"Eu? Sou Tommy"

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"E como ele reagiu?" Tommy encarou o trânsito fervente. Merda, odiava dirigir em horário de pico. Todo mundo apressado para voltar para casa depois de um dia cheio no trabalho, enquanto, em sentido contrário, Ana e o cara seguiam o caminho para a cidade. "Na verdade, muito bem. Agora falta a pequena fera." Respondeu ela, fechando os olhos e adormecendo ao som de 'Voyage, Voyage' tocada na rádio.

Era monótona a rotina do homem que batia os dedos vibrando no ritmo da melodia. Não fazia muita coisa em seus dias, seu último grande show, como gostava de pensar a vez que levou uns socos e foi socorrido por Joel, havia sido a pouco mais de uma semana. Desde então, ou estava no trabalho, ou em casa fazendo nada. De repente, parou o carro e saiu do modo automático, sendo tirado do transe mental pelas buzinas dos motoristas impacientes atrás dele. Ana permaneceu desacordada.

Via, ao voltar a ganhar velocidade pelas ruas de Austin, alguns oficiais fardados caminhando, fazendo continência e depois correndo enquanto se exercitavam a beira das calçadas. Não era estranho os ver por lá, já que uns 4kms dali uma base de treinamento fora construída uns dez anos atrás e onde, Tommy também havia passado boa parte do alistamento.

Ele lembrou-se de quando entrou, das brigas entre ele e Joel, do medo do irmão de tê-lo em guerras que não eram dele. Mas tudo o que Tommy queria era ser algo a mais na vida e ele sabia que se parasse no tempo como o irmão, ele definharia. Não foi fácil entrar no exército e, cara, permanecer lá dentro mais difícil ainda. Teve que escutar tantas coisas, suportar muito, de insultos a espancamentos noturnos. Ele passou a mão na testa, sentindo uma súbita fadiga contrair os músculos. Foram os piores anos da sua vida.

"Chegamos." Anunciou desafivelando o cinto de segurança e abrindo a porta do carro. Ana coçou os olhos e os abriu com dificuldade, ainda sonolenta. "Eu nunca tinha visto esse lugar antes. Sempre esteve aqui?" Tommy perguntou a mulher que respondeu entre bocejos. "Acho que só tem alguns meses que abriram. É dos pais da minha amiga, Emilly."

A loja de um enorme letreiro luminoso na fachada era chamada de 'Cuz Music'. O estilo retrô chamava atenção de Tommy, que gostava da pegada anos 80 que o ambiente exalava. Ao entrarem, Ana se dirigiu ao caixa e começou uma conversa calorosa com uma garota ruiva atrás do balcão, naquele meio-tempo Tommy passeava pelos corredores longos lotados por CDs e vinis antigos e também recém chegados. Ele parou com os braços cruzados na frente de um especial e puxou a embalagem de plástico. 'Enema Of The State' álbum da banda Blink-182 reluzia nas mãos com a capa chamativa de uma enfermeira loira de batom vermelho.

Tommy leu a coletânea de músicas na lista atrás da capa e sorriu timidamente para si quando lembrou de uma garota que o dedicou a música 'Adam's Song'. Não era o tipo de canção que se dedicava a alguém, era depressiva demais para isso, porém, quando sua velha amiga Teresa cantou em cima de um balcão num barzinho esquecido da cidade enquanto bebiam vodka, tudo ficou exatamente perfeito.

"Pode colocar essa para tocar?" Tommy pediu, cortando a conversa das duas amigas. "Nossa, você gosta de Blink-182?" A mulher amiga de Ana, perguntou interessada. "Difícil encontrar um texano que goste." Ela continuou sem manter contato visual. "Eu sou texano e gosto." Tommy riu, a vendo desembalar o cd e inseri-lo na caixa de som.

Ana, carregando uma sacolinha preta nas mãos que antes não estava, apresentou os dois. "Essa é a minha amiga, Emilly. A que eu te falei." Emilly, voltando a sua posição anterior, apressou um bonito sorriso e levantou a mão para cumprimentar o homem. "E qual é o seu nome? Carinha com o gosto bom para música?" Sem jeito, ele retribuiu o gesto e apertou a mão dela, sentindo o toque gelado causado pelos anéis usados por ela. "Eu? Sou o Tommy." Aquele aperto de mãos demorou mais do o esperado. Tommy, sem querer, admirando as covinhas por debaixo do óculos redondo usado pela outra, acabou esquecendo por alguns segundos a existência da amiga.

We Are Family - Joel MillerWhere stories live. Discover now