OS YAMUMANIS

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Um silêncio absoluto reinou na clareira. Ninguém queria fazer movimentos bruscos para provocar uma terrível luta. Entretanto, os homens peludos mantinham semblantes extremamente agressivos, os olhinhos fechados para Zayan e Levi.

— O que querem conosco? — disse o homem do espaço.

— Nós que fazemos esta pergunta! — exclamou uma das criaturas. Ela vinha na frente das outras, consistindo-se em um macho extremamente robusto, segurando um arco do tamanho de seu corpo. A flecha tremia na corda, devido à força empregada para mantê-la esticada.

Zayan então adiantou-se, explicando a eles porque se encontravam ali, naquela situação. Falou-lhes do exército de Fenir, e de todas as confusões que tinham acontecido até o momento. O chefe daqueles seres, que então revelou-se como Yamumami, a criatura robusta, ficou extremamente desconfiado.

A princípio, não acreditou nas palavras que ouviu, mantendo o arco fixo à cabeça do estrangeiro. Ralhou-lhe que explicasse melhor a situação, mas Zayan já lhe havia contado tudo.

Por fim, bem em meio à discussão, o som dos pés dos esqueletos foi escutado ao longe. As cornetas o acompanhavam, similares a uma tempestade vigorosa de verão. Logo em seguida, os Yamumani ficaram cheios de medo, e seu chefe começou a berrar e andar de um lado a outro.

— São eles, meu senhor — disse Zayan. — Se não quiser morrer aqui, é melhor ir embora, e levar seu povo consigo!

— Eu conheço esse som — disse Yamumani. — Ele pertence a um antigo inimigo, o qual minha gente já enfrentou, no passado. A descrição que meus avós faziam do ruído, ao menos, bate muito bem!

— Não pode ser! — disse um outro bicho. — Se é mesmo o feiticeiro das lendas, estaremos perdidos!

Yamumani parou de falar; ficou pensando por bons minutos com a mãos no queixo, extremamente preocupado. Pensava se deveria deixar aqueles homens ali, abandonados à própria sorte, ou levá-los consigo até a segurança da vila. Decidiu-se pela segunda opção, comunicando-a a Zayan.

O homem do espaço não pôde evitar de sorrir, e então voltar-se para os dois companheiros extremamente exaustos. Colocou Alice nos braços, e nada dissera, quando Yamumani subitamente pegou Levi, como se este fosse um saco de batatas. Intencionava carregá-lo.

— Vamos! — exclamou o chefe. — Não podemos perder mais tempo! Caso contrário, o massacre nos espera.

O estrangeiro assentiu, e junto do grupo daqueles seres, avançou ainda mais para dentro da floresta.

Alice, graças aos suplementos de comida e medicinais que os Yamumanis lhe deram, começava a recuperar melhor a consciência, e já podia manter os olhos abertos para observar o caminho em que mantinham marcha. Entretanto, os sons das cornetas continuavam a soar-lhe nos ouvidos, aumentando o terror em seu coração.

Passou-se bom tempo até que finalmente chegassem à vila daqueles seres. Todos os guerreiros de Yamumani ainda nutriam grande desconfiança com relação a Zayan e sua trupe. Achavam-no grande demais, e extremamente bruto para alguém minimamente civilizado.

A vila consistia-se em um punhado de cabanas de madeira, que sequer eram cercadas por paliçadas. Ali, como explicou Yamumani, a floresta os protegia, com todos os seus predadores e intempéries.

Mulheres e crianças saíram de suas choupanas para observar os estranhos que chegavam. Soltavam gritos de exclamação, fazendo perguntas das mais variadas. Alguns ficaram com medo, e esconderam-se dos humanos, recolhendo-se aos cantos da vila.

Mas logo Yamumani acalmou-os, dizendo-lhes que aqueles não eram inimigos. Disse a todos que o verdadeiro inimigo vinha vindo; o antigo feiticeiro das histórias da guerra. Muitos ficaram incrédulos diante de tal possibilidade, e o chefe teve de dizer-lhes para manterem a calma. Precisavam estar focados, e começar a se preparar para a batalha.

Enquanto os preparativos de armas e treinamento eram feitos, Zayan ficou numa cabana com Alice. O local havia sido disponibilizado por Yamumani, e era bem confortável e espaçoso.

Alice deitara-se a uma cama de palha, e já podia sorrir para o homem do espaço. Via-o como se este fosse uma escultura esplêndida, estendendo-lhe a mão. Ele tocou-a, fazendo leve carinho em seus dedos.

— Nós vamos ficar bem, querida — disse ele. — Eu, você, e todo o seu povo.

— Eles... — disse ela — foram escravizados por Walros... E eu só espero que a morte logo os acometa, livrando-lhes de maldito destino!

— Não diga isso, soberana. Você não tem como ter certeza sobre como estão resistindo.

— Nossas esperanças são parcas, Zayan. Nesse momento em que ficamos aqui, o tempo corre, e os duendes ganham espaço na superfície! Entretanto, fico feliz de morrer ao lado de tão forte guerreiro.

Ele não conseguia dizer mais nada. Ao som de palavras tão sem energia, repletas de pessimismo, seu coração desabou. Ele tinha de ser capaz de proteger a rainha, e salvar seu bondoso povo. Ninguém possuía o direito de escravizá-los e humilhá-los.

Sem mais aguentar o clima de peso, Zayan saiu da cabana, não sem antes beijar a testa de Alice. Ela ficaria bem com os curandeiros, enquanto o restante do pessoal se preparava para o combate.

E lá foi o homem do espaço, treinar junto dos Yamumanis. Estes encontravam-se desconfiados no início, mas às palavras calmas e bem decididas de Zayan, começaram a relaxar. Percebiam naquele ser algo de diferente; uma forma de conduzir o discurso e perscrutá-los com o olhar que os deixavam cheios de mística energia.

Ao longo dos dias que se passaram, o humano ensinou-lhes várias técnicas de combate com a espada, as quais havia aprendido durante todo o período que passara com os súditos de Alice. Levi juntou-se a eles em meio aos treinamentos, pois a comida que os Yamumanis o haviam dado fizera-o recuperar-se rápido. Já se podia ver em seu rosto a pele corada, e as sobrancelhas moviam-se agilmente.

Dentro de seu coração existia apenas o desejo por vingança. Queria muito colocar a cabeça de Fenir numa estaca bem alta, mas antes, gostaria de fazê-lo sofrer com as mais cruéis torturas.

Enquanto Alice recuperava as forças, e os seres da vila preparavam-se para se defender, as forças do feiticeiro avançavam. Já haviam percorrido boas distâncias, chegando à clareira em que Zayan parara para descansar dias atrás. Fenir podia sentir, com as narinas fundas, que os malditos ali estiveram. Ordenou aos esqueletos e Ykans que seguissem pela trilha ainda visível dos desgraçados. O cajado brilhava numa intensidade nunca antes vista, e o fogo que saía das órbitas vazias do bode tornara à cor roxa.

Ykan ia no encalço das tropas, agitando uma faca de ossos dentre os dedos. Lembrava-se com ódio do gigante que o havia amedrontado, e desde então, fizera-o passar vergonha diante de seus homens. Lhe arrancaria o coração, para recuperar a dignidade perdida!


ZAYAN DO ESPAÇOWhere stories live. Discover now