INIMIGOS NAS SOMBRAS

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O guerreiro sentiu o cérebro voltar de um só baque, e suas pálpebras ergueram-se. Sentia o calor subindo, e a fumaça lhe tolhendo os olhos. Distinguia através dela seus dois companheiros, cercados de inimigos raivosos.

Com um grito de dor, Zayan puxou as flechas que se haviam cravado em si, pegando duas delas para usar como pequenas lanças. Cerrando os dentes, saltou sobre as chamas, surpreendendo os pequenos homens da vila. Eles pararam de avançar por alguns segundos, encarando de queixos caídos a figura de Zayan, vermelho de ódio.

Alice sorriu ao perceber que ele se reerguera, e agarrou com ainda mais firmeza a faca de ossos. Levi empertigou-se, acenando com a cabeça para o homem do espaço.

O estrangeiro, entretanto, não tinha tempo para saudações. Saltou em meio aos adversários, sem que estes tivessem oportunidade de usar seus arcos. Os homenzinhos buscavam distanciar-se, para assim realizar seus disparos. Mas o guerreiro estava furioso, e corria atrás de qualquer um, desferindo golpes sangrentos com as pequenas flechas nas mãos. Usava-as como se fossem facas de cozinha, arrancando a carne dos inimigos com agilidade, os músculos brilhando à luminosidade das tochas.

Dezenas deles morreram para a força de Zayan, e o restante estava tão apavorado com aquele gigante, que desapareceram dentre as vegetações do oásis.

Alice e Levi não haviam feito nada durante o combate. Apenas observaram a máquina mortífera trucidar todos aqueles desgraçados, e sorriam para a estátua grega viva que se punha em pé em meio a tantos mortos.

A rainha logo deixou que as emoções a dominassem, e abraçou o homem do espaço. Este finalmente esboçou algo além de ódio, e deu-lhe um beijo na testa.

— Viemos o mais rápido que podíamos — disse Alice. — Não queríamos tê-lo abandonado.

— Nunca me abandonaram — disse Zayan. — O que importa agora é ficarmos juntos, e acharmos uma maneira de sair deste local terrível.

— Mas como? — disse Levi. — Não vejo nada aqui a não ser estas árvores, postes e vilas dos pequenos monstrinhos.

— Teremos de dar um jeito — disse Zayan. — Ou logo sabe-se lá o que nos encontrará neste fim de mundo.

O homem do espaço mal acabara de dizer tais palavras, e outros seres espreitavam dentre as folhagens. Haviam visto a matança, terrificando-se diante da potência do estrangeiro. Eram iguais a pessoas, porém recobertos de pelos, e presas que lhes saíam das bocarras fétidas.

O líder destas criaturas, Amurake, sorrira ao perceber a grande energia de Zayan, e disse a seus súditos que tinham encontrado o homem certo para executar seus planos.

Tão logo tinham chegado à cena da batalha, não mais que uma dezena daquele povo foi-se embora, voltando pelo caminho que haviam feito desde que ouviram os ruídos do confronto.

E, enquanto Amurake retornava à sua vila primitiva, os baixinhos de pele pálida corriam para o abrigo central de seus domínios. Lá encontravam-se com o chefe, que com uma coroa na cabeça feita de pedras, olhava com desprezo para seus súditos.

Gritou e cuspiu em seus rostos, indignado com o fato de terem falhado com o sacrifício. Seu nome era Ykan, e ele não gostava de se desapontar.

— Eu quero que peguem os melhores guerreiros! — exclamou —, e tragam este desgraçado para mim, pois eu mesmo o sacrificarei para os deuses, e beberei de seu sangue para nutrir-me do poder de sua alma!

Os servos mais corajosos tremiam diante da decisão do superior, mas logo obedeceram a suas ordens, e juntaram um poderoso exército, que ia na direção dos três viajantes. Alice, Levi e Zayan não faziam ideia do destino cruel que os esperava.

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora