O VULCÃO ENCONTRA O TORNADO

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Sagrada Família, maio de 2021

— Acho que estão olhando para nós...— Gerard apontou, discretamente com a cabeça para o casal na varanda perpendicular à sua. Três andares mais alta.

— Que vergonha! — Olívia, de costas para plateia, desceu dos quadris dele e se sentou no sofá, abotoando por baixo da camiseta o sutiã que as habilidosas mãos de Gerard haviam aberto minutos antes. — Eles devem estar pensando: "Como era bom ser jovens e bonitos... As pegações na varanda!" — supôs ela, olhando para eles com curiosidade.

O senhor parecia trabalhar em algo que estava no chão e a senhora debruçada na mureta.

— Ai Olívia... Eu acho que esses dois nunca foram bonitos. — Se levantou com uma expressão de malícia. Puxou-a pela mão — Vem, vamos para dentro!
— Um dia seremos nós dois, idosos, numa varanda vendo um casal jovem se pegar na varanda. A diferença é que seremos um casal idoso bonito!
Gerard a jogou na cama e se deitou sobre ela.

— Será que eles têm filhos? — perguntou Olívia, distraída. — Você quer ter ?
"Isso é hora desse tipo de conversa?", dizia a fisionomia dele.

Afundou o nariz no espaço oco entre o cangote e os cabelos dela. As mãos dele voltaram a soltar seu sutiã. Depois deslizou pela lateral de sua cintura.

Olívia seguiu:

— Eu quero ter filhos. Tem tanta gente má no mundo. Eu me considero uma pessoa boa. Seria legal deixar alguém como eu, para manter o equilíbrio entre os bons e maus. — Olívia riu. As mãos de Gerard faziam cócegas.

—Que profundo, Olívia! Eu, se tenho filhos, será só por que sim. Não tem nenhuma razão especial.

Bairro da Gràcia, agosto de 2022

— "Só porque sim", e ele acabava de ter um filho?! — Olívia exclamou de queixo caído.

Foi só o tempo de afastar as pernas para não sujar a calça branca. Um batido de abacate, quinoa, arroz integral e salmão, jorrou de sua garganta em meio à praça da princesa Gala.

"Que espécie de monstro era aquele homem?!", com os olhos marejados, freneticamente moveu os dedos fazendo as contas. Não tinha nem nove meses que ela havia estado naquele sofá! A verdade a golpeou como uma topada no muro. Gerard nunca esteve confundido.

O estômago dela se contraiu outra vez. Imaginou Alina e seu barrigão caminhando, tranquila pelas ruas de sua cidade enquanto ela, Olívia, transava com Gerard no apartamento deles. Outro jato verde voou de sua boca. Alguns poucos transeuntes que passavam pareciam estar vendo ao vivo "O exorcista".

Com uma mão secava a baba que escorria pelo canto da boca, e com a outra escreveu para Gerard.  

  

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A RESPOSTA DE ALINA ( CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now