Anjos no jardim.

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10 de março

"O tempo cura todas as feridas."

Engraçado, Hermione nunca tinha prestado muita atenção a essa frase antes. Ela nunca pensou duas vezes sobre isso, apenas considerou algo que seu frágil e decadente avô costumava dizer. Não importa quão raso ou montanhoso fosse um problema, essa frase era sua resposta para tudo.

"O tempo cura todas as feridas, meu bem", dizia ele a quem precisava ouvi-lo, com um brilho nos olhos e um bigode enrugado no sorriso. "Tempo, e uma boa xícara de chá."

Ele murmurava isso para a avó dela sempre que colocava a chaleira de cerâmica no fogão – mesmo com o avanço da tecnologia, ele se recusava a se adaptar, preferindo o antigo método de panela e fogo para aquecer sua amada xícara de chá. Disse que tinha um gosto melhor. Hermione concordou. Ele disse isso para a mãe de Hermione enquanto acrescentava leite e dois açúcares – do jeito que ela gostava – e entregava a ela uma caneca depois que ela quase sofreu um acidente de carro. Ele colocava isso no cabelo de Hermione sempre que ela caía da bicicleta quando criança, e daquela vez ela foi mordida por um esquilo.

Ele até disse isso no funeral de sua avó. Sua oração final, sua carta de amor de despedida levada pelo vento enquanto observava o caixão que continha sua esposa, sua alma gêmea, ser baixado ao solo, antes que eles se encontrassem novamente. "O tempo cura todas as feridas, minha querida. Tempo e uma boa xícara de chá."

Apesar de sua constante alegria e firme crença no assunto, Hermione tinha certeza de que havia encontrado a única coisa que o tempo, nem mesmo a melhor xícara de chá, poderia curar.

Ela tinha certeza, enquanto gritava em uma banheira cheia de sangue de Seamus, que o tempo não poderia curar a cratera que estava se formando em seu peito.

Ela estava certa, enquanto Astoria se agachava atrás dela e ensaboava seu cabelo com xampu e descascava pedaços de carne emaranhada de seus cachos, que o tempo não poderia curar isso. Nenhuma quantidade de tempo poderia curar essa dor, essa maldita dor que parecia que sua espinha tinha sido arrancada de seu corpo e estava sendo usada para estrangulá-la.

O tempo não poderia curar isso, não em uma semana.

Não em um mês.

Nem mesmo em um ano.

E uma boa xícara de chá certamente não faria o trabalho também.

~*~

28 de março

— O que você acha, Hermione? — Astoria gorjeou. — Qual você prefere?

Ela ergueu a cabeça e olhou enquanto a loira pendurava dois ramos diferentes de flores – rosas brancas e peônias cor-de-rosa – sobre o novo vaso na mesa de cabeceira de Hermione.

— Vou deixar isso com você, — Hermione deu um sorriso de boca fechada antes de se virar em seu poleiro e encarar a janela novamente. — Seu gosto é muito melhor que o meu.

Ela ouviu Astoria suspirar pesadamente atrás dela, um pouco derrotada, antes de começar a cuidar das flores e cortar as folhas com sua varinha.

Nas semanas que se seguiram à morte de Seamus, depois que Astoria lavou o sangue do cabelo de Hermione, depois que ela a segurou no banho enquanto ela soluçava, choramingava e chorava por seu amigo, ela mal saiu do lado de Hermione. Ela se tornou como uma abelha mãe protetora, constantemente se preocupando e pairando sobre cada movimento de Hermione.

Apesar de seu tamanho pequeno e comportamento delicado, sua proteção era muito mais eficaz do que Hermione poderia imaginar. Nenhum dos homens chegava perto de Hermione se Astoria estivesse por perto. Não passavam do limiar de seu quarto se Astoria estivesse empoleirada no parapeito da janela com ela. Não seu marido. Não Theo. E nem mesmo o Máscara Demoníaca a quem pertencia a janela.

Secrets And Masks | DramioneOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz