Vulnerável a ele

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P.O.V.
Ana Wilson

Eu tentava a todo custo esquecer o nosso pequeno momento eufórico na sala aquele dia, mas porque caralhos eu precisava tentar de uma forma tão adorável? Sim, quem sorri e acena para o cara que te deu o maior fora da história? Pelo que parecia, eu. Eu estava completamente dominada por ele mesmo que eu lutasse contra isso. Não dava para não ficar vermelha e quente ao perceber os olhos dele sobre mim, porque ele me olhava o tempo todo. O tempo todo... Maldito tempo que não passava.

"Daniel? Oi? Tudo bem?" Ao telefone me concentrava ao falar com aquele homem, que eu não fazia ideia da razão de estar me ligando. "Ehn-éh Ana? Oi! Eu queria falar com você faz um tempo." Ele gaguejava, alternando a voz de um tom fino para um mais grosso. "Claro, fala." Respondi, percebendo segundos depois o quão mal educada tinha saído. "Eu tô te atrapalhando? Te interrompi em alguma coisa?" Até demais, não tinha pior momento para ter ligado.
"Não. Desculpa, eu só tô com dor de cabeça."

Enquanto ele falava, me peguei enrolando entre os dedos o fio do telefone preso a parede quando observei por cima do ombro direito Joel fazer qualquer coisa na cozinha. Ele vestia uma blusa cinza, me dando a perfeita visão dos músculos dos braços contraírem da maneira como gesticulava. As mãos grandes dele agarravam um e outro pote deixados na bancada, e eu pude sentir minha pele formigar ao só vê-lo fazer e imaginar uma cena pervertida. Sem perceber, estava com o fio telefônico na boca, mordendo o, pensando no corpo de Joel em contato com o meu, me imaginando sendo apertada e agarrada como ele fazia com os utensílios da cozinha. Mordi o lábio inferior, abanando o rosto com a mão livre do telefone.

"Ana?" Escutei do outro lado da linha, me assustando e voltando a realidade decepcionante. "O-oi." Respondi tirando o cabo da boca e encostando a cabeça na parede, meu coração desacelerava. "Então? Você topa?" "Topar?" Eu não sabia do que Daniel falava, muito provavelmente porque havia passado os últimos segundo no paraíso Miller. "Sair com você?" Lembrei da última frase e repliquei esperando que fosse aquilo. Sair com ele? Para fazer o quê? Um encontro? Eu não pensava em Daniel assim, se quer aquilo passou na minha cabeça um dia, e agora o homem estava ali me convidando para jantar com ele? "É, digo, somos amigos. Certo?" Questionou ele, recebendo de mim um aceno seguido por um "Ahan."

Daniel era um cavaleiro sempre. Me fazia companhia quando Joel não estava no escritório e eu precisava esperar. Normalmente falávamos de como ia o nosso dia, boa parte mais sobre mim e nem tanto dele, o que eu tinha feito com Sarah, cozinhado e essas coisas. O pouco que eu sabia sobre ele era que era um cara engraçado, gostava de carros e amava vinho - os retratos que tinha segurando taças, em cima da mesa de trabalho dele me faziam imaginar isso pelo menos. "Estava pensando em irmos conversar um pouco, só isso."

"Tudo bem. Não vejo problema nisso." Daniel era o meu amigo, eu conseguia o ver dessa forma. E ele estava me oferecendo um jantar de graça que eu não recusaria. "Pode ser amanhã às 19:00?" "Como você quiser. Te pego nesse horário na casa do Joel?" Ao ouvir o nome dele, voltei a minha atenção para a cozinha, procurando Joel que já não estava no lugar de antes. Balancei a cabeça frustrada. Como eu desejava que Joel se importasse com isso. Minha cabeça ficou meio perdida no que estava no meu ouvido e na pessoa que não saia da minha mente. Eu hesitei. Diria a Daniel que me buscasse na casa dos Miller, mas não faria sentido algum tentar provocar ciúmes em quem eu sabia que não pensava em mim, só mostraria o quanto Joel estava certo, que eu ainda era muito jovem para ele e extremamente imatura por tentar fazê-lo sentir algo por mim. "Não. Pode ser na minha casa mesmo, fica no fim da rua Paxton."

