A LUTA CONTRA LEVI

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A rainha contou-lhe que o desafio seria enfrentar seu mais forte guerreiro: Levi. Zayan foi apresentado a ele. Era um homem muito branco, com tranças que caíam por seus ombros em diversos ângulos. Seus olhos azulados pareciam-se repletos de um fogo que ele não saberia dizer de onde vinha.

Antes da luta acontecer, o homem do espaço permaneceu abrigado por aquele povo. Foi-lhe concedida uma cabana, na qual ele podia dormir e alimentar-se. Como ainda não fora integralmente aceito pela tribo, caçava sozinho, e cozinhava de igual forma. Os animais do lugar tinham uma suculência especial: havia aves, espécies de porcos e feras selvagens similares a tigres.

Para preparar-se para o confronto, Zayan treinou em bonecos de madeira que ficavam no centro da vila, golpeando-os com seus músculos colossais. Todos que passavam enquanto ele realizava a tarefa ficavam assustados com tamanha selvageria do estrangeiro; mas tinham convicção de que Levi, conhecido por suas façanhas, o mataria sem esforços. Estariam certos?

Após duas longas semanas, o dia chegou, e a rainha foi à praça para anunciar o espetáculo. Zayan estava de um lado do círculo de pessoas que se juntavam para assistir, e Levi, do outro. Entre eles, havia apenas o desejo pela vitória, e olhares incandescentes que queimariam uma mosca que ali passasse.

Levi foi o primeiro a rosnar, e avançou num salto felino. Chocaram-se, e começaram a trocar golpes intensivos. Zayan acertava dezenas de socos no peitoral do adversário, fazendo-o grunhir com a potência de seus punhos. Em resposta, o mais forte guerreiro da vila deu-lhe um chute no abdome. Seu impacto foi tamanho, que Zayan vergou-se ao chão, as vistas embaçadas.

Porém, logo se recompôs, agarrando Levi pelo pescoço. Ele arfou, os olhos se esbugalhando, enquanto o homem do espaço batia seu crânio contra a relva. A vítima tentou recobrar-se, e de forma enfurecida acertou o nariz daquele que o subjugava, o que não surtiu efeito.

Zayan continuou a golpeá-lo no chão, até que a grama ao redor ficasse completamente ensanguentada.

— Você se rende?! — exclamou Zayan.

— Maldito... Desgraçado... — murmurou Levi. Sua voz estava muito fraca, e mal lhe saía dos lábios.

Zayan reconheceu que aquele indivíduo resistiria bem; por isso, apertou ainda mais seu pescoço, fazendo-o não conseguir respirar. Levi arfou, antes de finalmente dizer, bem rouco:

— Eu... me... rendo...

Com um sorriso no rosto, o estrangeiro soltou-o, levantando-se e se voltando para a multidão. As pessoas estavam caladas, impressionadas com o combate que haviam acabado de ver; dois titãs lutando pela sobrevivência.

— Você não o matou! — exclamou Alice, aparecendo no círculo. — Por quê?

— Ele é um grande guerreiro — disse Zayan —, e tem muito a oferecer a este mundo.

A rainha aproximou-se dele, tocando-lhe o corpo escultural.

— Agora, você pertence à nossa tribo, homem do espaço. Está disposto a servir sua rainha, não importa o que aconteça?

— Estou, de todo o coração.

Depois dessas palavras, Zayan ajudou Levi a se levantar, e pediu uma bacia de água para ele. O derrotado agradeceu o gesto, e ficou sem-graça perante a misericórdia do adversário. Após saciar a sede, juntos foram caçar, acompanhados pela rainha e um punhado de seus súditos.

A incursão rendeu dois veados imensos, além de três porcos selvagens. As pessoas ficaram ainda mais próximas de Zayan quando este demonstrou suas habilidades para conseguir comida. Diferente dos demais, seus ouvidos e olhos eram muito mais aguçados, e lhe permitiam localizar rastros de bichos a bons metros de distância.

Quando voltaram, reuniram-se em torno de uma grande fogueira, onde as carnes repousavam, trespassadas por espetos de madeira. Alice sentava-se com as pernas cruzadas ao lado de Zayan, e junto dele, admirava as chamas que lambiam a caça fresca.

— Tu nos será de grande serventia — disse ela. — Suas capacidades estão para além do esperado.

— Serei útil como qualquer espada que se levante contra a injustiça, e a terrível prática da escravidão. Conte-me um pouco mais sobre os demônios que violentam os seus, pois desejo saber a respeito daqueles que matarei.

— Como nós, podem se organizar em pequenas vilas, e usar delas para captar recursos. Os pequenos são fáceis de matar, mais burros e descoordenados. O problema reside nos duendes-mor, maiores e inteligentes.

— Sim. Posso recordar-me da estatura diferenciada destes que comenta.

— O pior de todos chama-se Walros; um inimigo que meu pai chegou a enfrentar.

— E o que aconteceu a seu pai?

Alice baixou o olhar, como que tomada por profunda tristeza.

— Walros matou-o! Esquartejou seu corpo e lançou-o às feras, humilhando minha família, e meu povo!

Zayan sentiu um fogo dentro de si, enchendo-o de raiva e indignação.

— Irei vingá-lo, rainha. Não só o seu pai, mas todos aqueles que foram mortos pelos duendes.

— Agradeço a ti, grande guerreiro. Mas agora, tudo o que quero é esquecer os problemas da vida, e dividir o jantar contigo.

Eles deixaram de falar sobre coisas desagradáveis, e assim que os animais se encontravam bem cozidos, cada pessoa ao redor serviu-se. Zayan comeu ao lado de Alice, enquanto observava a beleza da rainha. Começava a despertar naquele homem, por tanto tempo aprisionado pela criogenia, sentimentos místicos de paixão. As formas físicas e a voz de Alice o encantavam, assim como sua maneira de governar e se impor como liderança.

Enquanto isso, longe dali, Walros recebia as notícias mais recentes de seus servos, os quais retornavam vivos do ataque de um estranho e forte sujeito. Dentro de sua cabana, feita apenas para ele, o chefe dos duendes apertava os olhos avermelhados, que reluziam numa ira genuína.

— Eu vou encontrá-lo, maldito, e matá-lo com minhas próprias garras! — Desembainhou a espada da cintura, e cortou-a no ar, como se atingisse um inimigo invisível.

ZAYAN DO ESPAÇODonde viven las historias. Descúbrelo ahora