Capítulo 5

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Três dias haviam se passado, ninguém desceu aqui para me ver, me condenar, nem mesmo para me alimentar. Minha boca estava seca e meu estômago se revirava só de pensar em comida.

No primeiro dia eu chorei. Chorei de raiva e inconformada com o que tinha acontecido, eu sabia que não havia matado o rei, mas também não tinha como explicar aquela cena. Quando me acalmei, fiz uma pequena prece à Deusa, percebi o quanto gostaria da companhia de Alisha ou de Corbin alí.

No dia seguinte, tentei escutar quem mais estaria comigo, preso nas outras celas. A figura à minha frente não se mexia ou respondia às minhas perguntas. Não sabia por quanto tempo ele ou ela estava ali. Havíamos sofrido um ataque, isso era óbvio, mas se alguém foi preso, ninguém veio interrogar. Provável que estavam ocupados demais com o funeral do rei.

Hoje eu permaneci quieta, concentrada apenas em me distrair da fome e do frio que sentia. Tentei prestar atenção na baixa respiração que vinha do meu colega de cela, conferindo se ele estava de fato vivo. Minha visão já tinha se acostumado com o local e notei que ele fazia movimentos sutis para ajustar sua posição, deveria sentir os músculos formigar tanto quanto eu.

Dormir ali era horrível e muito desconfortável. O chão de pedra duro e irregular me fazia preferir ficar encostada na parede enquanto cochilava. Era nesse momento que eu escapava daquele lugar, com uma breve ilusão dos meus sonhos onde ainda me divertia com Corbin na cidade. Não durava muito tempo, já que os pesadelos insistiam em invadir qualquer tentativa de fuga minha, com Bardulf, Petrus e Elora me perseguindo.

O som de passos na escadaria me assusta, afasto ainda mais da parte da frente da cela. Conforme se aproximava, uma luz surgia, iluminando seu caminho. O corredor escuro e frio da masmorra ecoa com os passos pesados ​​e regulares do carrasco, cada batida reverberava nas paredes de pedra desgastadas. À medida que ele se aproxima da cela, o som ecoa como um tambor macabro.

O carrasco, veste um manto escuro e um capuz que dificulta ver seu rosto. Seu silêncio é opressivo, quase palpável. A figura sinistra segura uma tocha trêmula, cuja luz vacilante projeta sombras distorcidas pelas paredes e cria uma dança fantasmagórica de escuridão e claridade.

Dentro da cela, noto meu coração acelerado. Meus olhos apreensivos se fixam na entrada. A porta da cela range, abrindo-se devagar, a atmosfera torna-se quase insuportável. Ele entra, com a sua presença envolta em mistério e ameaça. Eu evito encontrar o seu olhar.

Ele vem em minha direção, desconecta meus braceletes das correntes presas à cela e me segura firme pelos braços para me arrastar para fora. Eu serei executada.

Não havia dúvidas disso, eu fui pega com a cabeça ensanguentada do rei em minhas mãos, era culpada e não havia nada, além da morte à minha espera. Meu coração acelera ainda mais com a possibilidade de que não viveria mais um dia, não descobriria o que realmente aconteceu, nunca mais veria Corbin ou Alisha, nem saberia quem dividia a cela comigo.

"Você ao menos teve sua vingança, o rei está morto". Por mais que esses pensamentos gritassem em minha mente, eu não me sentia melhor. Talvez, se eu tivesse lembranças de causar a sua morte, eu estaria mais feliz, mas o sabor dessa vingança não era bom. O gosto da traição ainda era amargo e estava em cada canto da minha boca.

Parei de escutar meus pensamentos ao perceber que não era levada pra cima. Olho para trás em direção ao segundo lance de escadas, por onde deveríamos ter subido para o meu julgamento.

- Para onde está me levando? - Sua expressão não muda e nem faz menção em me responder. - Eu deveria ser julgada pela corte, deveria estar lá em cima.

- Não se preocupe, vai ser divertido. Galen está esperando por você. - Um arrepio percorre o meu corpo. "Eu não vou ser executada?".

Vejo uma porta no final do corredor, com três homens postos ao lado de fora. Meu olhar vacila, reconheço o carrasco de Elora no meio dos dois guardas.

A Filha do InfortúnioWhere stories live. Discover now