RESGATE RELÂMPAGO

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Zayan, como já descrito, em nada se encontrava confortável. O ódio apenas crescia em seu peito, e sua velocidade aumentava a cada novo passo. No momento em que Alice havia sido submetida às terríveis garras dos Ykans, que iriam levá-la a seu triste fim, o homem do espaço dava de encontro com as muralhas imponentes do castelo roxo.

Com a determinação que tinha no peito, o imenso muro não o abalou; juntando as forças do corpo musculoso, galgou os tijolos da proteção, o queixo levantado para cima. Ao chegar na metade do caminho, escutou um grito feminino. Arregalou os olhos, pois reconhecia aquela voz. Era Alice, e estava em perigo!

O estrangeiro apertou ainda mais a velocidade, avançando às escaladas feito um aracnídeo. Finalmente chegou ao topo, descendo com um salto ligeiro e perfeito. Caiu no chão sem sequer arranhar-se, o que seria impossível a qualquer ser humano comum.

Alguns guardas o viram, mas não tiveram tempo de dizer qualquer coisa, ou tocar as trombetas; o homem do espaço lhes cortou as cabeças com o machado. Em seguida, correu na direção das lamúrias de sua amada.

Já podia vê-la, em meio aos campos de plantações repletos de barracas. O momento era bem aquele em que o servo Ykan erguia o machado, e já o descia pelo vento.

Tão rápido quanto um trovão, o estrangeiro pôs o rifle nos braços, e disparou sem nem fazer grande mira. A bala atingiu a cabeça do carrasco, reduzindo-a a uma explosão gelatinosa. Assim que o cadáver sem rosto tombou, os outros inimigos ao lado olharam na direção de Zayan.

Ykan rosnou, e logo ordenou que atacassem o humano. Não fazia ideia de como aquele desgraçado havia retornado dos mortos. Alice, mesmo na situação deplorável em que se encontrava, conseguiu sorrir. O grande guerreiro estava vivo, e viera resgatá-la.

Levi, por outro lado, ao perceber a presença do companheiro, deu jeito de estimular-se e pôs-se de pé. Dois miseráveis Ykans perceberam seus movimentos, e tentaram espetá-lo com suas lanças pontiagudas. Mas o bruto havia-se avivado de moralidade, e agarrou-lhes as ferramentas, partindo-as com os braços grossos. Em seguida socou os dois pequenos na cabeça até que a vida corrompida que tinham os deixasse.

Zayan finalmente deu de encontro com Ykan. Cercado por servos aliados, o chefe evitava chegar perto do homem do espaço. Fingia para si mesmo e para seus homens ter coragem naquele momento, mas a verdade é que a suposta imortalidade daquele ser gigantesco o assombrava. Lembrava-se bem de vê-lo ser atingido por sua lança, tão grossa quanto os braços dele! Entretanto, de algum lugar o estrangeiro tinha retornado, e sua ira lhe resplandecia o semblante.

Desesperado, o chefe desistiu de passar-se por alguém corajoso, e gritou aos servos que o defendessem, indo tremer-se enquanto corria. Zayan viu adiante de si uma boa quantidade de inimigos, sem se abalar por um momento sequer.

Os Ykans vieram, mesmo que assustados, pois temiam mais a ira de seus mestres do que os punhos do homem do espaço. Este logo colocou-os para funcionar, golpeando com o machado de formas precisas. Os homenzinhos buscavam defender-se dos ataques, mas a força deles era tamanha, que assim que buscavam aparar a lâmina do machado, suas espadas eram cortadas em dois. A arma então atingia-lhes os buchos, fazendo-os cuspir o sangue sujo que existia em seus organismos.

Zayan deixou muitos cadáveres, e lutou por boa quantidade de tempo. Talvez mais de vinte inimigos tenham perecido a seus pés, antes que o restante dos desgraçados começasse a fugir, assim como a seu chefe.

Agora, o estrangeiro via apenas seus dois companheiros, ambos caídos no solo. Levi lhe sorria, as mãos calejadas pela luta contra os malditos que matara. Alice não conseguia falar; olhava para o guerreiro belo e alto que a salvara, esboçando qualquer impressão positiva que seu rosto fatigado sustentasse.

Zayan aproximou-se deles, e colocou a soberana sobre os ombros largos.

— Consegue andar, Levi? — disse ele.

— Acho que sim. — Ergueu-se meio trêmulo, mas logo fixou-se ao solo. — Mas não sei por quanto tempo...

O homem do espaço então entregou-lhe uma fruta repleta de sacarose, o que ajudou Levi a recuperar suas forças, apesar de estas ainda não se encontrarem completas. Fez o mesmo com Alice. Após nutrir-se do alimento, a soberana conseguia mexer os olhos de um lado a outro, mas ainda de maneira extremamente fragilizada.

Sem mais perder tempo com enrolações, os três partiram na direção da grande muralha. Assim que chegaram, Levi se perguntou como o estrangeiro conseguira escalá-la. Poupando-o, porém, de explicações demoradas, Zayan deixou Alice com o aliado, escalou a muralha numa velocidade impressionante e retornou com cipós. Jogou-os para os dois, e Levi pode içar-se por eles, chegando assim com facilidade lá em cima.

Para descer, Zayan colocou a ambos sobre os ombros extremamente fortes, e caiu num pulo firme. Mal haviam atingido o chão, quando ouviram o rufar de cornetas.

— Essa não — disse Levi. — É Fenir! Ele sabe que você está aqui, Zayan!

O homem do espaço nada disse. Ao invés disso, apenas fez sinal que prosseguissem caminho, e juntos, embrenharam-se na floresta.

Enquanto assim o faziam, o feiticeiro empunhava o cajado mágico, encarando a grande quantidade de tropas que comandaria para matar o desgraçado que invadira suas propriedades. Ykan lhe informara sobre tudo há não muito tempo, enquanto ele fazia uma refeição regada aos prazeres mais mundanos. O álcool que bebera deixava-o ainda mais colérico, e por isso, não tardara a enfeitiçar a maior quantidade possível de esqueletos.

Muitos desses terríveis mortos-vivos haviam se transformado em pó durante a última batalha. Entretanto, as reservas de Fenir ainda se mostravam muitas.

Após todos os preparativos, que foram tremendamente rápidos, o grande exército saiu dos portões, no encalço dos amaldiçoados que mereciam nada menos que a morte.

O feiticeiro ia no meio deles, o cajado de crânio de bode ardendo num fogo avermelhado e intensivo, os olhos reluzindo feito dois sóis.

ZAYAN DO ESPAÇOWhere stories live. Discover now