Rumo desconhecido

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"Você ainda não tirou seu horário de descanso e não faltou nenhum outro dia." Não temos muitos alunos hoje, tire o resto do dia de folga." O professor de um dos itinerários da faculdade disse a Ana. Frederico Dawson era um homem elegante que rotineiramente usava paletó azul, calças caqui e sapatos esportivos de quem corria duas quadras, indo de uma sala até a outra, para dar aulas que ele odiava; cálculo e economia. Ele era rabugento para um cara de trinta e quatro anos, mas tinha suas razões.

"Tem certeza, Fred?" O apelido que ele obrigava todos usarem quando conversavam com ele, saiu pela boca de Ana. Ela queria mesmo sair de lá, largar o dia chato naquela sala quente onde tudo o que tinha era uma mesa ao lado da do professor, onde passava as últimas quatro horas trabalhando em provas de alunos de períodos diferentes do dela. "Sim, você pode ir agora." Seu rosto era uma depressão sem fim, ligando para a existência da mulher como ligava para o hambúrguer de carne de soja jogado no lixo daquela sala.

"Certo. Obrigada e até amanhã." Ana caminhou de costas, rastejando até a porta, torcendo para que Dawson não mudasse de opinião. "Vá, vá." Ele repetiu sem interesse, riscando as muitas folhas de respostas do teste que passara mais cedo, achando todos os alunos extremamente desprovidos de inteligência.

"Ei, garota!" Carol gritou num escândalo que chamou a atenção de outros que perambulavam os corredores da velha universidade. A loira tinha olheiras fundas e a camiseta preta dos 'Rolling Stones' era a única peça no corpo além de um short curto que não se via. A garota tinha passado mais uma noite virada, bebendo, fumando e fazendo mais sei lá o que com Harry, Oliver e os outros estudantes que estavam ali para curtir e não tinham tantas obrigações quanto Ana -que também tinha marcas escuras debaixo dos olhos, mas não pelas mesmas razões da amiga Carol.

"Oi, querida. Por que você está assim a essas horas?" Ana perguntou, notando a bagunça dos cabelos de Carol. Ela coçou o nariz e apertou os olhos com força, odiando o jeito cordial como a outra costumava falar. "Demos uma saidinha mais cedo no nosso dormitório, esqueceu? Por que não passou por lá quando chegou?"

Ana pareceu pensar. Os olhos verdes passaram a fitar a parede coberta pelos cartazes de jogos de futebol atrás de Carol. Ah, sim, aquele café da manhã as dez que ela tinha sido convidada era naquele dia. "Desculpa, Carol. Eu esqueci." Ana mordeu os lábios, pendendo a cabeça para o lado e contraindo os ombros. Carol bufou. "Novidade." Foi o que a loira disse, a deixando desconfortável. "De qualquer forma, eu não teria ido mesmo. Você sabe que nesse horário estou na minha terceira aula."

A desculpa sincera não pareceu ter surtido efeito na carranca a sua frente. Carol não sabia porque ainda a convidava para suas confraternizações se no fim do dia estaria ouvindo os mesmos tipos de respostas vindas da morena ocupada demais com o trabalho, estudos e aquele relacionamento que ela tinha com aquele cara mais velho fora da cidade. "Que fosse no seu dia de folga, você nunca vem." Carol comentou farta das situações.

"Você sabe que os fins de semana eu fico com Sarah e Joel. Eu não tenho muito tempo com eles como tenho com você aqui no campus. Preciso, pelo menos, ficar esses dois dias com a minha família." Ana se justificou mais uma vez. Ela odiava fazer aquilo, mas gostava de Carol e sentia a necessidade de se explicar mesmo quando Caroline já deveria ter entendido que Ana não levava uma vida fácil como a dela. Porque, porra! A vida dela era extremamente fácil.

Caroline Davis fez vinte e um em quatro de fevereiro e ganhou um apartamento numa área disputada de Austin. Relutante, aceitou o presente dos pais com um meio sorriso no rosto -ela queria uma cobertura com uma piscina e ao invés disso ganhou um pequeno loft com dois quartos. Não trabalhava, obviamente, e frequentemente estava bêbada no seu dormitório que ela raramente usava para dormir. Era uma garota mimada e problemática que se achava o centro do mundo. Mas apesar disso, ela não era do tipo Garotas Malvadas, não, Caroline era boa com Ana e a glorificava, queria ser como ela apesar de adorar criticar o jeito pacífico demais da garota.

We Are Family - Joel MillerWhere stories live. Discover now