EMBOSCADO

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Assim que caiu da estacada, Zayan encontrava-se dentro do território inimigo. Tudo estava escuro, com exceção das fogueiras distantes. Ele podia distinguir alguns duendes, cantando e dançando ao redor do alimento que faziam.

O homem do espaço saiu andando agachado, com muita cautela. Escondia-se atrás das cabanas, escutando com atenção antes de dar o próximo passo. Em dado momento, começou a escutar vozes; mas não eram vozes esganiçadas e cruéis, como as dos degenerados. Pertenciam a gargantas humanas, não muito distantes.

Zayan andou por mais um tempo, até finalmente perceber onde estavam seus companheiros. Encontravam-se ao lado de uma fogueira bem alta, iluminados por sua luz alaranjada. Uma gaiola de madeira os cercava, e seus braços e pernas haviam sido atados por cordas espessas. Seus rostos estavam cheios de terror, principalmente o de Levi. O homem, antes alegre e vigoroso, não passava agora de uma face completamente destruída pela vergonha e violência. O rosto, sujo e cheio de lágrimas secas, voltava-se para a fogueira, a esperança abandonada pelos olhos pacatos.

Zayan olhou para os lados, e ao reparar que os guardas estavam festejando com o restante, saiu das sombras.

— Você? — sussurrou Levi, incrédulo. — Pensei... pensei que estivesse morto...

— Não temos tempo para isso agora — disse Zayan. — O importante é que vocês saiam daí.

Os outros prisioneiros nada disseram; ao invés disso, permanecerem perplexos e vidrados naquele grande homem, que ergueu a lança para quebrar a gaiola.

Entretanto, os ruídos produzidos despertaram a atenção dos guardas, que logo voltaram os olhares amarelados para o homem do espaço. Zayan notou-os, mas não parou o que fazia, partindo a gaiola de modo que seus companheiros pudessem fugir.

— Corram e escalem as paliçadas — disse Zayan.

— E quanto a tu? — disse Levi.

— Vou retardá-los.

— Não! Ficarei aqui com você!

— Cale-se! É o único que pode conduzi-los com segurança para a vila de Alice. Não me decepcione, e saia correndo agora mesmo.

— Eles o matarão, Zayan! Como poderei viver com minha consciência após isso?

— Diga a ela que mandei um abraço. — Sem mais palavras, ele voltou-se contra os inimigos. Os duendes já se haviam organizado em dezenas, avançando com as tochas erguidas, em busca de ver o que se passava com clareza. Encontravam-se quase a ponto de reparar na fuga, quando Levi finalmente tomou a decisão de evadir.

Antes que pudessem ser percebidos, escalavam as estacadas, embrenhando-se na segurança do negrume das árvores. Como o combinado, apenas Zayan permaneceu, a lança firme dentre os dedos.

Focalizava com grande ódio os desgraçados que se aproximavam a cada segundo, sentindo o cheiro pútrido de seus corpos.

Finalmente se aproximaram o suficiente, as chamas das varas balançando na brisa da noite.

— Um único homem! — disse um deles, rindo.

— Mas onde estão os prisioneiros?

— Ele os soltou! Fugiram!

— Matem e esquartejem esse maldito!

Eles não perderam mais tempo falando, e avançaram numa onda de facas e espadas. Zayan defendeu-se delas com a lança, aparando as estocadas enquanto ia para trás, recuando até as cercas.

Resistia bem, e já havia matado um bocado de degenerados, alguns corpos ainda estrebuchando no solo, com os últimos resquícios de vida. Porém, a quantidade de inimigos era tamanha, que seus braços foram-se cansando, e um amontoado de demônios estava sobre ele.

Sua lança havia caído e partira-se em dois, enquanto os braços e pernas foram atados por cordas extremamente duras. Zayan ouvia apenas os malditos resmungarem, e cuspirem em seu rosto.

— Vamos, comecem a estripá-lo!

— Deem-me a faca de javali.

— Posso sentir o gostinho da carne dele em minha boca. Vai pagar com a alma pelos que matou.

— Parem já com isso! — gritou uma voz.

Os duendes soltaram um grito de espanto, e muitos afastaram-se de Zayan, abrindo um espaço em meio à multidão, permitindo que ele visse quem pronunciara aquelas palavras.

Era Walros, o rosto imponente e brutal erguido acima das cabeças de seus lacaios.

— Ele pertence a mim! — exclamou. — E irei torturá-lo esta noite, até que sua mente se esqueça de quem é!

ZAYAN DO ESPAÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora