Sou tão fraco assim?

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    Pensei que, com o tempo, Alice fosse se sentir melhor, mais segura. As coisas nem sempre são como desejamos.

    Enfrentei a mídia sozinho enquanto a via lutar para conseguir voltar a andar e a respirar por conta própria. Não foi algo que planejei fazer; só aconteceu. Acho que sempre tem um abutre disposto a se alimentar de restos.

     Tê-la em casa me alegra tanto. Quantas vezes quis que dividíssemos o mesmo teto, a mesma cama. Só não desejava que fosse acontecer desse jeito. Alice se assusta com sons altos, não fica sozinha no escuro e também não sai de dentro do nosso apartamento.

      Estamos há quase um mês vivendo essa rotina pesada. Eu saio para a empresa, ela se tranca aqui dentro e não interage nem com os amigos. Todas as noites tento fazê-la sorrir com alguma palhaçada; por vezes, os meninos jantam conosco e se esforçam para tornar tudo mais leve. Aí ela dorme e os pesadelos começam. Me sinto tão impotente. Parece que todo meu esforço se perde quando ele transforma o momento que deveria ser de calmaria em puro terror.

      Nesses meses todos de recuperação, venho mantendo os funcionários do café na esperança que Alice retome suas função a frente deles e consiga realizar seu sonho. Eles até tentaram manter a rotina do café, mais o lugar passou a atrair uma curiosidade mórbida e juntos decidimos fechar as portas por tempo indeterminado. Na verdade pensei em vender o lugar todo e depois convencer Alice a arrumar outro ponto. Meu pai me convenceu do contrário. Disse que o capítulo dela com aquele lugar ainda não se encerrou. Devo respeitar seu tempo.

     Hyo Jin tem passado por ajuda psicológica. Como não temos profissionais no país, contratei uma pessoa de fora, uma portuguesa muito carismática que está sendo muito gentil conosco. Claro que o fato dela ser um gênio e falar quase seis línguas, incluindo a nossa, facilita tudo e seu senso de humor é  ótimo. Uma senhora muito gentil. Pena que Alice se recusa a vê-la. Já tentei de tudo, ela se faz de durona, finge estar bem. Pensa que não  a escuto desabar enquanto toma banho.  Eu ouço tudo. Eu sinto tudo. Trocaria de lugar com ela se isso curasse seu coração.

    Além do trauma psicológico, Hyu Jin ainda enfrenta a justiça de nosso país. Apesar de ter sido um ato em legítima defesa, na nossa lei, tal ato precisa ser comprovado. No dia seguinte ao acontecido, pedia a JaeHyuk  que entregasse todas as imagens das câmeras de segurança do café a polícia e também pedi que fizesse  uma perícia naquele maldito urso. Como o caso corre em sigilo, não tivemos mais notícias e por esse motivo não contei nada disso a Alice.

     Hoje me parece um bom dia para mais uma tentativa. Me aproximo de Alice com cuidado para não causar um susto. Amo observa-la. Ela está parada a janela apreciando a vista e vez ou outra, volta sua atenção a um dos livros que Namjoon deu a ela. Bato levemente no Castilho da porta para me anunciar e meu amor me encara abrindo um singelo sorriso na sequência.

— Alice, meu anjo, fica linda toda concentrada. - Lanço tais palavras me aconchegante em um doce abraço. Aproveito a proximidade para beijar calmamente seu pescoço.

— São seus olhos. Queria estar estar melhor forma. Tudo no seu tempo.

— Para mim sempre vai estar perfeita. O livro está interessante?

— Sim... - Que resposta vaga. Quase sem emoção.

Nao senti firmeza nisso. - Ela sorri novamente e solta-se de meus braços indo até até janela.

Êxtase Where stories live. Discover now