REBOBINAR

57 12 0
                                    


— Fernando, agora estou encrencada.

— Só agora?! — Levantou as sobrancelhas, indignado. — Desde que te conheci eu vivo encrencado. O que foi? Não me olha com essa cara! É verdade! Nenhuma das vezes que te encontrei foram, necessariamente, um repousar na grama para apreciar o luar ao som de Frank Sinatra!

Olívia ignorou a provocação e passou o celular para que ele lesse a mensagem enviada por Gerard.

— Vejo que andou bastante entretida Srta. Sampaio...

A espessa cabeleira negra de Fernando brilhava ao sol.

"Por favor Fernando, cinismos a essa hora não", suplicou Olívia em pensamento. Precisava de um advogado, necessitava instruções sérias. Apesar de que, vestindo bermuda e uma de suas típicas camisas estampadas, Fernando estava parecendo tão sério quanto um bicheiro carioca.

Olívia esperou, ansiosa, que Fernando terminasse de ler, e lhe desse uma luz sobre a dimensão do problema que enfrentava. Pegou o copo de vermuth que Arnau acabara de deixar sobre a mesa e o bebeu demonstrando uma indiferença que não sentia.

Quando chegou à Barcelona, a rispidez e frieza Catalana a assustaram. Foi endurecendo a casca para aguentar as respostas secas e diretas das pessoas que a rodeavam. Aos poucos entendeu que era apenas uma sociedade formada por gente de natureza desconfiada e prática. Para um catalão superar a timidez e se mostrar amigo leal, o "forasteiro" deveria provar ser digno de sua confiança. E aquele era o momento dela saber se havia se tornado digna da confiança de Fernando. Ou não.

Ele levantou os olhos protegidos pelos óculos de sol, dois hexágonos fume que pareciam ter saídos da gaveta do Maluma. Colocou o celular sob a mesa, entre o vermut de Olívia e seu café. E impassível, começou a preparar um cigarro. Saboreava o poder de ser o único a possuir a informação.

—Não posso acreditar que o camarada fez isso — soltou uma gargalhada. — Que desespero, rapaz! Ir até à polícia por ter colocado chifres na namorada?

A verdade é que até seria cômico, se não fosse trágico. Tinha que reconhecer.

— E então, você viu a denuncia que ele fez. O que pode acontecer?

—A ver... vamos primeiro de boa notícia ou a má?

"E existe boa notícia?", perguntava o rosto aflito de Olívia.

— A boa, é que, se ele entrar com algum processo, você junta o que tem: as conversas dos dois no celular, as testemunhas que viram vocês juntos etc., e prova que o que você está falando não é calúnia. Vocês, estiveram juntos. E se precisar de alguma coisa, sabe que sempre pode contar comigo. — Lhe disparou uma piscadela terna. — Agora a má, são duas na verdade. A primeira, é que ele está disposto a fazer alguma coisa contra você se você se meter com os planos dele. A segunda, na verdade, é mais uma percepção minha: ele pode ter feito isso com o objetivo te desacreditar diante as autoridades.

Olívia balançou a cabeça. Não, aquilo não era algo que Gerard faria. Pode sim, ter ido se aconselhar, mas intencionalmente fazer com o que ela parecesse louca diante dos outros, era um absurdo.

— Bom, é uma hipótese. Acredite ou não. — Fernando sacudiu os ombros. — Mas fica tranquila. Provável que você esteja certa e Gerard fez isso para te assustar.

Olívia suspirou deixando as costas caírem na cadeira enquanto contava sua história com Gerard.

— Você atirou no que viu e acertou no que não viu hein?! Quais as chances de reunir recompensa intermitente — Fernando se recostou na cadeira, e começou a preparar um cigarro—, e compulsão à repetição na mesma relação?

A RESPOSTA DE ALINA ( CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora