AS CAVERNAS

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Zayan mal distinguia o caminho que faziam. A hemorragia estava tão possante, que percebeu apenas os guinchos dos inimigos. Notava parcamente a respiração de Bento, que se esforçava em levá-lo pelo meio dos arbustos.

As flechas continuaram a zunir até que a alvorada começasse a raiar, e por fim, os passos dos duendes sumiram. Bento colocou o companheiro no chão e bebeu um pouco do alforje que trazia. Sabia que não poderia dar água ao homem enquanto ele tivesse todos aqueles cortes. Não acreditava que o estrangeiro fosse morrer, pois o vira em pior estado antes, e depois tornara a vê-lo vivo, completamente sarado.

Alguma coisa havia nele que diferia dos demais, permitindo que resistisse a ferimentos injuriosos. Porém, tinha a certeza de que precisaria de tempo para que se curasse.

E as horas foram se passando, enquanto o salvador do homem do espaço o carregava, e suas feridas iam-se fechando. Zayan já começava a recobrar a consciência, e os cortes tornavam-se destacadas cicatrizes na pele.

Bento finalmente deu-lhe água, e um punhado de carne de porco que cassara. O estrangeiro aceitou ambas de bom grado, e quando a noite chegou, já podia respirar com regularidade, e começou a falar.

— De onde você veio?

— Estava na gaiola — disse Bento. — Quando nos disse para fugir, decidi me esconder, pois sabia que poderia precisar de ajuda.

— E agora estamos ambos perdidos nesta floresta, sendo perseguidos por demônios!

— Acalme-se, eu sei um lugar para nos abrigarmos.

— Onde?

— As cavernas místicas. Não ficam muito longe daqui, e fornecem o medo suficiente para espantar nossos inimigos.

Bento parou de falar um pouco, pegando lenha e a lançando na pequena fogueira que começara a fazer. A noite possuía ruídos sutis de grilos e cigarras, perdidos no vento.

— Obrigado por me salvar — disse Zayan.

— Não fiz mais que minha obrigação. — Ele sorriu.

Juntos permaneceram até que os primeiros raios de sol aparecessem do meio das nuvens. Bento ia na frente, guiando o homem do espaço pela trilha que faziam. Os sons dos duendes às vezes lhes chegavam aos ouvidos, e logo apertavam o passo, na esperança de despistá-los.

As árvores iam se abrindo com a marcha, até que após alguns dias, a floresta se transformou num campo aberto. Ao longe, podiam ver grandes pedregulhos, cheios de buracos escuros que levavam para lugares desconhecidos.

Bento apontou para as formações.

— Lá estão elas.

Zayan não o respondeu, contentando-se em imaginar que tipo de coisa se escondia em meio àquele lugar. Com certeza, algo ali provocava medo nos duendes; algo que também seria perigoso para eles. Mesmo assim, não tinham outra opção; ou arriscavam esconder-se, ou logo os perseguidores venceriam distância, matariam Bento e levariam Zayan para Walros.

Chegaram na boca das cavernas no dia seguinte, bem no início da manhã. Elas se assemelhavam à imensas gargantas, descendo para lugares desconhecidos. Um estranho ar pairava ali, provocando sentimentos desagradáveis.

Os dois se entreolharam com as faces pálidas, ambos munidos de lanças feitas com galhos e pedras da floresta. De repente, escutaram gritos de duendes, e olhando para a planície, enxergaram uma grande comitiva deles correndo.

Zayan viu Walros, cercado de servos, os olhos vermelhos parecendo duas pedras mergulhadas na lava.

Bento respirou fundo, e adentrou a caverna. O homem do espaço bateu no próprio peito para ganhar coragem, e por fim seguiu o companheiro.

ZAYAN DO ESPAÇOWhere stories live. Discover now