trazer ao meu restaurante favorito.

"Você tem filhos?" Em minhas tentativas de desvendar a figura sentada na minha frente, lancei sobre ele. "Hmm, não." Daniel respondeu sem interesse. Ele marcou a borda da taça de vinho com o dedo indicador e depois pousou a mão na boca. "Não gosto de crianças." E então ele deu o tiro no próprio pé.

A fala me deu um brilho na mente e eu finalmente pude entender o desinteresse nas últimas vezes que falei algo. Citava Sarah durante o jantar e quando isso, Daniel fingia uma tosse fraca, olhando para as outras mesas e fugindo de tudo o que tinha a ver com a garota. "Ahan, bem..." Fiquei um pouco desconcertada no começo, mas não dava para esconder quem eu era, alguém assumidamente apaixonada por esses pequenos seres humanos. "Eu as adoro." E sorri com certa superioridade, mostrando ter me incomodado. Depois daquilo, mais sorrisos foram dados e elogios demasiados entediantes foram proferidos.

Passava das 21:00 quando cheguei em casa e, para não acordar papai que já dormia no andar de cima, evitei fazer barulho quando subi para o quarto. Lá, a mesma bagunça deixada por mim e Sarah mais cedo, maquiagem na cama, a camiseta rosa no chão próxima ao guarda-roupa e um par de tênis All Star largados de qualquer forma do outro lado do quarto. Deletei tudo aquilo da visão e ignorei, me jogando no colchão. Não sei quanto tempo fiquei ali, apenas contemplando a beleza do teto branco acima da minha cabeça, me sentindo bem apesar da noite.

Lembrei de Joel e rebobinei minha mente, querendo estar de novo no calor do seu abraço forte. Me deixei sorrir, morder os lábios pensando nele, agora eu fazia não mais em fantasias, mas em memórias.
Eu tinha dormido com Joel Miller. "Caralho." A ficha estava caindo.

Dessa vez era verdade, nós nos beijamos e não era questão de sonho, era a mais pura realidade. "CARALHO EU TRANSEI COM O JOEL!" Gritei de repente, apanhando a boca com as mãos com receio de ter sido ouvida por meu pai. E igual uma adolescente que eu a pouco deixava de ser, enrolei meu corpo pelo lençol, rolando pela cama sem conter o êxtase, deixando minha risada alta se alastrar pelo cômodo.

We Are Family - Joel MillerWhere stories live. Discover now