Quando ele finalmente desligou, parei por um tempo a mercê da parede marrom a minha frente. Ela era tão feia quanto a minha vida amorosa, e talvez um pouco engraçada também. Eu sorri como idiota, nervosa e apreensiva. Eu não era ingênua, aquilo definitivamente era um encontro. "Ei!" Sarah gritou atrás de mim, enlaçando minha cintura com os braços pequenininhos. "Por que tá rindo feito uma tonta pro nada?" "Eu acho que é por isso mesmo. Porque sou uma tonta." Respondi me virando para ela e apertando o nariz gorducho da menina. "Nós duas somos, Naná." Não existia momento em que ela não concordasse comigo, era fofo e eu a adorava.

"Os biscoitos já tão prontos!" Sarah gritava para o tio no segundo andar. "Papai, vai querer mais um?" Joel olhou em minha direção como uma criança pedindo ajuda. Ele era um pai que amava a filha, mas odiava os biscoitos feitos por ela. "Hmm, mas eu já comi três... Por que não deixa pro seu tio?" Respondeu se saindo e abrindo uma garrafa de cerveja. "Tudo bem, você pode comer mais um. Fiz tanto biscoito que a Ana vai até levar pro senhor Wilson."

Enquanto ela tentava obrigar Joel a comer mais, eu embalava o resto dos biscoitos com um pedaço duro estralando no meio dos meus dentes. Não era exatamente bom, mas dava para comer. "Sabe pai?" A vi dar a volta na mesa de jantar e se sentar no colo de Joel. "Como tem muito, por que você não aproveita e leva um pouco pra mulher que você gosta?"

Eu congelei. Parei de mastigar e só encarei os olhos de Joel se arregalarem diante do que Sarah havia dito. Ele tinha alguém e já até tinha falado para Sarah sobre ela. "Vai mostrar que ela é importante." Sarah repetiu a ideia. Joel forçou uma tosse, balançando a cabeça em negação para a menina. Ele estava a mandando ficar em silêncio porque sabia que eu não tinha gostado de ouvir aquilo.

O que eu mais odiava na situação era que eu me sentia vulnerável perto dele, ele sabia exatamente o que eu sentia, meu rosto, meus gestos falavam por mim. Já ele, estava lá, sempre parrudo e certo sobre tudo, e nenhuma dessas certezas era sobre mim. "Você sabia Ana? Que o papai está apaixonado?" Lutando contra o nó que se formava na garganta, forcei um sorriso sem mostrar os dentes. "Ahanhãn." Neguei. "Papá acha que eu não sei quem é..." Ela deu um sorriso convencido a ele. "Mas, hmm." Voltou os olhos castanhos na minha direção, piscando um deles. "Mas eu sei."

O meu coração apertou, sentindo acelerar de repente. Era um teste para cardíaco conviver com aquela família. "Sarah..." Joel repreendeu a menina sentada no seu colo. Ela apenas desceu das pernas dele ainda rindo para nós dois.
Foi quando Tommy surgiu no cômodo vestindo uma jaqueta preta e óculos escuros. "Hmm biscoitos!" Disse, colocando na boca e mastigando de uma vez.
"Tio Tommy e eu vamos assistir Toy Story 2 no cinema." "Nós vamos?" Ele perguntou sem parecer saber do que ela falava, se engasgando com o biscoito. "Vamos."

E sem demorar muito, eu e Joel fomos deixados para trás. Ele preso a cadeira com a cerveja na mão e eu presa aos meus pensamentos conturbados.

We Are Family - Joel MillerHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin