Perceria improvável

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     Meu corpo inteiro estremece e minhas pernas perdem gradativamente as forças. Fico tonta. Fecho os olhos.  Claro que você tem que desmaiar Alice... Aff!

      Tento me amparar na cadeira mais a frente, porém percebo ao me mover, que não vou conseguir chegar nela. Quando penso que meu mico será enorme, sinto um par de mãos me mantendo firme no lugar. Seu perfume me toma por completo e as lembranças de todos os sonhos que já tive com ele, me invadem. Mas, meu desespero vem quando sua voz melodiosa e perfurante, adentra aos meus ouvidos.

— Sei que deve estar surpresa, mas, se desmaiar agora, não vamos conseguir ter a noite que planejei. - Ele me trás mais para perto de seu corpo. Meu coração está na boca. Bate tão forte que talvez ele consiga sentir ao me tocar.

— S-seu perfume é...

— Eu sei. - Ele me leva até a cadeira e lentamente me ajuda a sentar. — O seu também é incrível. 212 Carolina Herrera, eu presumo. - Diz, dando a volta na mesa e sentando-se bem de frente para mim.

    Ficamos nos encarando por um longo minuto inteiro, até que vejo aquele sorriso sem jeito surgir em seus lábios.

— Perdão. Eu não quis ficar te encarando... É que... Eu não estou entendendo. - Paro de falar momentaneamente, respiro fundo e retomo. — Achei que fosse...

— Meu pai. - Completou ele e eu apenas concordei. — Achei melhor assim, já que parece que vocês fizeram uma amizade. Pensei que o susto seria menor. - Finalizou, dedilhando a mesa a sua frente.

— Não foi. - Respondi enquanto minha atenção se voltava para seus dedos que ainda batiam contra a madeira da mesa. — Disse que queria me conhecer finalmente... Eu...

    Antes que nossa conversa pudesse continuar, escuto a porta atrás de mim, ser aberta.

— O senhor já está pronto para pedir? Seu botão foi acionado. ‐ Nem tinha percebido que ele havia feito isso.

— Que tal comermos primeiro e depois falamos de negócios?

— C-claro!

    Deixo ele ser o primeiro e então seria minha vez. Olho o cardápio, porém estou tão tonta com tudo que não consigo pedir nada.

— Sugiro o mesmo prato que o meu. É o melhor da casa. - Abaixo o cardápio e encontro seus olhos sobre mim. Para que tanta intensidade?

— Você provavelmente tem o mesmo bom gosto que seu pai, então apenas vou confiar. - Respondo tentando sustentar seu olhar. — Gostaria de uma taça de vinho tinto suave, por favor. - Muito bem, Alice. Vai ser lindo você bêbada na frente dele. Nada perigoso.

— O mesmo para mim. - O homem saiu nos deixando sozinhos novamente.
Mais um silêncio sem fim. Olho para tudo, menos para ele. A ampla sala era confortável e em tons de terracota. Não há janelas, o que é perfeitamente compreensível, já que é uma sala privada. Mesmo assim, o lugar é charmoso e romântico. O silêncio finalmente começou a me incomodar. O encaro e percebo que os dele jamais me deixaram.

— Está muito tranquilo para quem está conhecendo alguém pela primeira vez. - Digo com total sinceridade.

— Essa não é a nossa primeira vez. - Responde rindo. Maldito sorriso lindo! — Não é a nossa primeira vez vendo um ao outro. - Levo alguns segundos para entender o que ele quis dizer e quando o faço, minha testa enruga involuntariamente.

— Ontem nas pedras! Era você com a senhora. - Ele concorda.

— Antes disso...

— Juro que estou tentando acompanhar e entender... O trem?

— Também, mas você estava tão distraída com a senhora reclamando, que nem sequer me deu atenção. Aliás, não devia viajar sem uma manta.

— Obrigada por aquilo. Então nos vimos primeiramente ali? - Para minha surpresa, ele nega.

— A primeira vez que nos vimos foi quando Dahee foi lhe agradecer, lá na frente do café em Seul.

— O rapaz que ficou afastado... - Queria um espelho agora. Minha cara deve estar um sarro. Será que era namorada dele?

— Quando minha prima me contou o que você tinha feito por ela, eu quis te conhecer. A convenci a me deixar ir junto e ficar de longe.

— Prima?! Uau.

— Era para ter sido só aquela vez, mas quando ouvi seus conselhos e vi o cuidado que você teve com ela, quis te dar um presente. - Eu ouvi tudo calada e sem acreditar.

— Ela me deu um presente.  - Balbuciei.

— Eu sei, mas senti que precisava demonstrar minha gratidão, então, voltei lá a noite.

— A celebridade com os brutamontes! - Solto num tom bem alto e aponto para ele. E eu ainda nem bebi! Oh vergonha.

— Isso. - Responde rindo. — Tentei falar com você, mas o seu segurança grudento não deixou.

— O Mino é meio sem noção.

— Percebi. - Que estranho. — Pelo menos ele me fez o favor de falar para os quatro cantos que você viria pra Busan e de quebra também disse o hotel que você ficaria. - Jimin parou, olhou para meu pulso e apontou. — Ficou linda em você. Sabia que combinaria.

— Foi você? - Estou completamente largada na cadeira e boquiaberta. — Espera! Como sabia aonde eu morava?

— As vezes ser eu, têm suas vantagens. ‐ Cruzo os braços e fico o encarando. — Pedi a um dos seguranças para segui-la.  - Confessou sem jeito. — Desculpa. Sei que isso não é legal, mas queria te dar a pulseira.

Tenho tantas coisas para perguntar, porém, não consigo e logo a porta se abre e nossos pratos são dispostos na mesa, bem como o vinho que virei em um gole só. O garçom termina de ajeitar a pequena grelha que usaríamos e começa a se retirar.

— Moço! Espera. - O rapaz me olha e logo sorri. — Pode me trazer outra dessas?

— Traga a garrafa por favor. - Jimin o interrompe antes que pudesse sair. Um simples aceno de cabeça e estamos sozinhos novamente.

    O homem a minha frente me avalia com curiosidade.

— Não costumo beber... Estou nervosa.

— Não precisa se justificar. - Respondeu sorrindo. — Como gosta da sua carne? Farei para você.

— Gosto dela suculenta. - Ele sorri. Maldito sorriso. Malditos lábios.

— Sirva-se, por favor. - Só depois dele falar isso que me atento ao fato que estou com fome. Amo Tteokbokki.

    Assim que experimento a comida, o garçom volta com a garrafa de vinho. Estico meu braço para me servir mais uma taça, porém, ele é mais rápido.

— Deixa! Faço isso para você.
Meu Deus! Quantas taças vou ter que tomar para conseguir agir como um ser humano normal?

— Vamos aos negócios. - Anunciou bebendo seu vinho e assim como eu fiz, ele também virou tudo de uma vez.

— Sou todo ouvidos. - Sou toda tonta. Alice você precisa se controlar.

— Já faz algum tempo que procuro um negócio seguro para investir. - Parou, levando a destra ao rosto, arrumando os fios pretos de seus cabelos. Como se estivessem desarrumados. Começo a ficar com calor. Olho dele para a taça a minha frente. Mais uma dose não me fará mal. — Quero investir no seu café.

    Engasgo com o vinho, o que desencadeia uma crise de tosse. Um buraco! ALGUÉM ME ARRUMA UM BURACO!

— Você está bem? - Ele pergunta me auxiliando com leves batidinhas nas costas.

— Estou... Mas eu não tenho café algum. - Respondo enquanto ele me olha, agora ao meu lado.

— Ainda não tem. Meu pai me contou tudo que aconteceu ontem lá na ponte. Disse que iria hoje ao café, então eu apenas fiquei lá, tentando não ser notado.

— O rapaz que estava de costas...

— Seu pão de queijo é divino. - Agora ele estava muito perto.

— Uau.

— A pronúncia está errada? - Ele pergunta voltando ao seu lugar.

— Pelo contrário. - Meus olhos passeiam por seu rosto enquanto ele volta a falar. Como é difícil prestar atenção.

— Não entenda isso como se eu não acreditasse que você possa conseguir sozinha. Apenas decidi que você é a escolha certa.

— Como faríamos isso? O Army pode não gostar de ver seu nome associado a uma mulher.

— Você se importa com isso? - Mas que pergunta é essa?

— Se isso for te prejudicar, sim.

— Você pensa muito nos outros. - Ele responde virando a tira de barriga de porco na grelha.

— E isso é um problema? - Questiono virando mais uma dose. Ótimo! Agora você já está tonta.

— Nenhum pouco, te escolhi por isso. - Começo a rir. — Isso é engraçado?

— Aí, aí. Não... E... Sim. É que jamais pensei ouvir isso de alguém, muito menos da sua boca perfeita. -  Merda! Acho que falei demais. Estou bêbada?

— Talvez você devesse parar de beber. Ainda está nervosa?

— Não estou bêbada, se é isso que você está pensando. Só estou pensando que isso talvez seja um delírio meu. Você é real? - Me sirvo de mais vinho. Deus! Bebi quase tudo. Sinto suas mãos quentes sobre a minha, tentando tirar a garrafa do meu aperto.

— Já chega! Seja boazinha e me dê isso aqui. - Me Afasto levantando da cadeira. Caralho! Tá tudo girando.

— Virou minha babá agora? - Cala a boca, Alice! Por que você não controla esse buraco que você chama de boca. - Eu preciso de... - Dou um passo e sinto que vou cair. Fecho os olhos imaginando o meu estado depois de meter a cara no chão limpíssimo desse lugar. No entanto, são as mãos dele que me amparam.

— Talvez eu devesse dar uma de babá e te dar umas palmadas. - Seu rosto está tão próximo ao meu que eu simplesmente o beijo.  Meu corpo estremece e um arrepio incontrolável toma conta de mim.
Apaguei.

Estou sonhando? Por que balança tanto? Que vozes são essas? 

— Não devia ter deixado ela beber tanto.

Mas o que está acontecendo?

— Vamos voltar ao hotel. A chave está aqui.

Que droga de chave é essa?  Vejo lampejos, luzes ou sei lá o que. Depois, silêncio.

   A luz forte que adentrava pela janela maltratava meus olhos. Abro apenas um e tento me situar. Quando ergo um pouco a cabeça, a ressaca me pega de jeito. Estou de bruços? Eu nunca durmo assim. Lentamente vou me virando e lembrando do que fiz a noite passada.

— Eu fui... Aí meu Deus! Jimin. Espera! Deve mesmo ter sido um sonho.

— Não foi sonho algum. Ser sua babá e te carregar nas costas até aqui não estava nos meus planos para o início da nossa sociedade de sucesso. - Me viro assustada para encarar o moreno sentado na poltrona ao lado da cama me encarando.

Puta Merda!

      

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