32- Tem algo na floresta

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Lizzie…

Eu era uma menina linda, forte, saudável, uma fada como minha mãe. Ela foi assassinada neste castelo, e com sua morte, uma era de fadas boas e belas terminou, pois estavam ligadas a ela. Assim funcionava nossa liderança. Restaram apenas meu pai e as fadas mais jovens, que poderiam representar um novo começo, mas não foi o que aconteceu. Havia um reino rival, habitado por fadas cruéis e terríveis que se alimentavam de humanos e de tudo que encontravam pela frente, inclusive de suas próprias espécies. Após muitas guerras e mortes, meu pai decidiu se casar com a rainha desse reino, na tentativa de resolver o caos instaurado. Ela aceitou, é claro, e uniram os reinos neste castelo. Minha vida nunca mais foi a mesma após a morte de minha mãe. Ainda me lembro do medo que sentia quando Darcilia, minha madrasta, me trancava no porão escuro com vários ratos e, sob tortura, me fazia acreditar que meu nome era Treva, e não Luz, como minha mãe havia escolhido. Ela me deixava sem comer, assassinou meu pai e assumiu o controle dos dois reinos. Muitas espécies foram atraídas e mortas aqui, mas as últimas foram as bruxas; ela as queimou e enterrou seus corpos sob o castelo. Este lugar é um cemitério, Elizabeth. Cada canto guarda vítimas daquela mulher, e ela se alimenta de seus corpos e ossos em decomposição.

Estava sentada no telhado do castelo, observando as estrelas, enquanto ouvia a história da minha felina.

— Seu pai foi um tolo ao pensar que um casamento acabaria com uma rivalidade. — Comentei.

— Quando tinha sua idade, também pensei assim, mas ele era ingênuo demais para perceber que foi Darcilia quem assassinou minha mãe a sangue frio. — Senhorita Treva fechou os olhos por um instante.

— O que aconteceu com Darcilia? Ela morreu? — Perguntei.

— Após queimar e enterrar as bruxas, ela provocou um incêndio no porão. Não foi embora; ficou observando-me queimar até ter certeza de que eu não mais respirava. Mas posso assegurar que ela não está morta e em breve virá aqui para tentar matar novamente. Esse é seu destino: assassinar muitos e se alimentar de seus corpos por décadas, até que chegue a hora de matar outra vez.

Suspirei.

— Estou ansiosa para encontrá-la. — Declarei sinceramente — Ela gosta de fogo; vou me lembrar disso.

— Você é igual ao seu pai. — Senhorita Treva falou.

Não pude discordar.

Aí está você. — Ouvi a voz de Theo.

Quando olhei para o lado, vi um grande lobisomem no telhado.

Era assustador, mas não para mim.

Ele se aproximou.

— Estava me procurando? — Perguntei, acariciando seu pelo áspero.

Senhorita Treva se afastou dali.

Ela não conversava com mais ninguém além de mim.

Eu já havia me acostumado.

Sim, Alma está chamando. O jantar vai ser servido. — Theo respondeu.

— Como me achou?

Ele me olhou com uma expressão que dizia “Não se faça de desentendida”.

Sorri e subi em suas costas. Com facilidade, ele saltou do telhado e aterrissou sobre duas patas no chão.

Segurei firme em seu pescoço para não cair.

Sorríamos e brincávamos, mas de repente, Theo silenciou e fixou o olhar na floresta.

Lobos- A Batalha Final| Livro 03| ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora