Touchdown

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(Touchdown termo em inglês. Momento em que as rodas da aeronave tocam o chão).

"(...) Tudo o que ela fez ou desfez, por mais louco que parecesse a um observador com preconceitos, foi feito como se devem fazer as coisas, quero dizer, com coragem e sem medo das consequências. É assim que cada um tem o direito de fazer como lhe parece bem. Mas atirar-se na água para nadar e ao mesmo tempo não querer molhar-se a roupa, isso, Gerardo, é impossível". - Remédios Varo.

O interfone tocou. Olívia nem se deu ao trabalho de perguntar quem esperava para entrar. Apática, apertou o botão para abrir a porta principal do prédio e deixou a do apartamento encostada. O dia já começava a escurecer. Estavam no começo do outono e anoitecia quando se devia, às seis da tarde. Só poderia Cecília que ficou de passar depois do trabalho para se despedir de Olívia.

No caminho de volta pelo corredor, saltou algumas caixas e ajeitou as malas para que a amiga pudesse passar. Outra vez ali estava Olívia, sozinha metida entre caixas com seus pertences e o coração massacrado.

— História da minha vida.

Deu um profundo suspiro e entrou no banheiro para confirmar que não deixava nada para trás, além do que usaria em alguns minutos para tomar banho. A decisão de abandonar Barcelona era a mais sensata. Era isso ou perder o que lhe restara de sanidade mental.

Quatro horas até seu voo. Tudo bem, já não tinha muito o que fazer. Cecília e Ivy se encarregariam de vender a maioria de suas coisas, e o que ficasse, duas malas de roupas e livros, aos poucos, quando fosse ao Brasil, Cecília as levaria.

Olívia deslizou a mão sobre o interruptor do banheiro e apagou a luz. "Que silêncio! Será que Cecília não subiu?". Abriu mais os olhos, preocupada. Havia um cheiro diferente na casa. Um perfume familiar. Parou. Alguém que não era Cecília estava ali.

Uma voz na escuridão a assustou. Ela saltou.

— Hola, senhorita Sampaio!

Os focos de luz na lateral do corredor se acenderam. Apareceu Fernando e seu sorriso petulante. Deu alguns passos adiante passando a mão pelos cabelos de comercial de shampoo. Os de Olívia não viam um pente há semanas. Podia haver um ninho de passarinhos.

— Deus é mais! — Atirou as costas para trás como se tivesse levado um susto e riu debochado — Olívia, eu sabia dos rumores do bairro que minha ausência trazia tristeza, mas você... superou!

Ele estendeu para ela uma pequena sacola de papel.

—Tua amiga, a loirinha mandona disse para eu trazer isso quando viesse. — E estendeu uma pequena sacola de papel. — Mencionou algo sobre brigadeiro...

"Quem salva a princesa é a fada madrinha. Siga o coelho!"

Te amo. Ceci"

Dizia a notinha dentro do pacote. As lágrimas embaçaram os olhos de Olívia.

— Como você se sente?

— Ah Fernando... Nem sei. Fora de lugar dentro da minha própria vida.

Ele a observou, inquieto.

— Há sobreviventes depois do Tsunami?
Entre o alívio e a vergonha, Olívia levantando as mãos, apresentou o que havia se transformado. Desde que se descobrira vítima de um abuso psicológico, a vaidade a abandonara. A atual aparência, um urso panda com cabelo do Bobby Marley, era o menor de seus problemas.

— Eu sinto muito... — Ele se aproximou e tocou seu ombro. — Então é sério, você vai embora de Barcelona?

— Tenho que ir antes que essa cidade acabe com o que restou de mim. Aceita um café, um chá? Não tenho muito o que oferecer. Está tudo em caixas.

A RESPOSTA DE ALINA ( CONCLUÍDO)Место, где живут истории. Откройте их для себя