A MUDANÇA TEM DATA

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A laringe de Olívia fechou quando a tromba de água lhe invadiu os pulmões, que imediatamente se puseram em ação tentando inutilmente, trazer ar de onde não encontrariam. Ela apenas afundava mais e mais nas águas do mar de Barcelona. Instintivamente, abriu a boca para gritar, ninguém podia ouvi-la. Com movimentos instintivos de sobrevivência, bateu os pés nadando. Em que direção estava a superfície? Alguns peixes passaram por entre minhas pernas indiferentes ao pânico que sentia lutando pelos últimos vestígios de vida. Até que, o pulmão encharcou de água, o cérebro não recebia oxigênio e Olívia deixou flutuar, afundando lentamente.

A busca por ar a fez saltar na cama. Abriu os olhos, respirando ofegante e se deparou com a imagem familiar de seu quarto na penumbra. Tinha sido um pesadelo. Aliviada, tateou o criado mudo afim de pegar o celular. 

Fazia duas semanas que não se viam

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Fazia duas semanas que não se viam. Agora seus encontros com Gerard eram cronometrados pelo tempo que Alina estava em Barcelona. Resmungando Olívia voltou a se jogar entre os travesseiros. Estava farta da posição de vida em pausa esperando para ser feliz. Seus sentimentos eram uma montanha-russa, oscilando entre iluminada, a toda velocidade à introspectiva, vegetando no sofá.

— Em que você está pensando, Olívia?

Gerard perguntou. Já caminhavam a cerca de uma hora pela montanha de Collserola. Ele pareceu estranhar raro silêncio dela.

— Já pensou que se não dizemos "não" ao outro, se não traímos a expectativa do outro, dizemos a nós mesmos?

—Não entendo.

—Nada... Estava só penando sobre uma coisa que li: fazer escolhas é basicamente um "não". Ou para si, ou para os outros. Por exemplo, se te chamo para essa caminhada. Você não queria vir. Tem que escolher dizer não a mim, e não vir. Ou dizer não à você e vir.

— Não pensa que há pessoas que vão ficar desapontados com essa atitude? — Gerard parou, apoiando-se em uma das árvores. — Olívia, você tem certeza de que conhece essa trilha? Estamos perdidos?

— Mas, se a pessoa me ama, tem que me amar como eu sou. Se finjo ser outra coisa, amarão essa outra coisa que não sou eu! Eu sei onde estamos. Eu acho. — Parou para esperá-lo.

—Olívia, estou vendo a hora de que a gente vai cair em alguma das covas de mais de 1000 anos que tem na serra!

— São covas de seis mil anos, período neolítico. Estamos bastante longe de Sant Just para ver alguma. Por que acha que não mudamos de direção quando percebemos que estamos indo pelo caminho que não queremos?

Gerard não respondeu de imediato. Como sempre.

— Você sabe o que são os AVE? — perguntou ele. Olívia afirmou saber o que eram os trens de alta velocidade espanhóis. — E da primeira lei de Newton?

Ela não tinha certeza do que se tratava.

— A Lei de Newton, diz que todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou movimento retilíneo uniforme, a menos que haja uma ação de forças impressas sobre ele. Os AVE vão em movimento reto constante a uma velocidade média de 310 quilômetros por hora.

A RESPOSTA DE ALINA ( CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now